Os fundos de pensão tiveram um ano incrível e conseguiram respirar mais aliviados após três anos de resultados insatisfatórios. Segundo estudo da consultoria Aditus, com 127 fundações que administram juntas R$ 318 bilhões distribuídos em 448 planos de benefícios, 88% dos planos fecharam 2023 acima de sua meta atuarial, que está em cerca de IPCA+5%.

Esse foi o melhor resultado desde 2017, quando 94% da amostra pesquisada alcançou a meta. Em 2022, 29% bateram a sua meta; em 2021, apenas 7%; e em 2020, 13%. O resultado é fruto de uma alocação conservadora, porém acertada, na renda fixa, e uma queda na inflação.

“Foi um ano muito bom para o sistema, que vinha de anos muito ruins e precisava mostrar resultado. Teve a ajuda da queda da inflação, que diminui o valor nominal das metas atuarias, mas também foi um período de juro real ainda alto e que no fim até mesmo a bolsa andou”, afirma Guilherme Benitez, sócio da consultoria Aditus.

Os planos de Benefício Definido (BD), que garantem um valor futuro de aposentadoria e estão em vias de extinção, aproveitaram para comprar NTNBs a taxas acima de 6% e travar pagamentos futuros. Por isso, 90% da alocação deles ficou em renda fixa no fechamento do ano. Mas isso não foi muito diferente nos planos mais novos. Os planos de Contribuição Definida (CD) e Contribuição Variável (CV) fecharam com 84% e 85,5% em renda fixa, respectivamente.

O Postalis, por exemplo, fundo de pensão dos funcionários dos Correios com cerca de R$ 12 bilhões sob gestão, teve os melhores resultados dos últimos anos. O Plano de Benefício Definido (PBD) rendeu o equivalente a 184% de sua meta atuarial, com 47% da carteira alocada em títulos públicos, e o de Contribuição Variável (CV) 197%, com 79,7% alocado em renda fixa.

Assim como a Prevcom, fundo multipatrocinado de servidores públicos com cerca de R$ 3 bilhões sob gestão, que obteve 141% de retorno em relação à sua meta atuarial de 4% ao ano mais IPCA.

“Ao longo de 2023 não aumentamos investimentos em classes de riscos. Todos os recursos novos foram investidos em renda fixa, que corresponde atualmente a 82% da carteira. E continuamos com cautela neste ano”, diz Francis Nascimento, diretora de investimentos da Prevcom.

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Francis Nascimento, diretora de investimentos da Prevcom

Em uma média geral de planos, a renda variável ocupou em média 6,16% dos portfólios, seguido por multimercados (4,64%), exterior (1,56%) e imobiliário (0,36%).

Apesar disso, a maior rentabilidade veio da renda variável, que rendeu 21,15%, em média, no ano nas carteiras das fundações. Em seguida vieram a renda fixa (12,44%), investimento no exterior (12,43%), imobiliário (14,06%), e por fim, os fundos multimercados (6,85%).

Na BB Previdência, com R$ 8,4 bilhões de ativos sob gestão, a meta dos 42 planos previdenciários que administra foi superada, com rentabilidade consolidada acumulada foi de 13,04% versus 7,96% do seu índice de referência. A rentabilidade de 2023 ajudou a superar, inclusive, a meta acumulada dos dois últimos anos. E isso se deve a uma boa alocação de investimentos.

“A renda fixa ajudou, mas o destaque ficou com a renda variável diante da melhora das expectativas para o Brasil, com a inflação em queda, níveis recordes do superávit comercial e PIB em expansão. Tivemos um retorno acumulado de com retorno acumulado de 21,06% no ano nessa classe”, afirma Kliver Godoy, gerente de investimentos da BB Previdência.

O fator "perfil de risco"

Não dá para colocar a culpa do conservadorismo apenas nos gestores das fundações. Hoje, cerca de 60% dos planos CDs possuem perfis de investimento para o participante escolher se quer correr mais ou menos risco na carteira. Na amostra pesquisada, 42,34% dos participantes optaram por planos com menos risco, que não investem em renda variável. E 35,45% optaram por um plano mais moderado, que permite a alocação em renda variável em até 20%, seguidos por apenas 23,21% que optaram pelo perfil com maior risco.

Por enquanto, não há indícios que 2024 será muito diferente. A Fundação Copel, com cerca de R$ 14 bilhões sob gestão, teve uma alocação média de 80% em renda fixa rentabilidade de 11,32% contra 8,93% da meta atuarial no BD, e 11,25% contra 8,84% da meta atuarial do CV e pretende manter a estratégia.

“Continuamos buscando a maior rentabilidade para os planos dado o nível de risco que consideramos ideal. Portanto, as alterações nos portfólios para 2024 serão marginais, com manutenção das estratégias. As principais diferenças deverão ser uma alocação numa nova estratégia que busque maior rentabilidade ao caixa”, afirma o diretor Ruben Doege.

Mas algumas fundações, por terem diminuído demais a alocação ao risco, estão avaliando aumentar. É o caso da BB Previdência.

“Há muito espaço para investir em ativos de maior risco dentro dos limites estabelecidos pela Política de Investimentos. Estamos estudando essas alocações em alguns desses segmentos, não em todos, não de uma vez só, mas já está iniciando esse trabalho”, diz Kliver Godoy.

Mas isso dependerá de como o mercado internacional e local evoluírem. Para Leonardo Mandelblatt, diretor de Investimentos da Fapes, fundação dos funcionários do BNDES com cerca de R$ 16 bilhões sob gestão, a análise é que há espaço para aumentar riscos se não houverem surpresas do cenário esperado.

“Vemos espaço para aumento de exposição a riscos em 2024 dada perspectiva de corte de juros no Brasil e nos Estados Unidos, com PIB surpreendendo com alta acima do esperado, melhora no ambiente fiscal no País, contas públicas e inflação mais controladas", diz Mandelblatt.

Ele complementa: "Entretanto, é preciso haver uma melhoria acima das expectativas, dado que já estamos posicionados para este cenário. Esta visão construtiva permite a manutenção das posições mesmo após recente reprecificação”.