A Itajubá Investimentos, o mais antigo Third Party Distribution (TPD) brasileiro, fundado em 2007, decidiu criar um braço para atender o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) em um momento em que o segmento se profissionaliza e os gestores de recursos buscam investidores institucionais para sobreviver ao marasmo do mercado de varejo.

“Esse era o único segmento institucional que não estávamos. Vínhamos estudando e percebemos que ele evoluiu muito profissional e tecnicamente. Ainda há muito a evoluir, mas decidimos que era a hora de entrar”, afirma Carlos Garcia, sócio-fundador da Itajubá Investimentos, ao NeoFeed.

Para adicionar os RPPS aos seus clientes institucionais, hoje cerca de de 100 fundos de pensão, 100 family offices e 20 seguradoras, a Itajubá fez uma contratação de peso. Denise Nassar da Silva entrou em outubro para liderar a área de distribuição para RPPS. Ela traz a experiência em Banco Boavista, Banco BMC, Bradesco, Safra Asset, Eternum AAI e Magna AAI. Nos últimos 16 anos, este dedicada ao chamado "INSS dos servidores públicos".

Os RPPS eram, até então, esquecidos pelo mercado por serem considerados como um segmento sem sofisticação e, portanto, sem a possibilidade de vender produtos. Além disso, a confiabilidade era questionável em razão de alguns escândalos de desvio de dinheiro em prefeituras no passado.

No entanto, na visão da Itajubá Investimentos, houve um processo de profissionalização que mostra a transformação no segmento, que tem um grande mercado em potencial. Atualmente, são 2.338 RPPS distribuídos por todos os estados do País, com aproximadamente R$ 275 bilhões em investimentos. E com alta expectativa de crescimento nos próximos anos.

“É um mercado promissor. Eles são os fundos de pensão há 20 anos, e estão em transformação. Tem gente que se assusta com esse segmento, mas dá para ver como eles estão bem mais profissionais e estamos animados em explorar isso”, afirma Denise, a nova líder da área na Itajubá.

Parte dessa evolução do RPPS é o olhar para os gestores de recursos independentes. Como aconteceu com os fundos de pensão: antes só investiam nos grandes bancos públicos e depois também passaram a investir nos grandes bancos privados e, mais recentemente, estão avançando nos gestores independentes e enxergando valor.

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Carlos Garcia, sócio-fundador da Itajubá

Segundo a Itajubá, dos 15 gestores de recursos que eles representam (portfólio que possui nomes como Absolute, Ibiúna, Spectra, Giant Steps e Vista Capital), que juntos detém um total de R$ 150 bilhões sob gestão, apenas um prefere observar antes de avançar no mundo do RPPS. Todos os outros mostram um apetite alto para chegar nesse setor.

“Já trabalhamos com grandes gestores há muitos anos e eles estão entrando nessa porque conhecem a nossa diligência. Nosso maior risco é o de imagem, mas estamos juntando as melhores pessoas para sermos certeiros”, diz Garcia.

Ele acrescenta: “Muitos dizem que os RPPS são os fundos de pensão da década de 80. Mas eu acredito que a evolução deles será mais rápida, pois já tem um caminho a ser trilhado. Já vemos as condições regulatórias para isso”.

O INSS dos servidores públicos

Sistema de repartição que garante a aposentaria até o teto do INSS (hoje em R$ 7.507,49), cada ente federativo possui o seu RPPS, que tem um gestor para administrar os recursos e garantir as aposentadorias. Até recentemente, esses gestores se concentravam em comprar títulos públicos ou fundos de investimento extremamente conservadores de grandes bancos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal sempre lideraram esse mercado). Mas a queda na taxa de juros, desde antes da pandemia, mostrou que era necessária uma gestão mais sofisticada.

Aliado a isso, o segmento vem passando nos últimos anos por um processo de profissionalização, assim como aconteceu décadas atrás com as Entidades Fechadas de Previdência Complementar. Em 2015, iniciou-se um processo de certificação do setor, para levar boas práticas de gestão destinado a atestar a qualidade e a funcionalidade de produtos, serviços, processos produtivos, gestão ambiental, dentre outros.

O sistema, batizado de pró-gestão, teve sua versão aprovada na portaria nº3 de 31 de janeiro de 2018. Com os testes, os RPPS são classificados em quatro níveis, o que determina o tipo de sofisticação que tem, e assim, em que tipos de produtos podem investir. Apenas o nível IV (o mais alto) pode investir em fundos multimercados e private equity, por exemplo.

Hoje, apenas quatro RPPS possuem o nível máximo de certificação, os municípios de Jundiaí, Manaus e Guarujá e do Estado de Rondônia. No entanto, todos eles estão sujeitos a Resolução 4963, que restringe os investimentos do setor. Eles só podem investir em fundos condominiais e não podem investir em nenhum produto com exposição à CRI e CRA, por exemplo.

Há três entidades certificadoras: Fundação Carlos Alberto Vanzolini; Instituto de certificação de qualidade do Brasil - ICQ BRASIL; e o Instituto Totum de desenvolvimento e gestão empresarial. Eles dão uma nota para o RPPS que precisa ser retestada a cada três anos. O regulador do setor é o Ministério da Previdência Social.

A Itajubá Investimentos vai gastar a sola de sapato para visitar os RPPS pelo Brasil e levar as gestoras independentes. Essa é a especialidade da mais antiga TPD do País e explica a separação entre as distribuidoras HMC e Itajubá, ocorrida no início deste ano. Enquanto a HMC buscava focar em explorar o mercado internacional, a Itajubá queria continuar sendo a protagonista do mercado local -- estratégia que passa pelo bilionário mercado dos RPPS.