Com a Apple enfrentando uma série de desafios na China, que vão desde a perda de espaço do iPhone passando pela briga geopolítica travada entre Pequim e Washington, Tim Cook decidiu fazer uma visita surpresa ao país, num gesto para prestigiar o terceiro maior mercado da companhia.
O CEO marcou presença num evento organizado na segunda-feira, dia 16 de outubro, dentro de uma loja da Apple na cidade de Chengdu, no sudoeste do país, onde gamers disputavam uma competição do jogo Honor of Kings, criado pelo estúdio TiMi Studio, que pertence à gigante chinesa Tencent, segundo a CNBC.
Em seu perfil na rede social chinesa Weibo, Cook postou um vídeo em que aparece acompanhando o evento. “Repleto de ação, o Honor of Kings começou aqui, em Chengdu, e é agora um fenômeno global na App Store”, diz trecho do texto publicado pelo executivo.
A visita de Cook à China não foi tão despretensiosa como parece. Ela ocorre menos de um mês após o lançamento do iPhone 15, cujas vendas estão deixando a desejar. Levantamento da consultoria Counterpoint Research mostra que as vendas do novo modelo de smartphone da Apple nos primeiros 17 dias na China estão 4,5% abaixo de quando o iPhone 14 foi lançado.
Este desempenho decepcionante vem depois de a Huawei lançar, no mês passado, um smartphone contendo um semicondutor de alta tecnologia desenvolvido dentro da China, apesar das medidas tomadas pelos Estados Unidos para evitar o crescimento do país no campo tecnológico.
Agora que tem acesso a semicondutores avançados, a Huawei voltou a ser o maior fabricante de smartphones da China, depois de cair para o sexto lugar por conta das sanções americanas.
Analistas da casa de research americana Jefferies apontaram que a Apple foi destronada pela Huawei na China. Em relatório divulgado na segunda-feira, eles afirmaram que as vendas de smartphones estão sendo puxadas por aparelhos com o sistema operacional Android, não apenas da Huawei, como também da Xiaomi e Honor. Os iPhones, por sua vez, têm apresentado recuo.
Ethan Qi, diretor da Counterpoint Research, disse que a queda da confiança dos consumidores chineses de maneira geral, junto com a avaliação de que o iPhone 15 é inferior ao iPhone 14 em termos de desempenho, além do aumento da competição no segmento de smartphones mais avançados, explicam a situação da Apple na China.
O Morgan Stanley também demonstrou certo pessimismo em relação à Apple, divulgando na segunda-feira que rebaixou o preço-alvo das ações de US$ 215 para US$ 210. No relatório, eles cortaram as projeções em relação às receitas com iPhone no quarto trimestre fiscal em 8%.
A China representa um mercado importante para a Apple, ficando atrás das Américas e da Europa. As vendas de produtos no gigante asiático somaram US$ 15,7 bilhões no terceiro trimestre do ano fiscal de 2023, encerrando em 1º de julho, uma alta de 8% em base anual. O país respondeu por cerca de 19% da receita total no período.
Mas a vida da Apple no país não tem sido fácil nos últimos meses. Além da concorrência, a companhia se viu no meio da disputa entre Estados Unidos e China.
Em setembro, a empresa chegou a perder quase US$ 200 bilhões em valor de mercado depois de notícias de que o governo chinês estava expandindo a restrição ao uso de iPhones para integrantes de agências governamentais e estatais.
Mais do que os impactos financeiros específicos desta medida, os investidores temeram que a China poderia tomar medidas que tornariam a vida da Apple mais difícil, mesmo com ela produzindo a vasta maioria dos produtos no país.
Por volta das 16h39, as ações da Apple caíam 1,19% na Nasdaq, a US$ 176,59. No ano, elas registram alta de 37,9%, levando o valor de mercado a US$ 2,7 trilhões.