Leonardo Calixto, CEO da gestora Empírica Investimentos, lembra bem dos primeiros dias de janeiro do ano passado. A Americanas, que divulgou um rombo bilionário, foi o estopim de uma crise que trouxe consequências duras para o mercado de crédito privado, que praticamente secou no primeiro semestre de 2023.
Calixto, cuja gestora atua com fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDCs) e tem R$ 8,8 bilhões sob gestão, gosta de se referir ao primeiro semestre de 2023 como “o pior período para renda fixa dos últimos 20 anos.”
Um ano depois, o vento parece que mudou para o mercado de crédito privado. E a Empírica está deixando o “efeito Americanas” para trás. Em apenas 60 dias, a gestora concluiu a captação de três FIDCs que somados chegam a R$ 530 milhões, o que representa mais de 50% do volume que levantou no ano passado.
“O pior do efeito Americanas já passou”, diz Calixto, ao NeoFeed. “O fluxo de dinheiro está voltando. Mas é dinheiro novo? Não, é realocação em função do cenário e da queda dos juros.”
O primeiro FIDC é para a Open Co, fintech fruto da fusão da Geru, Rebel e BizCapital. Ele é de R$ 60 milhões e tem um risco maior, pois a Open Co faz empréstimos sem garantias.
A captação foi feita com multi-family offices com os quais a Empírica mantém relacionamentos e contou também com um cheque de um grande banco. A cota sênior paga CDI + 5,5% e a mezanino CDI + 7%. A diferença é que a cota sênior possui preferência no recebimento do valor do resgate ou da amortização.
Os dois outros fundos foram para a Futuro Previdência, empresa gaúcha que atua com consignado público federal do Siape (Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos) e das Forças Armadas. Trata-se, portanto, de uma carteira com menos riscos.
O primeiro deles captou R$ 170 milhões e contou com fundos de assets e bancos, como BTG, Compass, Ibiúna e Absolute. Nesse FIDC, a cota sênior paga CDI + 3,5% e a mezanino, CDI + 7%.
O segundo FIDC para a Futuro Previdência levantou R$ 300 milhões em apenas três semanas. “Nesse entrou só peixe grande”, diz Calixto. “Temos um cheque de mais de R$ 100 milhões.”
Os nomes ainda não podem ser divulgados, pois a captação não está 100% concluída. Mas, nesse FIDC, entraram gestoras grandes, com mais de R$ 10 bilhões sob gestão. A cota sênior paga CDI + 4% e a mezanino, CDI + 6%.
Essa rápida captação acontece em meio a queda da taxa de juros. Embora ainda alta (está em 11,75% e deve ser inferior a 9% no fim de 2024), muitas gestoras precisam começar a se posicionar agora em busca de maior rentabilidade.
Esse comportamento tem beneficiado diversas classes de ativos, em função da disposição dos investidores de correrem mais riscos em busca de retornos melhores. Uma delas são os fundos imobiliários. Outra é o crédito estruturado, área na qual a Empírica atua.
“A economia pode impactar a ponta do crédito. Mas, na parte do passivo, é realocação diante de uma boa relação risco/retorno”, diz Calixto. “As gestoras vão buscar prêmios e quem paga mais yield, dentro da renda fixa, é o crédito estruturado.”
Diante desse cenário, a Empírica está estimando que deve fechar 2024 com R$ 10,5 bilhões de ativos sob gestão. Em 2023, ela saiu de R$ 9,1 bilhões para R$ 8,8 bilhões. A queda pode ser explicada pelo pagamento de R$ 1,25 bilhão aos cotistas do Lotus IPCA e do Lotus DI, dois fundos voltados ao varejo que tiveram alta taxa de resgate.
Por conta do volume de pedidos, que cresceu com a crise da Americanas, a Empírica fechou os dois fundos para resgate e fez um cronograma de pagamentos. Em 2024, a gestora ainda tem aproximadamente R$ 550 milhões para pagar aos cotistas dos dois fundos, o que significa que, para chegar a meta estipulada para este ano, precisará captar R$ 2,3 bilhões.
E não foi só a Empírica que sentiu. Dados da Anbima, que representa as entidades dos mercados financeiro e de capitais, mostram que os FIDCs tiveram uma captação de R$ 38,7 bilhões em 2023, uma queda de mais de 16%. O tombo é ainda maior se comparado a 2021, quando essa classe de ativos levantou R$ 91,9 bilhões.