Todos os dias, das 10 horas às 20 horas, drones levantam voo de um supermercado da Kroger, em Centerville, no estado de Ohio, levando mercadorias como produtos para bebês, medicamentos sem receita e alimentos comprados pelos consumidores.
O serviço, que funciona desde o dia 2 de julho deste ano, faz parte de uma parceria da empresa americana Drone Express com a Kroger, a segunda maior rede de supermercados dos Estados Unidos, atrás apenas do Walmart.
“As entregas via drones agora são uma realidade”, diz Beth Flippo, CTO da Drone Express ao NeoFeed. “Já fizemos centenas de entregas e acabamos de expandir nosso raio para 2 milhas.”
A Drone Express, uma startup que desenvolveu um drone para delivery que briga com serviços de gigantes como Amazon, Walmart, UPS e Google, acaba de receber um investimento de US$ 5 milhões liderado pela gestora GAA Investments, baseada em Weston, na Flórida, mas cujos seus sete sócios são brasileiros.
“Amazon, UPS e Walmart têm serviços exclusivos de entregas via drone”, diz Eduardo Borges, um dos sócio da GAA Investments ao NeoFeed. “A Drone Express está bem posicionada para oferecer os serviços para diversos clientes.”
Os recursos dessa captação vão ser usados para a Drone Express expandir suas operações de entregas via drones para mais locais. A startup negocia o seu serviço com uma empresa de fast-food e uma construtora.
A companhia também planeja aumentar a capacidade produtiva de sua fábrica. “Nossa instalação será uma das primeiras fábricas certificadas pela FAA (Federal Aviation Administration, a agência reguladora americana) para aeronaves não-tripuladas nos EUA”, afirma Flippo.
Hoje, o serviço operado pela Drone Express à Kroger, que fatura US$ 132 bilhões, é feito por pilotos. A startup, no momento, está em processo de certificação definitiva com a FAA para poder operar voos autônomos e a distância maiores. “Isso nos permitirá eliminar o número de pilotos necessários para realizar as entregas e reduzir consideravelmente os custos de mão de obra”, diz Flippo.
Esses foram alguns dos atributos que fizeram a GAA Investments a apostar na Drone Express, uma companhia que surgiu como uma divisão da Telegrid, empresa fundada há 35 anos, que fornecia sistemas para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e que, agora, está ganhando vida própria.
“A Drone Express tem uma tecnologia comprovada, um cliente para acessar o mercado, pré-certificação para operar e está encaminhando o processo de certificação definitiva”, afirma Borges. “A startup tinha vários méritos para corrermos um risco maior.”
E os riscos não são poucos. Gigantes da área de tecnologia e empresas de logística querem uma fatia desse mercado. A Amazon foi pioneira em apostar nesse conceito, apresentando, com grande fanfarra em 2013, nos Estados Unidos, seu serviço de entregas via drone. Mas até agora o serviço ainda não decolou (literalmente).
Os rivais, no entanto, parecem estar mais avançados. O Walmart, por exemplo, iniciou os testes, em 2020, de entregas via drones com a startup israelense Flytrex, na Carolina do Norte. Neste mês, começou um novo projeto-piloto com a DroneUp, em Arkansas.
A Alphabet, dona do Google, tem apostado na Wing, sua empresa de drones para entregas que fez da Austrália um laboratório de testes. Na cidade de Logan, a companhia já fez mais de 100 mil entregas. Os drones transportaram, por exemplo, mais de 10 mil xícaras de café, 1 mil pães e 1,2 mil frangos assados. A companhia opera também nos EUA e na Finlândia.
No Brasil, a Speedbird Aero, de Franca, no interior de São Paulo, recebeu autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em 2020, para testar a entrega de produtos via drones. Em março deste ano, anunciou parceria com a Mercedes-Benz para o desenvolvimento e a operação de um furgão que será usado como base móvel para a decolagem e o pouso de seus drones.
Todos estão de olho em cifras bilionárias. O tamanho do mercado global de entrega de pacotes via drones deve movimentar US$ 31,2 bilhões em 2028, tendo um crescimento médio anual de mais de 50% de 2021 a 2028, segundo a Fortune Business Insights.
Sete brasileiros e 15 investimentos
A Drone Express é o primeiro investimento de uma “nova safra” da GAA Investments. Até agora, a gestora fez 15 aportes em startups nos Estados Unidos, Chile, Brasil e Espanha. “A partir da Drone Express, a nossa tese vai ficar mais abrangente”, afirma Borges. “Vamos investir em empresas em fases mais iniciais.”
A meta é encontrar startups em estágio inicial, mas sem que a empresa esteja no PowerPoint. Assim como nos outros 14 investimentos já realizados, a GAA estrutura um veículo para cada aporte. A rede conta com mais de 140 investidores, a maioria deles brasileiros que moram fora do País. O alvo são empresas com base tecnológica com foco nos mercados B2B ou B2B2C.
Fazem parte do portfólio startups como a brasileira Digibee, que ajuda em transformação digital, e a insurtech chilena Betterfly, que recebeu também aporte de US$ 60 milhões liderado pelo Softbank.
A Robô Laura, uma startup brasileira que desenvolve inteligência artificial para a área de saúde, e a Selling Funding, uma companhia americana que fornece crédito a vendedores de marketplaces, também são investimentos da GAA, assim como a americana Fligoo, de inteligência artificial.
A gestora foi fundada em 2017 por Steve Chen e Geraldo Neto na Flórida. Chen foi dono de várias empresas de entretenimento e de marcas de luxo. Geraldo Neto foi um dos líderes do Gávea Angels, uma das primeiras associações de investidores-anjo do Brasil.
Logo em seguida se juntou a eles Eduardo Karrer, um executivo com passagem em empresas como Eneva, El Paso e Petrobras; Alcides Ferreira, que trabalhou no Santander, ABN Amro, HSBC e Citibank; e Ivan Avila, que atuou em multinacionais como Mercedes-Benz e White Martins.
Os últimos a integrar o time da GAA Investments foram Rudolph Ihns, que atuou em Eneva, Unisys e Arco Petroleum, e Borges, um executivo do mercado financeiro com passagens em J.P. Morgan, BankBoston e Santander – quando deixou o banco espanhol, ele era o head global de M&A da instituição financeira.
Agora, esse time pensa em novos voos. No futuro, não está descartado criar um fundo de venture capital tradicional de growth para investir nas empresas do próprio portfólio que vingaram.