Mesmo antes de lançar seu primeiro foguete ao espaço, a Relativity Space já decolou. A startup fundada, em 2016, por Tim Ellis e Jordan Noone, dois engenheiros aeroespaciais formados pela Universidade do Sul da Califórnia (USC), captou mais de US$ 45 milhões em investimentos.
O que chama a atenção de investidores do Vale do Silício é o modo simples como eles constroem os foguetes. Usando a Stargate, uma impressora 3D de larga escala, desenvolvida do zero pela própria empresa, eles conseguem simplificar muitos processos.
Para se ter uma ideia, foguetes tradicionais contam com a junção de 100 mil peças, enquanto a máquina desenvolvida pela companhia consolida tudo em apenas mil peças. De acordo com a equipe, 95% da espaçonave é criada por essa impressora 3D, exclusiva da marca.
Baseada em Los Angeles, a empresa tem recebido aportes de grandes fundos de venture capital, como a Y Combinator, Social Capital e Playground Global, e o bilionário americano Mark Cuban, um dos protagonistas do Shark Tank nos Estados Unidos. Cuban, aliás, foi o primeiro a assinar um cheque aos garotos, hoje com 30 anos.
Os empreendedores contam que, duas semanas após decidirem se lançar de cabeça neste projeto, encaminharam um email ao magnata com o título "Space is sexy: 3D printing an entire rocket" – algo como "O espaço é sexy: imprimindo em 3D um foguete inteiro".
Quase dois meses depois de encaminharem a mensagem "ousada", Noone e Ellis embolsaram US$ 500 mil de Cuban, como seed money. Para Ellis, o "pedrigree" dos fundadores foi decisivo para a confiança do investidor: Noone trabalhou na SpaceX, de Elon Musk; enquanto Ellis fez parte da equipe concorrente, a Blue Origin, fundada por Jeff Bezos, da Amazon.
A Relativity Space passou de uma área de 3 mil metros quadrados, na Califórnia, para ocupar uma de mais de 18 mil metros quadrados, no Mississipi
Em pouco mais de um ano a Relativity Space passou de uma área de 3 mil metros quadrados, na Califórnia, para ocupar uma de mais de 18 mil metros quadrados, no Mississipi.
O time cresceu de 14 funcionários para mais de 80. Os novos talentos foram trazidos de empresas de tecnologia como Tesla, Waymo, Virgin Orbit e, claro, do "berço" dos líderes, Blue Origin e SpaceX. "A coisa mais especial sobre a nossa equipe é que combinamos expertises distintas. Pela primeira vez temos engenheiros aeroespaciais, roboticistas, metalúrgicos e outros especialistas trabalhando juntos, criando um DNA único", diz Tim Ferris, CEO da empresa, ao NeoFeed.
Todo esse reforço de capital financeiro e humano é para revolucionar uma indústria avaliada em US$ 833 bilhões, segundo levantamento da AeroDynamic Advisory and Teal Group Corp. A proposta da empresa californiana é tornar a produção de foguetes mais rápida e barata, imprimindo modelos originais.
Luke Henderson, engenheiro mecânico da Relativity, diz que uma forma simples de explicar o sistema de um foguete é entender que tudo gira em torno da manipulação do combustível: a mobilidade e a queima do líquido dentro do reservatório são o segredo do sucesso do lançamento de uma espaçonave.
Nesta seara, ainda de acordo com Henderson, o uso da tecnologia 3D e da computação gráfica lhes dá muita eficiência: "estar apto a desenhar cerca de três modelos diferentes, usando um único equipamento, quebra uma barreira importante no processo de teste e erro".
Para potencializar ainda mais esse pensamento e modus operandi dinâmico, a startup firmou uma parceria de 20 anos com o laboratório de teste de foguetes da NASA, o Stennis Space Center, localizado em Hancock, às margens do Rio Pearl.
Por lá, a Relativity testa na prática suas novas apostas, como o propelente Aeon, uma espécie de "turbina", que completou 100 ciclos de análises práticas. Feito de liga de níquel, o equipamento é composto por três partes impressas em 9 dias cada. O motor é abastecido por oxigênio e metano líquido.
Com o foco no lançamento de microssatélites, um nicho que deve atingir o valor de US$ 2,4 bilhões em 2024, segundo a Global Market Insights, a Relativity anunciou em abril deste ano o seu primeiro contrato de peso. A Telesat elegeu o foguete Terran 1, da companhia americana, para lançar uma constelação de satélites de baixa órbita capazes de fornecer conectividade global de banda larga.
Na esteira deste contrato, a Spaceflight, outra competidora do setor, também firmou parceria com a novata, garantindo "rideshare" em lançamentos futuros. Em outras palavras, as empresas vão compartilhar alguns trabalhos – e lucros, obviamente.
Estima-se que a Relativity cobre US$ 10 milhões por foguete, enquanto a SpaceX pede US$ 57 milhões pelo lançamento de seu modelo Falcon 9
Embora as cifras não estejam claras, por se tratar de uma empresa privada, estima-se que a empresa cobre US$ 10 milhões por foguete, enquanto a SpaceX pede US$ 57 milhões pelo lançamento de seu modelo Falcon 9, conforme publicado na Airspace Mag. O foguete produzido pela startup tem como base de lançamento uma plataforma em Cabo Canaveral, na Flórida.
Caso consiga seguir fielmente seu calendário à risca, a Relativity Space faz no ano que vem seu primeiro teste em órbita e, em 2021, comemora o lançamento oficial de seu primeiro foguete. A princípio, os modelos iniciais da empresa não são tripulados, mas essa possibilidade não é descartada no futuro. A jornada nas estrelas está só começando.
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