Apesar do “chumbo grosso” disparado pelo presidente Lula, para quem Roberto Campos Neto mais prejudica do que ajuda o país, o presidente do Banco Central liderou a unanimidade no Copom que interrompeu o ciclo de 10 meses de corte de juro e será protagonista na semana que encerra o semestre com a divulgação da Ata do Copom e do Relatório Trimestral de Inflação – documentos que consagram o BC junto a economistas, gestores e investidores.

A ata sairá na terça, 25 de junho, e detalhará a decisão amplamente esperada do Comitê de Política Monetária de manter, por unanimidade, a Selic estável em 10,50%. O RTI será publicado na quinta, 27, e sua apresentação colocará na vitrine Campos Neto e Diogo Guillen, diretor de política econômica.

Antecipada de quinta-feira para quarta, 26, quando o IPCA-15 de junho poderá levar a inflação em 12 meses acima de 4%, o Conselho Monetário Nacional deverá definir a meta de inflação de 2027. A perspectiva é de manutenção em 3% e contínua a partir de 2025, quando o BC estará sob “nova direção”.

O CMN poderá confirmar a extensão do prazo para o cumprimento da meta a cerca de 18 meses – referência ao “horizonte relevante” para efeitos de decisões monetárias. Eliminando, assim, o ano calendário de janeiro a dezembro agora vigente. O intervalo de tolerância para acomodação de choques deve prosseguir em 1,5 ponto percentual.

Mas a agenda do BC não para por aí. Ao longo da semana, ante a concorrência de indicadores da economia norte-americana, serão publicados balanços mensais de operações externas, crédito, mercado aberto e o resultado fiscal consolidado das contas públicas. Todos referentes a maio.

Pronto para adentrar ao calendário, julho será o “esquenta” para a transição na presidência do BC que ganhou relevância com as críticas de Lula a Campos Neto e a decisão unânime do Copom que resistiu às pressões pelo corte de juro. Campos Neto deixa o cargo em 31 de dezembro com dois diretores. Portanto, Lula terá três escolhas a fazer para o comando da instituição que, aí sim, terá a maioria composta por indicados do atual governo.

Apesar do falatório em torno de nomes mais afinados ao PT e ao anseio de Lula por juro mais baixo que poderiam suceder Campos Neto, a expectativa de agentes financeiros é de que o principal candidato ao posto – com anúncio esperado para agosto – continua sendo Gabriel Galípolo, diretor de política monetária e ex-braço direito de Fernando Haddad, na Fazenda.

“Mantido o status quo, Gabriel Galípolo será o indicado. E essa definição é de extrema relevância para as próximas decisões do Copom e projeções de inflação”, observa Marco Maciel, economista-chefe do banco Fibra.

Profissional experiente – com passagens pelo banco Pine, Kairós, Banif, ING Bank, Itaú Corretora e professor do Ibmec há mais de uma década – Maciel avalia, em entrevista ao NeoFeed, que a indicação de Galípolo em agosto importa porque a expectativa é que o ele “vai manter o trabalho desenvolvido pela instituição e mostrar compromisso com a inflação no curto e médio prazo, atento também às projeções”.

Descontrole da inflação, um desserviço

“A unanimidade nas decisões do Copom e a indicação de Galípolo são superimportantes para conter instabilidades”, pondera Maciel para quem, “mesmo que ao longo do tempo haja reações a decisões do Comitê elas serão minimizadas”.

O economista reconhece a piora do cenário nas últimas semanas – de câmbio pressionado e deterioração das expectativas de inflação –, mas tem uma visão positiva da economia. E insiste que o governo não pode perder o atual ciclo virtuoso “com crescimento ancorado em criação de emprego e renda”.

Deixar a inflação disparar seria um desserviço. Afetaria a curva de juros em prejuízo de prazos mais longos que afetam o canal do crédito que pode tornar a expansão da economia mais pujante. Não só pelo lado do consumo, mas de investimentos corporativos. “Descontrole da inflação colocaria em risco esse ciclo favorável. De boa qualidade”, alerta Maciel.

Entretanto, apesar da visão construtiva sobre a economia, o economista-chefe do Fibra entende que os ruídos que envolvem as políticas fiscal e monetária atrapalham. “Junte-se a isso a tensão que ronda o cenário externo, a pressão no câmbio torna-se inevitável e com efeito relevante sobre a inflação”, pontua.

“Temos expansão de gastos e transferências do governo para o setor privado, mas temos também um incremento de renda e de gasto associado ao crescimento da massa de salários relacionado à força do mercado de trabalho que não pode ser dissociado da questão fiscal e de impactos inflacionários”, observa o economista.

Até por isso, lembra, toda vez que o governo mostra descontrole nas contas públicas quase mecanicamente as projeções de inflação pioram porque há gastos que afetam a demanda agregada e, portanto, a perspectiva de inflação.

E investimentos também têm esse efeito, comenta Maciel que cita o investimento público em infraestrutura como bom exemplo do quão intrincada é a discussão sobre efeito e causa de inflação.

“Investimento em infraestrutura vai ter impacto no PIB potencial lá na frente? Vai, o que é positivo. No entanto, o efeito imediato também é de aumento da demanda. Uma pressão de inflação que dispara alertas no Banco Central.”