Quem nunca se pegou em discussões bobas ou em argumentações onde ninguém parece realmente interessado em chegar a um entendimento - mesmo que o consenso seja “concordar em discordar”? Por que algumas conversas fluem com mais espontaneidade do que outras?
Em um mundo dominado pela hiperconexão das redes sociais e das mensagens instantâneas, a comunicação nunca pareceu tão difícil quanto nesta primeira metade do século 21. Mas, calma. Todos nós podemos desenvolver o dom do diálogo — até os mais tímidos.
Quem garante é o jornalista e escritor americano Charles Duhigg, em seu livro mais recente Supercomunicadores: Como desbloquear a linguagem secreta da comunicação, lançado no Brasil pela Editora Objetiva.
“Considerando o quanto precisamos falar todos os dias, é surpreendente notar quão pouco entendemos sobre comunicação”, observa o autor.
Vencedor do Prêmio Pulitzer com O Poder do Hábito, de 2012, ele defende: o supercomunicador é alguém que consegue se conectar com (quase) qualquer pessoa. Quando começou a escrever sobre o assunto, imaginou que a supercomunicação fosse privilégio dos carismáticos e extrovertidos.
Mas, não. Duhigg mostra as (pequenas) escolhas que devemos fazer no momento da conversa e quais habilidades são exigidas em cada tipo de comunicação - social, emocional ou prática. Para tanto, com uma escrita envolvente, ele combina estudos acadêmicos com casos da vida cotidiana; no trabalho e fora dele.
No capítulo “Escutar para curar investidores com sentimentos”, por exemplo, lembra uma palestra do psicólogo Nicholas Epley, da Universidade de Chicago, para executivos de Wall Street - um profissional que, como descreve Duhigg, dedicou a maior parte de sua carreira a estudar como “às vezes escutamos errado”.
A boa comunicação só é possível se quem conversa está de fato interessado em o que seu interlocutor tem a dizer. Escutar para ser escutado e, assim, se comunicar.
Mas, esqueça aquelas dicas dos gurus da autoajuda que, para mostrarmos ao outro que estamos prestando atenção à conversa, pregam: “Sempre mantenha contato visual”, “Balance a cabeça de forma encorajadora para mostrar que está prestando atenção” ou “Sorria bastante”.
“Não precisamos que ninguém nos ensine a escutar um podcast interessante ou uma boa piada”, contou o psicólogo a Duhigg, em um encontro posterior. “Se algo é interessante, escutamos sem nem pensar a respeito.”
Conexão emocional
Mesmo em um ambiente competitivo como o das altas finanças, a chave pode estar no desenvolvimento de uma conexão emocional entre os participantes da conversa.
“Quando discutimos nossos sentimentos, algo mágico ocorre: os outros não conseguem deixar de nos escutar. E a seguir passam a revelar suas próprias emoções, o que por sua vez faz com que escutemos”, explicou Epley a Duhigg.
Como lembra o autor, o psicólogo lhe contou a história de um investidor que perdeu US$ 20 milhões, em uma única tarde, por não ter prestado atenção aos sinais emitidos por um executivo, durante um almoço de negócios.
Sempre gentil e tranquilo, o homem estava inquieto, fora ríspido com o garçom e, a todo o instante, saía da mesa para atender o celular. Mais tarde, o investidor descobriu o motivo da agitação: a empresa de seu companheiro de mesa estava indo à falência.
Na avaliação de Epley, se ele tivesse perguntado ao sujeito o porquê do estresse, provavelmente teria sabido das dificuldades dele.
Em resumo, para o estabelecimento de uma conexão verdadeiramente genuína (e proveitosa) é preciso estar atento não apenas às palavras ditas, mas também à entonação da voz, aos gestos e comportamentos do interlocutor.
Desprezá-los, pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de um negócio e de uma relação.
Em Os Supercomunicadores, o autor cita também o método de recrutamento de novos astronautas pela Nasa, nos anos 1980. Era o início das missões de longa duração e quem fosse ao espaço deveria estar preparado para viver em situações limites, por até seis meses.
No ambiente minúsculo e sem privacidade das estações espaciais, era preciso dar mais atenção às características de personalidade dos astronautas, defendia o psiquiatra Terence McGuire, da Nasa. E uma das mais habilidades mais importantes a ser trabalhada era a da comunicação.
Outro caso lembrado em Os Supercomunicadores é o do cirurgião Behfar Ehadie, do Memorial Sloan Kettering, em Nova York, centro de referência no tratamento de câncer.
Profissional admirado por sua simpatia e bondade, em 2014, percebeu que conversava com os pacientes terminais da maneira errada.
Em vez de simplesmente lhes comunicar sobre seu estado de saúde, Ehadie passou também a entregar aos doentes estudos que embasavam sua escolha terapêutica. Tomava o cuidado de marcar os trechos dos relatórios que mais se adequavam a cada um dos pacientes. Fez toda a diferença.
Como reforça Duhigg, para uma supercomunicação, é preciso sempre considerar: nossas experiências, nossos valores, nossas emoções e nossos sentimentos - e o modo como nos vemos a nós próprios e aos outros - moldam a forma como nos comunicamos uns com os outros.