Por trás de toda emissão de um título de dívida ou da administração de um fundo de investimento existe um agente fiduciário. Embora seja uma das funções menos “glamourosas” da indústria, ele é responsável por dar segurança aos investidores sobre os ativos. E é nesse mercado que R$ 10 bilhões estão saindo das mãos da Warren em direção à Vórtx.

A empresa criada por Juliano Cornacchia e Alexandre Assolini está assumindo a administração fiduciária dos fundos de investimento próprios e de terceiros da Warren. Com esse negócio (que não envolveu dinheiro), a Vórtx terá quase 350 fundos e um montante próximo a R$ 50 bilhões de assets under administration (AUA) - 70% ainda de fundos ilíquidos.

“Esse é um passo importante para nós na direção dos fundos líquidos, um mercado que entramos só no fim do ano passado e queremos disputar com os grandes”, diz Cornacchia, cofundador e CEO da Vórtx, em entrevista ao NeoFeed.

A administração de fundos de investimento no Brasil também é um business dominado por grandes players. De pouco mais de R$ 8 trilhões da indústria, Banco do Brasil, BTG, Caixa, Itaú (mais Intrag) e Bradesco (mais Bem) concentram 65% do mercado. “Esse mercado ainda é muito analógico e existe espaço para explorar com tecnologia”, afirma Cornacchia.

Criada há oito anos como uma infratech para oferecer esse tipo de serviço para o mercado de capitais, a Vórtx domina o segmento de ilíquidos. Nas emissões privadas de renda fixa, a empresa detém quase 80% das debêntures, CRIs, CRAs entre outros títulos lançados. Nesse segmento corporate, são R$ 600 bilhões em ativos em sua plataforma.

“Mesmo sendo o pior ano de mercado desde 2008, com CDI ‘na lua’, duas guerras e o crédito se reestruturando, conseguimos crescer mais de 30%”, diz o CEO da Vórtx.

Para ele, como principal agente fiduciário do mercado e presente nas principais crises de crédito como Americanas, Azul, Hortifruti e Light, por exemplo, a tecnologia conseguiu ajudar os grandes distribuidores a realizar assembleias por WhatsApp e a ter um controle maior sobre os covenants (cláusulas contratuais de proteção aos credores).

“Conseguimos colocar 30 mil investidores da Light votando por WhatsApp e acompanhando a assembleia de credores online. Não é pouca coisa”, diz Cornacchia.

Não fosse a capacidade da tecnologia de ler e cruzar dados, o cofundador da Vórtx acredita que seria preciso um esforço enorme para entregar o mesmo resultado para o investidor. Só na companhia existem 5 mil séries de papéis registradas.

Para 2024, Cornacchia quer fechar  M&As. A Vórtx estava “ombro a ombro” na disputa pela Singulare Corretora, uma das maiores do mercado em administração com R$ 97 bilhões sob custódia e 960 fundos administrados (sendo 600 FIDCs). Mas perdeu a batalha para a QI Tech, que a comprou.

“Acredito que os valuations vão melhorar no ano que vem e tem muito negócio analógico que podemos transformar”, diz ele.

A saída da Warren

Enquanto a Vórtx faz a operação matemática da soma, a Warren completa a da subtração. Abrir mão de R$ 10 bilhões não parece ser uma tarefa simples, mas a plataforma decidiu concentrar esforços no wealth management, na criação e na distribuição de investimentos.

“O braço de 'admin-fidu' decidimos passar para a Vórtx para nos concentrarmos em fazer a pessoa física investir como um superrrico”, diz Tito Gusmão, CEO da Warren, para o NeoFeed.

Essa unidade de negócios, que tinha quase 40 pessoas e 70% do AUA de fundos próprios, foi criada para suprir uma necessidade interna. Ao se deparar com a forma analógica do preenchimento de cadastro do investidor, a gestão da Warren considerava que teria problemas com o público-alvo.

“Lá no início, começamos como uma gestora, mas o dono do cadastro do cliente é o administrador fiduciário. Como eu ia convencer o earlier adopter, o geek, a imprimir e preencher fichas? Então, decidimos ter o nosso próprio selo”, conta Gusmão.

O negócio ganhou corpo e escalou, inclusive com quase R$ 4 bilhões de outras gestoras. Como a Warren não quer ser um dos maiores do mercado de administração fiduciária, decidiu entregar para um independente.

Conforme revelou o NeoFeed, a plataforma fez de 2023 o ano da virada da queima de caixa para a rentabilidade. Após alcançar o breakeven no primeiro semestre, a Warren projeta encerrar o ano com receita de R$ 240 milhões.