O Itaú Unibanco encerrou a temporada de resultados do primeiro trimestre dos grandes bancos privados. E, ao contrário de Santander e Bradesco, que surpreenderam o mercado com sinais de retomada, o balanço do banco não trouxe grandes mudanças.
Nesse caso, porém, a previsibilidade é um fator positivo. O banco seguiu a toada dos últimos trimestres ao reportar, por exemplo, um lucro líquido de R$ 9,77 bilhões, uma alta de 15,8% sobre igual período, um ano antes, e ligeiramente acima das projeções de analistas.
Esse e outros indicadores mostram que o Itaú Unibanco conseguiu navegar com mais tranquilidade que seus pares os impactos do pós-pandemia. E, mesmo ressaltando o “respeito máximo” pela concorrência, o CEO do banco Milton Maluhy Filho destacou um fator essencial nesse contexto.
“No dia a dia, o que faz bastante diferença é a nossa disciplina de alocação de capital. E isso é muito importante, principalmente, no médio e longo prazo”, disse Maluhy, em conversa com jornalistas na manhã desta terça-feira, 7 de maio, para tratar do resultado do banco no primeiro trimestre de 2024.
“No curto prazo, crescer ativos sem rentabilidade, alocando o capital de forma inadequada, te dá uma falsa sensação de crescimento”, afirmou. “Mas você compromete resultado e destrói valor no longo prazo. Não estou dizendo que os outros bancos também não fazem. Mas isso é o que nos define.”
Na esteira da “previsibilidade” do resultado, as ações preferenciais do Itaú Unibanco estavam sendo negociadas com ligeira alta de 0,06% na B3, por volta das 11h05. No ano, os papéis acumulam uma queda de 4,5%.
Avaliado em R$ 296,2 bilhões, o banco fechou o trimestre com um retorno sobre o patrimônio (ROE) de 21,9%, contra 20,7%, um ano antes, e 21,2%, no quarto trimestre do ano passado. A margem financeira gerencial teve alta de 8,9%, para R$ 26,8 bilhões, e a margem financeira com clientes avançou 7,4%, para R$ 25,8 bilhões.
Em outro indicador, a margem com o mercado foi de R$ 1,05 bilhão, um salto anual de 64,3%. Já o índice de eficiência, variável que mensura o custo de um banco para gerar receita, ficou em 38,3%, contra 39,8%, um ano antes.
A receita de prestação de serviços ficou em R$ 10,8 bilhões, um desempenho 4,9% superior na comparação anual. As receitas com seguros, por sua vez, tiveram uma expansão de 8,7%, para R$ 2,6 bilhões.
Já a carteira de crédito total no trimestre cresceu 2,8%, para R$ 1,18 trilhão, abaixo do índice de expansão previsto no guidance divulgado em fevereiro pelo banco para o ano de 2024, na faixa de 6,5% a 9,5%. O desempenho foi atribuído, em boa parte, à variação cambial no período.
Em pessoas físicas, a alta foi de 2,6%, para R$ 413,4 bilhões, e, em micro, pequenas e médias empresas, o salto foi de 10,2%, para 193 bilhões. Já em grandes empresas, o volume de R$ 376 bilhões representou um avanço de 9,3%.
O índice de inadimplência de 90 dias ficou em 2,7% entre janeiro e março, contra 2,9%, um ano antes, e 2,8% no último trimestre de 2023. O custo de crédito de R$ 8,8 bilhões equivaleu a uma redução de 3,2% em base anual.
Na conversa com jornalistas, à parte desses números, Maluhy buscou olhar para frente ao abordar temas como as projeções de crescimento na carteira de crédito, os patamares de inadimplência, a possibilidade de realizar, novamente, uma distribuição extraordinária de dividendos e o lançamento do superapp do banco.
Confira os principais trechos:
Carteira de crédito
"Esse primeiro trimestre teve alguns impactos, quando você olha o ano contra ano, só a carteira Brasil cresceu 6,6%. Portanto, se olhássemos só o Brasil dentro do guidance nós estaríamos acima do piso. E lembrando que guidance é anual, não é trimestral. Nesse caso, estamos reafirmando o guidance, porque o maior efeito negativo para a carteira nesse trimestre foi a variação cambial que vem basicamente da América Latina.
A carteira, sem a variação cambial, teria crescido 5,6%. Então, isso mostra que a carteira segue, sim, crescendo, tanto na pessoa jurídica como no atacado e no varejo. E, na pessoa física, temos um crescimento mais modesto ano contra ano, muito explicado por um ajuste importante no portfólio, que já vínhamos fazendo. A gente deixou de originar e reduziu risco em clientes que, olhando hoje, teriam custado muita despesa com provisões para o banco. Então, quando eu olho pra trás, foi uma decisão acertadíssima.
Eu acho que a gente soube navegar muito bem durante o período de mais incerteza. Então, como foi uma carteira que sofreu mais ajuste, ela acaba tendo esse peso inercial no crescimento. Essa inércia negativa da redução da carteira deixa de pesar agora. No terceiro tri é quando gente faz essa inflexão.
Portanto, acredito que a gente consegue crescer acima do piso do guidance ao longo do ano. A gente continua crescendo de maneira robusta nos clientes e segmentos que entende que são mais resilientes para ciclos mais longos. E a gente vai sim terminar o ano crescendo a carteira de forma importante, deixando para trás esse inercial do ajuste do portfólio que foi feito."
Inadimplência
"A gente espera certa estabilização nos níveis de inadimplência, talvez uma leve queda, mas vai depender de dois fenômenos: o ritmo de crescimento de carteira, que impacta o indicador, e o mix onde essa carteira vai ser construída.
Mas a gente está superconfortável com os indicadores. Eu acho que o pior da crise já ficou pra trás, no nosso caso. há bastante tempo. O ano passado foi um ano de estabilização da inadimplência e eu já vinha dizendo para o mercado que a gente ia ter reduções sucessivas. Daqui pra frente, espero, talvez, menos reduções. São sutis os efeitos, mas espero uma estabilidade nesses patamares, o que é bem adequado para a gente continuar crescendo com qualidade."
Taxa de juros
"A gente já vem mostrando para o mercado há muito tempo que os nossos resultados não têm uma correlação tão grande com a Selic. Se a gente olhar o longo prazo, nós preferimos mil vezes um ambiente de Selic mais baixo. Você reativa atividade, aumenta o nível de investimento, diminui a pressão do endividamento das famílias, estimula o consumo e faz com que o país cresça da melhor forma possível.
Claro que tem algum efeito, especialmente na taxa de depósito e no capital de giro, mas a gente costuma fazer hedges longos dessas posições, então, a sensibilidade imediata a Selic não é automática, porque a gente vai renovando esses hedges e vamos investindo em prazos mais longos. Direcionalmente, os juros altos impactam o retorno do capital de giro e o retorno dos passivos. Mas, por outro lado, melhora inadimplência e a nossa capacidade de crescimento."
Excesso de capital e distribuição de dividendos
"Há uma série de incertezas e de mudanças regulatórias. Todas elas de magnitude absolutamente absorvíveis dentro das nossas simulações. Então, a gente não tem nenhuma preocupação com capital. Muito pelo contrário. A nossa expectativa é que com a nossa capacidade de geração de valor e de capital, ao longo do ano, a gente consiga financiar não só o crescimento da carteira, de risco de mercado e risco operacional, como também fazer frente a essas mudanças.
Então, mais próximo do fim do ano, com mais informações disponíveis, a gente vai calibrar bem o excesso de capital para eventualmente fazer pagamento de dividendo extraordinário novamente. Nossa política será trabalhar com capital adequado para fazer frente aos desafios, crescer o banco e investir no negócio. Esse é nosso objetivo central. Eu não tenho uma meta de pagamento de dividendos. Mas, em tendo sobra e excesso, a ideia é distribuir sim e fazer um novo dividendo extraordinário se for o caso."
Superapp
"A gente tem vários projetos importantes, mas eu diria que esse é o mais importante na nossa agenda. Na virada do trimestre, a gente já fez o lançamento para um público reduzido, de friends & family, e vem fazendo testes consecutivos e constantes de evolução da plataforma, e está muito feliz com os resultados até aqui.
Apesar do nosso tamanho e da nossa relevância nos diversos segmentos, a gente vê oportunidade de crescimento em alguns segmentos fora do banco. E está realmente apostando todas as nossas fichas na pessoa física com essa plataforma. A gente vai passar a ter relação com mais de 15 milhões de clientes com uma oferta full bank que não deixa a desejar a nenhuma outra experiência digital.
E para que a gente possa atender não só a baixa renda, mas todos os clientes que se relacionam conosco através de um único produto, tipicamente, o cartão de crédito. São clientes dos mais diversos segmentos, com os quais a gente já tem relacionamento. E o custo de aquisição desse cliente é muito baixo."
Comparação com a concorrência
A gente tem um respeito máximo pelos nossos concorrentes, mas se você me perguntar algo que nos diferencia é a disciplina de alocação de capital. E isso é muito importante no médio e longo prazo, principalmente, porque, no curto prazo, crescer ativos sem rentabilidade alocando o capital de forma inadequada te dá uma falsa sensação de crescimento. Mas você compromete resultado e destrói valor no longo prazo. Não estou dizendo que os outros bancos não fazem. Mas estou dizendo que isso nos define muito. Esse mantra de alocar o capital da forma correta de tal sorte que quando a gente percebe alguma irracionalidade no mercado, sempre tem dois caminhos: destruir valor ou perder mercado. A gente opta por perder mercado quando tem uma irracionalidade acontecendo e isso tem sido um diferencial nosso no longo prazo.