Na batalha do crédito consignado privado, uma startup quer ganhar espaço em um mercado cheio de competidores – inclusive grandes bancos – com uma pegada que inclui empréstimo de dinheiro com saúde financeira.

E, por trás desse negócio, está um investidor que ganhou notoriedade no mercado de saúde. É Pedro Junqueira Moll, acionista e conselheiro da Rede D’Or, que investe na Zoox, na Accountfy, VeusSaúde, entre outras startups, através do PJM Investimentos.

Ele está fazendo um aporte, via Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), de R$ 10 milhões na TudoNoBolso, uma fintech de crédito fundada por Marcelo Ciccone, Camilla Clemente, Leonardo Graner, Rodrigo Torres e Henrique Antunes, executivos com experiência no Credit Suisse, Neon, Consigamais+, Citibank e HSBC, respectivamente.

O capital será utilizado para expandir a tecnologia da companhia, que atua no modelo B2B2C. A fintech disponibiliza crédito consignado privado e outras linhas de crédito a funcionários de companhias privadas ao mesmo tempo que pretende também oferecer consultoria financeira.

“O consignado foi criado para ajudar o colaborador a se organizar financeiramente. Hoje, ele precisa recorrer ao banco para conseguir esse dinheiro e, se estiver negativado, não vai ter acesso ao crédito”, diz Ciccone, fundador e diretor-geral da TudoNoBolso. “Antigamente, isso não era um problema do RH, mas um funcionário com questões financeiras é um funcionário infeliz e isso afeta diretamente o seu trabalho.”

O modelo de atuação da TudoNoBolso não tem custo para as empresas. E os funcionários, que pegam os empréstimos consignados, precisam ter um tempo mínimo de casa. Além disso, o limite de crédito de cada usuário corresponde a até sete vezes o valor do seu salário.

Dessa forma, a fintech cobra que a primeira parcela seja paga em até dois meses. O prazo para quitar o empréstimo é de cinco anos, debitado diretamente na folha de pagamento. Atualmente, a lei brasileira permite que o crédito consignado comprometa no máximo 35% do salário do funcionário.

Além do consignado, a companhia criou opções como adiantamento de salário para momentos de aperto dos funcionários, que podem ser solicitados diretamente pelo sistema da TudoNoBolso. “Em um momento de aperto, ele pode pegar R$ 500, pagar uma taxa e resolver o seu problema na hora”, diz o diretor-geral.

No momento, esse dinheiro “emprestado” está saindo de uma linha de crédito apartada, que em breve se transformará em um FDIC, que está sendo estruturado. “Conforme vai crescendo a nossa operação, nós conseguimos aumentar a nossa alavancagem e buscar mais investimentos”, diz Ciccone.

A TudoNoBolso entra na briga por um mercado bilionário. O saldo do crédito consignado atingiu R$ 653 bilhões em maio deste ano. Mas apenas 2% desse montante é proveniente do setor privado.

A briga será com nomes que estão estabelecidos nesse mercado, um espaço ainda pouco ocupado pelos grandes bancos. Um exemplo é a Neon, que fez aquisições de peso para aumentar a sua atuação na área de crédito privado, incluindo nomes como Consiga+, Biorc e Leve.

O PicPay seguiu o mesma caminho, com a aquisição da BX Blue, enquanto a Paketá, fintech que já nasceu para atuar diretamente nesse mercado e tem a Kinea Ventures entre seus acionistas, continua avançando em sua operação. Entre muitos outros nomes, a Creditas, uma das startups que mais captou no mercado nos últimos anos, também atua com consignado privado.

Apesar da presença desses players, o crédito privado no Brasil ainda está começando a se desenvolver. E a TudoNoBolso acredita que há ainda bastante espaço para para crescimento. Isso levando em consideração que existem 37,4 milhões de trabalhadores no setor privado com carteira assinada, enquanto os MEIs já são 21,7 milhões.

É exatamente no espaço inexplorado que a TudoNoBolso quer garantir um lugar ao sol. Nesta primeira etapa, a fintech mira as médias e grandes empresas. “O nosso investidor tem um portfólio de companhias muito grandes investidas e isso pode nos ajudar muito nessa fase de crescimento”, diz Ciccone.

Além do crédito, a TudoNoBolso vai oferecer outros benefícios como descontos em farmácias e parcerias de ensino com universidades dentro da plataforma da TudoNoBolso.

Desafios do consignado privado

A curto prazo, a fintech pode ter um desafio a enfrentar: a mudança de legislação. De acordo com o Ciccone, existe uma discussão no governo federal para mudar o formato do empréstimo consignado, facilitando o acesso por meio da carteira de trabalho.

A proposta prevê que o trabalhador tenha acesso ao crédito usando o aplicativo do FGTS Digital e com base na carteira de trabalho digital. Se aprovada, a medida deve valer também para MEIs e trabalhadores domésticos. Segundo o governo, cerca de 80 bancos já demonstraram interesse na novidade.

“O governo quer brecar o saque do FGTS e isso deve passar, gerando alguns impactos ruins para o segmento. Porém, ninguém sabe quando e se será aprovado. Até lá, o nosso negócio continua completamente igual”, diz o empreendedor.