No mercado de gestão e assessoria de investimentos, existem alguns mercados mais fechados para marcas “forasteiras”. Um deles é Curitiba, a capital paranaense, onde poucas empresas criadas fora da cidade conseguem prosperar. É essa barreira que a Blue3 acabou de quebrar.

A assessoria de investimentos criada por Wagner Vieira e Leone Cabral em Franca, no interior de São Paulo, em 2009, adquiriu a Únimo Investimentos, criada em 2018 por Jorge Marcondes e Gabriele Barbosa e também credenciada à XP. Hoje, além de Marcondes e Barbosa, a assessoria de Curitiba tem como sócios Camila Soldera, Ricardo Nazario e Tathiane Yaros.

A operação acrescenta R$ 2 bilhões em ativos sob custódia e 22 assessores ao grupo, consolidando-o como um dos maiores da rede XP, com R$ 36 bilhões sob custódia e 40 mil clientes. A meta da Blue3 é chegar aos R$ 100 bilhões até 2027.

Entre as principais operações da XP, a Blue3 era, até então, a única das top três que não estava em Curitiba. A Monte Bravo e a Fami têm escritórios na cidade.

"Sempre tive um desejo de ir para Curitiba, que é o quinto maior PIB do Brasil", diz Vieira, sócio-fundador e CEO da Blue3, ao NeoFeed. "E a melhor maneira de entrar numa praça é comprando uma operação local."

A estratégia não é nova para a Blue3. A empresa já realizou aquisições semelhantes para expandir sua presença em Ribeirão Preto e Uberlândia, por exemplo. Com a chegada a Curitiba, a casa de investimentos passa a estar presente nas seis principais capitais do país em termos de PIB: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Goiânia e agora a capital paranaense.

A aquisição da Únimo seguiu o modelo mais comum nas transações da Blue3. Metade do valor foi pago em dinheiro e metade em participação societária na casa. O valor não foi revelado. A XP, que é sócia da Blue3 e detém 42% das ações do escritório de assessoria de investimentos, deu o aval para a transação.

"Para você ter uma noção, teve operação que a gente comprou 70% [em participação] e 30% em dinheiro. Tem muita operação que prefere equity", diz Vieira.

O plano da Blue3 é chegar a R$ 40 bilhões sob custódia neste ano. Para isso, a empresa mantém conversas com outras casas menores. Nos últimos anos, a empresa fez sete incorporações bem-sucedidas, com todos os fundadores originais mantidos na operação.

Esse movimento da Blue3 ocorre num contexto de intensa disputa por assessores qualificados e pela diversificação das receitas. No início de maio, a Acqua Vero e o Grupo SWM, ligadas ao BTG Pactual, anunciaram a fusão de suas operações e consolidaram R$ 14 bilhões sob custódia.

Embora esse mercado esteja em um período de maturação das operações, esses dois movimentos podem ser o início de uma nova fase de consolidação de de assessoria de investimentos, que viveu um boom de M&As entre 2018 e 2022.

"Ficou muito difícil criar essa estrutura que a gente criou. A gente vem construindo há sete anos", diz Vieira CEO. "Hoje, a maioria dos escritórios tem ROA de 0,4%." O retorno sobre ativos (ROA) da Blue3 é de 0,8%.

Wagner Vieira, sócio-fundador e CEO da Blue3
Wagner Vieira, sócio-fundador e CEO da Blue3

Para o sócio-fundador da Blue3, as assessorias de investimento menores têm duas opções: ficam como cooperativa, em que todo mundo é sócio com participação igual, porém diluída. "Ou se incorporam a alguém que já tem toda essa estrutura que vai fazer bem para o time", afirma Vieira.

Diversificação de receitas

A Blue3 vem buscando diversificar seu ecossistema e suas fontes de receitas. Até 2023, cerca de um terço do dinheiro vinha de áreas fora da plataforma, como seguros, consórcios, corporate, planejamento patrimonial e da operação offshore. No ano passado, metade do faturamento da casa já veio de linhas de negócio além dos investimentos tradicionais.

"Metade do comissionamento do mês de um assessor, hoje, na Blue3, vem de outras linhas de receita. O cara está muito mais independente do investimento", diz Vieira.

Em maio do ano passado, a Blue3 adquiriu a assessoria especializada em mercado de capitais M Capital Investimentos, que possuía R$ 5 bilhões em investimentos estruturados para integrar uma nova área de mercado de capitais na Blue3.

A ideia era que grande parte dos produtos de mercado de capitais fosse distribuída com exclusividade aos clientes da Blue3 por meio do escritório de investimentos e também do multi family office Troon Capital (adquirida em novembro de 2023).

Além dessa esteira de DCM (Debt Capital Markets), com originação de produtos próprios, entre as unidades de negócio da Blue3 está um RIA (Registered Investment Advisor) nos Estados Unidos, que gerencia mais de R$ 2 bilhões offshore.

Mesmo com as dificuldades atuais do mercado, com a taxa de juros na casa de dois dígitos, a Blue3 capta cerca de R$ 1 bilhão bruto por mês, com média de R$ 3 milhões por assessor.

"O grosso do dinheiro dos investimentos ainda está nos bancões. Tem muito cliente mal atendido, com rendimentos baixos, sem diversificação. Temos que olhar para esse mercado e continuar crescendo", diz Vieira.

Atualmente com 350 profissionais, a casa pretende contratar mais 200 assessores até o fim do ano. Só no primeiro quadrimestre, já foram 25 novos assessores sêniores vindos de bancos. E a compra da Únimo vai adicionar 22 profissionais a esse número.

Atualmente, a Blue3 conta com 98 sócios, sendo alguns deles "associados" – profissionais com participação menor que 0,1%. A casa desenvolveu um sistema para a elegibilidade de novos sócios baseado em performance.