Quatro horas após encerrar o processo de reestruturação da sua dívida, a Sequoia assinou um MOU (memorando de entendimento) com a Move3 para unir a operação das duas empresas de logística.
Por meio de uma troca de ações, a Sequoia terá 60% da nova empresa, enquanto a Move3, dona de marcas como Flash Courrier, Moove+, Rodoê entre outras, ficará com os 40% restantes.
Somadas as operações, a nova empresa resultante da união de Sequoia e Move3 terá uma receita líquida de mais de R$ 2,4 bilhões, maior que Braspress, Total Express e Jadlog, quase mil unidades operacionais e uma cobertura de 5.030 cidades, atrás apenas dos Correios.
“Desenhamos a operação em meio à reestruturação financeira da Sequoia”, diz Eric Fonseca, presidente do conselho de administração da Sequoia, ao NeoFeed. “Da combinação das empresas, nasce a líder privada de mercado, com eficiência e automação”.
A combinação dos negócios segue para aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas a expectativa é que não sejam impostas barreiras para a concretização da fusão.
O setor de logística no Brasil é bastante pulverizado. Existem mais de 156 mil empresas de transporte em um mercado de R$ 800 bilhões. No segmento em que Sequoia e Move3 estão inseridas, o mercado endereçável é inferior a R$ 40 bilhões, contando tanto o B2C como o B2B. E a combinação da nova empresa será inferior a 10% de market share.
“Temos tecnologia e eficiência operacional, mas faltava um nome poderoso. No bancário nós temos, mas no e-commerce era inexistente. E a Sequoia, mesmo com os problemas, continua com receita alta e nome forte”, afirma Guilherme Juliani, CEO da Move3, ao NeoFeed.
“Os negócios são complementares e não concorrentes. Mas existe muito cross-selling para ser feito”, completa Juliani.
Na estrutura que está sendo montada, as marcas continuarão operando de forma independente, cada uma com sua estratégia comercial. Com isso, a Sequoia vai se unir à Flash Courrier e as outras nove marcas que formam a Move3, que passa a ser a placa institucional das operações.
Os ganhos de sinergia já estão sendo calculados pelos times das duas empresas. A expectativa é que existam R$ 90 milhões em custos rápidos a serem cortados.
Os centros de distribuição (CDs) que estiverem no mesmo raio, por exemplo, serão integrados. A unidade desativada se transforma em um aluguel a menos na conta mensal. A projeção é que no primeiro ano da fusão seja alcançada uma economia de R$ 24 milhões com a devolução dos CDs.
“Efetivamente a integração deve demorar entre seis e sete meses”, diz Juliani, que no novo organograma da empresa será Co-CEO, liderando a parte de encomendas e bancários; Armando Marchesan Neto, fundador da Sequoia, será o outro Co-CEO e líder de projetos especiais.
Prazo de entrega
No fim de 2022, Fonseca, que é sócio da Newfoundland Capital Management e hoje detém quase 7% das ações da Sequoia, foi apresentado a Guilherme Juliani, CEO da Move3, pelo banco Santander.
Juliani estava passando por um investor education para avaliar um provável IPO do grupo criado por seu pai em 1993, que se consolidou como líder na logística bancária e de entrega expressa para todos os meios de pagamento.
Naquele momento, o acionista da Sequoia viu uma oportunidade de fusão entre as empresas de logística ao encontrar uma empresa familiar sólida, sem dívida bancária e com alta tecnologia, o que ele achou “anos luz à frente” do mercado.
Com a instabilidade da janela de IPOs, Fonseca propôs a ideia de fusão a Juliani, que respondeu que “não me parece uma loucura”. Mas a virada para 2023 jogou um balde de água fria nessa possibilidade: o estouro do caso Americanas respingou na Sequoia, que fez movimentos errados de aquisição e viu sua dívida ficar sem controle.
“Há muita sinergia entre as empresas, faz todo sentido. Mas enquanto a Sequoia não resolver o seu problema de balanço, eu não tenho coragem de fazer movimento nenhum”, disse Juliani naquele momento da negociação.
Fonseca mergulhou na operação da Sequoia e, ao lado do fundador e CEO, Armando Marchesan Neto, trabalhou para fazer o turnaround na empresa de logística enquanto a reestruturação financeira estava em curso.
Para ajudar nessa operação de negociação com debenturistas e bancos, Ian Monteiro de Andrade, um veterano do mercado financeiro, assumiu como CFO em agosto de 2023.
A Sequoia começou o segundo semestre com uma alavancagem de 7,6 vezes o Ebitda e um endividamento superior a R$ 700 milhões.
Em outubro, mais de 80% dos debenturistas aceitaram trocar seus títulos antigos por novos. E Jive Investments, Fonseca e Marchesan aportaram R$ 100 milhões, um “dinheiro novo” que foi para o caixa da Sequoia.
A Jive assinou o maior cheque, de R$ 80 milhões e tinha até 12 meses de lock up para fazer a conversão de ações. Mas a gestora especializada em distressed assets decidiu pela conversão já em meados de novembro, o que fez dela a maior acionista da Sequoia, com 16%, à frente de Fonseca e de Marchesan, que ficou com 2,2%.
Com a conclusão da reestruturação financeira, a dívida líquida da Sequoia caiu para pouco mais de R$ 71 milhões e a alavancagem ficou em 0,1 vez a dívida líquida sobre o caixa.
Após a aprovação da fusão pelo Cade, um novo acordo de acionistas será firmado entre os novos sócios. Nenhum deles terá mais de 50% das ações, mas, nesse redesenho, a família Juliani deve se tornar a maior acionista individual, com Jive, Fonseca e Marchesan completando o quadro de acionistas de referência.
A empresa na bolsa
No último pregão de 2023, a ação da Sequoia fechou cotada a R$ 0,38 - uma queda acumulada de 87% no ano. O papel está muito distante da estreia da empresa na bolsa de valores, em outubro de 2020, quando começaram a ser negociadas a R$ 12,40. A empresa levantou R$ 1 bilhão no IPO.
“Neste momento, a Sequoia é uma empresa completamente diferente, reestruturada, leve de custos e com alavancagem baixa. E, agora, líder absoluta do seu mercado”, diz o presidente do board.
Com a fusão, Juliani conseguiu levar a Move3 para o mercado de capitais sem precisar passar pelo extenso e cansativo processo de roadshow com os bancos de investimento.
Agora, os acionistas precisarão decidir se manterão o ticker SEQL3 de negociação na B3 ou se darão um passo na direção de colocar MOVE3 para marcar definitivamente esse recomeço.