Para Mark Zuckerberg, 2023 foi o ano da virada. Ao 39 anos, o dono da Meta vai para o réveillon como o sexto homem mais rico do mundo, nas contas do Bloomberg Billionaires Index. Sua fortuna cresceu US$ 83,8 bilhões, somando US$ 129 bilhões. Mas não é de dinheiro que se trata. E, sim, de imagem.
Zuckerberg “meio que ficou legal. Ou mais legal do que ele era e atualizou sua imagem pública de um androide estranho para um androide arrogante e atencioso”, como define a plataforma Business Insider.
Em março, ele decretou 2023 como o “ano da eficiência” na Meta, depois de um “humilhante” 2022. Na busca por uma empresa mais enxuta, focada e produtiva, capaz de resistir às incertezas econômicas, a gigante de Menlo Park deu adeus a 21 mil funcionários, em duas rodadas de demissão.
Para tornar a comunicação interna mais ágil, Zuckerberg tornou a hierarquia na big tech mais plana, diminuindo as camadas de gestão intermediárias.
Tais medidas em nada lembram a imagem tresloucada do empresário obcecado pelo metaverso, capaz de investir US$ 13,7 bilhões em um mundo virtual repleto de incertezas. Os investidores parecem ter gostado da nova figura, mais austera e comedida.
Ao longo de 2023, as ações da empresa controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp subiram 172%. A Meta chega ao fim do ano avaliada em quase US$ 928 bilhões. Vale lembrar que, em outubro de 2022, o valor do negócio era de “apenas” US$ 348 bilhões.
Zuckerberg reformulou ainda sua presença nas redes sociais. Nos esportes, a diferença é gritante. Frequentemente o executivo era alvo de memes. Um dos mais notórios nasceu de uma fotografia sua surfando, com o rosto besuntado por camadas generosas de protetor solar.
Diz ele que era para despistar os paparazzi. Se era mesmo essa a intenção, o tiro saiu pela culatra. Nas piadas, o executivo foi comparado a fantasmas, ao Coringa, inimigo do Batman, e a Michael Myers, o assassino do filme Halloween.
Hoje, tudo mudou. Torso desnudo, barriga trincada, corpo suado, Zuckerberg é useiro e vezeiro nas postagens durante treinos de jiu-jitsu e MMA, ao lado de lutadores profissionais.
E, por falar em luta... a comparação com o comportamento de Elon Musk, o homem mais rico do mundo, dono da Tesla, Space X e X (antigo Twitter) fez muito bem à imagem de Zuckerberg. Os dois não se entendem faz muito tempo.
Mas, em junho, quando a Meta apresentou o projeto do Threads, ferramenta do Instagram concorrente do X, Musk não gostou Aos 52 anos, como um garotinho raivoso, desafiou o rival para uma briga no octógono.
O desafio não foi adiante. Maye, mãe de Musk, teria proibido o filho de lutar. Aí lá foi Zuckerberg, no Threads: “Se Elon quiser marcar uma data e um evento oficial, ele sabe como me encontrar. Do contrário, é hora de seguir em frente e focar em competir com pessoas que levam o esporte a sério”.
A história terminou aí? Claro que não.
Recentemente, Musk retomou o assunto e se disse disposto a combater. “Não acho que ele deveria lutar comigo. Sou 50% mais pesado do que ele”, provocou. “Tenho meu golpe de morsa patenteado, só de me deitar sobre ele. Uma morsa não precisa de treinos de artes marciais, porque já é muito grande.”
Bravatas típicas de dois colegiais. Mas, voltando... O fato é que o Threads acirrou ainda mais a disputa entre Zuckerberg e Musk. E, sempre que possível, o fundador da Meta não perdeu a oportunidade de alfinetar o rival.
Em julho, no dia do lançamento da plataforma, Zuckerberg tuitou pela primeira vez em dez anos. Ele usou o já clássico meme do Homem Aranha apontando para o Homem Aranha. Quem é quem? Qual é o verdadeiro Homem Aranha? Musk caiu na provocação e respondeu: “Zuck é um corno”.
No embalo da insatisfação dos usuários com a mudanças produzidas por Musk ao comprar o Twitter, o Threads, em apenas uma hora, somou 1 milhão de assinantes – o que fez do aplicativo o de crescimento mais rápido da história. Hoje, os usuários são 141 milhões.
A liderança caótica de Musk no comando do X fez Zuckerberg até parecer um “CEO normal tomando decisões normais de CEO”, conforme os analistas da Business Insider.
Durante o ano, ele ainda se esforçou para mostrar seu lado “gente como a gente”. Em entrevistas, Zuckerberg falou sobre rotina de condicionamento físico, dieta, fé e os riscos existenciais colocados pela inteligência artificial (IA).
Em agosto, o empresário revelou até mensagens de texto trocados com a esposa Priscilla Chan. Na conversa, ela reclama do octógono que o marido colocou no jardim: “Eu venho trabalhando nessa grama há dois anos”.
Uma das críticas a Zuckerberg mais comuns sempre foi a de empresário pouco criativo, o que lhe rendeu a fama de “plagiador”. Frente à chegada de concorrentes ao mercado, ou ele comprava o negócio que o ameaçava, como fez com o Instagram, em 2012, ou os copiava. Lançado em 2020, o Reels, o recurso de vídeos curtos do Instagram, por exemplo, foi sua arma para fazer frente ao sucesso do TikTok, da chinesa Bytedance.
Ao que tudo indica, porém, com a inteligência artificial (IA), Zuckerberg adotou uma estratégia mais inovadora, avaliam os analistas. Em julho, em parceria com a Microsoft, a Meta lançou a Llama 2, modelo avançado de IA, disponível na Azure, o serviço de nuvem pública da empresa cofundada por Bill Gates. A plataforma é um dos lugares onde os programadores podem encontrar modelos de IA prontos para usar. Pegou bem para Zuckerberg.
O sucesso de 2023, porém, não garante 2024. No universo agitado e competitivo das big techs e frente às demandas de consumidores cada vez mais atentos e exigentes, nenhum jogo está 100% ganho. Mesmo assim, Zuckerberg deve pegar leve nos treinos de luta.
Em 3 de novembro, ele foi submetido a uma cirurgia, depois de romper os ligamentos do joelho esquerdo, durante a preparação para um embate de MMA, previsto para o início do próximo ano. Zuckerberg foi ao Instagram contar sobre o acidente: “Obrigado a todos pelo amor e apoio”. Um millennial como qualquer outro. Será?