Há exatamente uma semana, o Bank of America rebaixou a recomendação da Viveo, de neutra para venda, ressaltando que a empresa de fabricação e distribuição de produtos médicos poderia ter que buscar um evento de liquidez, como uma capitalização, em função do seu alto nível de alavancagem.
Agora, quem está seguindo pelo mesmo caminho é o Santander, que, em relatório divulgado nesta segunda-feira, 13 de maio, rebaixou a recomendação do grupo de fabricação e distribuição de produtos médicos, de outperform (acima da média do mercado) para neutra.
Com o mesmo argumento da alavancagem e citando as “dores crescentes” da operação, o banco também reduziu o preço-alvo da ação, de R$ 21 para R$ 4. As atualizações vieram na sequência da divulgação do balanço da companhia, em 10 de maio.
“Em resumo, os resultados fracos e a alavancagem elevada levaram ao nosso downgrade para neutro”, escrevem os analistas Caio Moscardini, Guilherme Gripp e Karoline Silva Correia.
O trio chama a atenção para a intensa onda de M&As, que praticamente multiplicou as receitas da Viveo em quatro vezes nos últimos cinco anos. Entretanto, depois dos primeiros anos “tranquilos” de integração desses ativos, um cenário mais desafiador vem afetando esses processos e o grupo.
Esse panorama inclui questões como deflação médica, mudanças fiscais regulatórias, problemas operacionais em centros de distribuição, pressões de margem e, em especial, a deterioração do capital de giro, que levou a um aumento significativo na alavancagem.
Tal indicador – medido pela relação dívida líquida/Ebitda e que inclui pendências relativas aos M&As – chegou a 4,3 vezes no fim do primeiro trimestre. O banco acredita que essa linha está acima do esperado e ainda não chegou ao seu pico.
“Estamos reduzindo nosso equity value em R$ 150 milhões, que é a projeção da empresa de um potencial pagamento”, diz outro trecho do relatório, sobre os possíveis impactos do Difal (diferencial de alíquota do ICMS para transações realizadas em estados diferentes da origem da mercadoria).
Os analistas também observam que a Viveo está exposta ao segmento farmacêutico não varejista, cuja previsão de uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de receita entre 2022 e 2027 está na faixa de 9% a 12%.
“Nesse ponto, estamos do lado conservador e prevemos que a Viveo possa crescer a um CAGR de 9% entre 2024 e 2027. Essa estimativa já dá o benefício da dúvida se a empresa será capaz de resolver questões operacionais para acelerar o crescimento”, afirmam.
Diante desse quadro, o Santander projeta agora uma receita de R$ 11,8 bilhões para a operação em 2024, um recuo de 8% frente a sua estimativa anterior. O mesmo nível de queda envolve a nova previsão para a receita de 2025, que aponta agora para R$ 12,9 bilhões. Para 2026, a redução foi de 9%, para R$ 14,1 bilhões.
Em outras atualizações, o banco revisou as estimativas de lucro líquido ajustado em 2024, 2025 e 2026 para R$ 78 milhões, R$ 187 milhões e R$ 265 milhões, respectivamente. Na comparação com as projeções anteriores, os índices recuaram 85%, 71% e 63%.
“Além disso, acreditamos que as pressões nas margens bruta e Ebitda podem levar mais tempo para se normalizarem e, portanto, estamos reduzindo nossas previsões em 270 e 240 base points em 2024 e 2025, respectivamente”, acrescentaram os analistas.
Por volta das 11h, as ações da Viveo despencavam na B3, cotadas em R$ 3,22, queda de 8,8%. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização próxima de 77% e a companhia está avaliada em R$ 1,02 bilhão.