O Bradesco Vida e Previdência, maior player privado de previdência com R$ 340 bilhões sob gestão, resolveu entrar no páreo na disputa para consolidar o setor das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs), um segmento com  250 entidades e R$ 1,2 trilhão sob gestão.

“O custo regulatório ficou maior e esse é um mercado que vai ter que se consolidar. Avaliamos que fazia sentido ser um dos consolidadores pelo ganho estratégico desse segmento e pelas sinergias com outras áreas do banco”, afirma Estevão Scripilliti, diretor da Bradesco Vida e Previdência, em entrevista ao NeoFeed.

O objetivo do Bradesco é prospectar fundações que entendam que é melhor terceirizar esse serviço por não terem chegado a um tamanho para bancar as novas demandas regulatórias do setor, que aumentam os custos. No foco estão planos com entre R$ 200 milhões a R$ 600 milhões, mas planos maiores devem ser também abordados.

Dessa forma, a Bradesco pretende dobrar a sua carteira de previdência complementar fechada dos atuais R$ 15 bilhões (atendendo 250 grupos econômicos e quase 300 mil participantes) em até 10 anos. Nos últimos meses, dois planos - de uma mineradora e de uma transportadora - já foram conquistados e estão sendo incorporados, totalizando R$ 1,5 bilhão sob gestão.

Para ser competitivo neste mercado, o Bradesco viu que precisava entregar uma melhor experiência tanto para as empresas como os participantes. Para isso, a seguradora investiu nos últimos dois anos quase R$ 12 milhões para reestruturar a sua plataforma, que será entregue na virada deste ano.

Outro trunfo é oferecer taxas de administração competitivas. Na maior parte dos planos, o custo pode variar de 0,25% ao ano a 0,50% ao ano, a depender da complexidade e tamanho dos planos e do relacionamento da empresa com o banco.

Isso é possível porque a área de previdência é estratégica não só por gerar lucro em si, mas por estreitar e fidelizar o relacionamento com as grandes empresas e gerar a oportunidade de cross selling, por ser um produto de longuíssimo prazo, em áreas como folha de pagamentos, plano de saúde e até mesmo crédito.

Estevão Scripilliti, diretor da Bradesco Vida e Previdência
Estevão Scripilliti, diretor da Bradesco Vida e Previdência

“O banco tem muita clareza de que a previdência é um dos melhores instrumentos de fidelização para os clientes tanto pessoa física quanto jurídica. Uma vez que eles entram ficam décadas e isso estreita outros relacionamentos e gera outras receitas”, afirma Scripilliti.

Um mercado trilionário em transformação

O setor das Entidades Fechadas de Previdência Complentar (EFPCs) representa mais de 10% do PIB, com R$ 1,2 trilhão sob gestão, mas a maior parte está concentrado em grandes fundações estatais, como as três maiores: Previ, Petros e Funcef. E cada vez menos empresas têm lançado sua previdência própria, com o crescimento do mercado de PGBL e VGBL, que oferecem uma solução mais econômica para as empresas.

As empresas que já possuem a estrutura e não conseguiram escala estão aderindo aos modelos multipatrocinados, em um grande movimento de consolidação. Das 234 entidades associadas da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), 124 tem mais de R$ 1 bilhão sob gestão – dando um mercado endereçável para consolidação de mais de R$ 40 bilhões.

Outro ponto positivo para a indústria é que no início deste ano foi aprovada a adesão automática dos funcionários aos planos de previdência. Antes o empregado tinha de pedir para entrar no fundo de pensão da empresa. Agora, ele entra automaticamente e tem de pedir para sair.

Isso foi um ganho muito importante para o fomento deste setor, que carece com a falta de educação financeira da população. Lembrando que as empresas dão uma contrapartida a mais a cada contribuição nesses planos, sendo de fato um benefício para os empregados.

Além disso, o novo marco regulatório do setor possibilitou a escolha do regime tributário (progressivo ou regressivo) no resgate e não na adesão do plano, diminuindo o atrito de escolha para entrar. Além disso, as seguradoras podem assumir o risco de longevidade, que travava o apetite pelo benefício.

O Bradesco, no entanto, não é o único que está vendo esse pote de ouro. Outras entidades estão disputando esse mercado. A principal delas é a Vivest (ex-Funcesp, fundo de pensão dos funcionários da CESP), a maior entidade fechada de previdência complementar de capital privado do país com mais de R$ 38 bilhões sob gestão, que iniciou a estratégia de incorporar planos de empresas privadas em 2019.

No segmento público, há outras fundações consolidadoras, como a Prevcom, com cerca de R$ 3,5 bilhões sob gestão. Ela incorporou a gestão dos planos de previdência dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. E a BB Previdência, com cerca de R$ 8,5 bilhões sob gestão, que recentemente ganhou o regime complementar do Rio Grande do Norte.

Mesmo com essa competição, isso é considerado vital no Bradesco Vida e Previdência, pois não há outra área, como a previdência fechada, com potencial de dobrar de tamanho em 10 anos.

“O setor passou por mudanças regulatórias recentes que irão no curto prazo trazer mais CPFs para os mesmos planos. No futuro, pode vir a fomentar a formação de novos planos. O que é uma grande oportunidade de crescimento que queremos capturar”, afirma Scripilliti.