Nos últimos três meses, a Lojas Renner começou a testar novas ferramentas de inteligência artificial dentro de suas marcas. O plano da varejista não é utilizar os recursos apenas no pós-venda, mas também como forma de tentar alavancar as vendas em seu e-commerce.

A tecnologia testada pertence à Connectly, startup americana que une marketing, inteligência artificial e WhatsApp e que opera no Brasil há pouco mais de um ano. Criada por Stefanos Loukakos e Yandong Liu – o primeiro foi diretor no Facebook, enquanto o segundo é ex-CTO da Strava –, a companhia acaba de levantar US$ 7,8 milhões em um aporte para se expandir no Brasil.

“Começamos em mercados em que os serviços de mensagens são onipresentes, como na América Latina e no Brasil, onde todo mundo se comunica no WhatsApp”, diz Loukakos, com exclusividade ao NeoFeed. “Mas as empresas não tinham as ferramentas adequadas para criar as campanhas de marketing ou para se comunicarem com os clientes.”

O investimento é liderado pela Volpe Capital, gestora criada por André Maciel, Milena Oliveira e Gregory Reider, e pela RX Ventures, o fundo de corporate venture capital (CVC) da Renner. "Para fazer esse investimento, mapeamos o setor e entendemos quais eram as soluções disponíveis, os planos de expansão, os mercados que o negócio pretendia atacar. A Connectly era a melhor opção", afirma Milena Oliveira, sócia da Volpe Capital.

A Connectly é a primeira investida da gestora em 2023 e se junta a um grupo de 11 outras startups. Entre elas estão Caju, Seedz e VTEX. “Ainda temos 60% de deploy para fazer”, diz Milena. “A gente teve bastante disciplina nos últimos anos e fizemos poucos investimentos. Achamos que seria oportuno esperar e a decisão foi acertada.”

Essa foi a terceira rodada de captação feita pela Connectly. Antes, a startup havia levantado US$ 9 milhões em rodadas pré-seed e seed junto a gestoras como Global Founders Capital, Unusual Ventures, Marathon Venture Capital, entre outras. Nenhuma delas acompanhou o round atual.

O que atrai os investidores ao negócio é o fato de que a Connectly desenvolve soluções de inteligência artificial voltadas para o conversational commerce – as vendas realizadas em aplicativos de chat como o WhatsApp.

Esse tipo de produto permite que um assistente virtual entre em contato com um cliente para oferecer um cupom exclusivo no dia do aniversário. Em uma função mais avançada, a ferramenta pode ser usada para oferecer itens semelhantes aos que foram deixados em um carrinho do e-commerce que o consumidor não completou a compra.

“Dentro da vertical de consumo, queremos investir em soluções que promovem o engajamento dos clientes”, afirma Gabriel Marcassa, sócio da Volpe Capital, que liderou o aporte na Connectly. “Além disso, é um caso de uma empresa internacional com presença relevante na América Latina, o que também se enquadra em nossa tese de investimento.”

Milena Oliveira fala sobre a postura cautelosa da Volpe Capital na hora de investir

Fundada em 2021, a Connectly já opera em 10 países e tem 250 clientes. O Brasil é o principal mercado e responde por 30% a 40% da receita – que não é revelada. São cerca de 120 empresas atendidas no país. Entre elas, além da Renner, a startup já prestou serviços para companhias como Malwee, Outback, Daki, entre outras.

Para ganhar dinheiro, a startup opera em um modelo de software as a service (SaaS). São três planos oferecidos e que custam US$ 20, US$ 80 ou US$ 299 por mês e que variam de acordo com a demanda da empresa em relação ao número de conversas que deseja criar no período.

A Connectly tenta ganhar espaço em um mercado que conta com players como a americana Yalo, que já levantou US$ 73 milhões em investimentos de gestoras como Bossa Invest (ex-Bossanova), Endeavor Catalyst, Sierra Ventures e B Capital Group. No Brasil, uma rival é a Omnichat que já levantou R$ 20 milhões junto a Kaszek e Honey Island Capital.

Stefano Loukakos, CEO da Connectly

Com o capital obtido nesta rodada, a Connectly pretende investir na estratégia de go to market na América Latina e avançar no aprimoramento de suas técnicas de inteligência artificial generativa – quando a tecnologia é capaz de criar conteúdo e não apenas responder a comandos para quando o usuário escolhe um ou outra opção.

“Oferecemos algo que outras empresas não fazem, que é a capacidade de utilizar esse tipo de inteligência artificial para construir campanhas de marketing e responder às perguntas dos clientes”, afirma Loukakos.

O investimento também abre de vez as portas da companhia para a Renner, que deve assinar um contrato para o uso efetivo das ferramentas da Connectly em seus negócios. Nos últimos meses, a varejista apenas realizou testes com as ferramentas da startup.

“Selecionamos uma base para realizar testes em várias marcas, como Camicado e YouCom”, diz Analu Partel, head de novos negócios da Lojas Renner. A empresa não revela detalhes dos resultados até agora, mas diz que a taxa de abertura das mensagens ficou entre 70% e 80%.

A Renner vem tentando impulsionar suas vendas digitais. No segundo trimestre, essa frente teve GMV de R$ 595,8 milhões – o que representa 14,9% do GMV total da companhia. Em relação ao WhatsApp, as vendas da Camicado, por exemplo, passaram de 1% para 4,5% entre 2020 e 2022 e a expectativa é aumentar para entre 8% e 10% em 2025.

Do lado dos investidores

O aporte na Connectly marca a segunda vez que a RX Ventures alocou capital em uma startup criada fora do Brasil. Antes disso, em maio, a gestora investiu um valor não revelado na Radar, retailtech americana de soluções para controle de estoque e movimentação de pontos de venda.

“A gente pode investir em startups de fora do Brasil, desde que tenham negócios que sejam aplicáveis ao país”, diz Analu. A RX Ventures já alocou pouco mais de R$ 150 milhões em novos negócios. No radar estão startups que atuam com e-commerce, moda e lifestyle, supply chain e marketing.

Do lado da Volpe Capital, a gestora pretende fazer mais quatro investimentos com seu fundo para totalizar 15 empresas na carteira, com cheques que podem variar de US$ 5 milhões a US$ 15 milhões..

O alvo dos próximos investimentos da gestora são empresas da da área de e-commerce, além de segurança digital, fintechs e agricultura.