Após seis meses de testes com varejistas como Ingresse, Lojas Renner, Cantu Pneus e o supermercado online Daki, a Visa passa a atuar em mar aberto com uma solução de pagamento que permite concluir a compra em um comércio eletrônico com apenas um clique.
Batizada de "click to pay, a solução é semelhante às carteiras digitais da Apple e do Google, que armazenam o meio de pagamento e permitem a compra com um clique. A Visa segue a mesma estratégia dessas duas big techs ao criar uma conta digital com os dados do cartão armazenados e transformados em tokens (que dificilmente são quebrados por um fraudador).
“O pagamento por aproximação no mundo físico reduziu a fricção e manteve os mesmo padrões de segurança. No mundo online, vemos o 'click to pay' com a mesma vocação, pela segurança da tokenização”, diz Nuno Lopes Alves, country manager da Visa do Brasil, em entrevista ao NeoFeed.
A tentativa da Visa é simplificar o processo de pagamento com o cartão de crédito e, dessa forma, reduzir o abandono dos carrinhos de compras. Hoje, o consumidor que não aceita salvar o cartão para as próximas compras no comércio varejista tem de passar pelo longo processo de preenchimento de todos os números do cartão, com data de validade, código de segurança e endereço da fatura.
O "click to pay" reduz esse processo com o usuário clicando uma vez no botão ao terminar sua compra para fazer a autenticação com o cartão pré-cadastrado e finalizar o pagamento para a entrega seguir para o destino.
Mas qual é a diferença se os cartões estão pré-cadastrados? No primeiro, o usuário salva as suas credenciais no sistema do varejista, que fica responsável por esses dados e mais vulneráveis em caso de roubo de login e senha. No segundo, esse meio de pagamento fica debaixo da solução criada pela Visa com criptografia.
“O banco emissor carrega esse peso pelo usuário e está emprestando a credibilidade junto à da Visa de que esses cartões estão tokenizados e são seguros”, diz Lopes Alves.
Um estudo global da bandeira mostra que a tokenização gerou uma receita incremental mundial de US$ 40 bilhões no comércio online por conta da taxa de aprovação superior. Ao mesmo tempo, houve uma economia de US$ 650 milhões de fraude.
É exatamente nesse ponto que a Visa se apoia para não só convencer os varejistas a usar sua solução, como também gerar receita. A bandeira não cobrará pela solução. A aposta o aumento das transações, em que ganha um fee toda vez que o cartão é passado.
Fraude e aprovação são as duas dores do comércio eletrônico. O número de abandono de carrinho, por exemplo, continua alto. Pesquisas globais mostram que 69% das compras online são deixadas de lado perto da conclusão. E, no Brasil, esse número chega a 82%, segundo o estudo E-Commerce Radar.
A Ingresse, plataforma digital de venda de ingressos para todo tipo de entretenimento, foi a primeira a aderir ao "click to pay". No período de testes, que começou em meados de fevereiro e terminou na semana passada, quem pagasse pela solução ficava isento das tarifas do serviço.
“A Ingresse reportou para nós em agosto que a taxa de aprovação subiu 10 pontos percentuais, o que é uma barbaridade”, afirma Lopes Alves.
Além da Ingresse, a Visa “instalou” o "click to pay "na Lojas Renner, na Cantu Pneus e no supermercado online Daki. São redes varejistas que entregam diferentes volumes de transação e perfil de consumidor.
Esses pilotos ajudam a Visa a calibrar a solução, entender a jornada de pagamento, o fluxo da transação e fazer os ajustes necessários para a próxima fase, que é a massificação. Nos próximos meses, a ideia é ter mais dois grandes varejistas na base.
Para entender o comportamento do usuário com a marca, a Visa disponibiliza três opções de pagamento para o usuário: pague com cartão de crédito, de débito ou "click to pay". A intenção era ver a percepção do consumidor. “Percebemos que o usuário já entende que o "click to pay" é o pagamento com cartão”, diz Leandro Garcia, diretor executivo de soluções da Visa do Brasil.
Um caminho para o débito
Para o início de 2025, a Visa projeta colocar uma nova camada de autenticação para inserir o débito entre as opções do "click to pay".
A função do pagamento com débito é praticamente ignorada pelo varejo online em razão da aprovação do débito online gerar uma baixa taxa de conversão. Segundo a Visa, muitos lojistas desligaram o débito porque não queriam perder a venda. E isso abriu espaço para o crescimento do boleto, em um primeiro momento, e depois o PIX.
“A infraestrutura da indústria no Brasil nunca facilitou o débito online. Mas isso muda com o 'click to pay'”, diz o country manager da Visa. “Estamos dando ao débito online o tratamento que o crédito tem, com um experiência melhor. E isso deve dar um grande impulso para o débito online.”
Lopes Alves explica que se a infraestrutura tivesse sido implementada de forma correta no Brasil, o número de pagamento de compras online com cartão seria muito maior - cerca de 60% da população brasileira não tem cartão de crédito e usa o débito como forma de acessar o dinheiro da conta corrente.
“O débito online representa um quarto de todo o volume de compras no mundo e aqui no Brasil é menos de 10%, pela aprovação baixa e a aceitação prejudicada”, diz Lopes Alves.
Para toda a indústria
A responsabilidade da Visa com essa solução vai além do seu próprio negócio. O "click to pay" foi abraçado pela indústria de meios de pagamento e será uma padronização para todos os players.
A ideia global da Visa foi uniformizar a solução para todas as bandeiras - além da própria Visa, Mastercard, American Express e Discover. O "click to pay" vira uma marca de pagamento para o consumidor chegar no checkout e identificar essa opção, assim como faz com os cartões de débito, crédito ou boleto bancário.
“A proposta principal é ter uma forma de pagamento só que vai abranger a mesma experiência para todas as bandeiras, com crédito ou débito”, diz Garcia.
Garcia é o líder desse projeto na Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) e foi o responsável por sentar com as demais bandeiras do mercado brasileiro para identificar as diferenças de cada uma no seu fluxo da transação para padronizar a segurança, com a tokenização, e a autenticação do usuário.
Esse é o segundo grupo liderado pelo executivo da Visa na Abecs. Há três anos ele encabeçou os trabalhos para aumentar a segurança nas transações online com a tokenização. A proposta era olhar todo o ecossistema varejista, das grandes redes ao pequeno varejo.
Esse trabalho deu resultado para a bandeira. Hoje, mais de 60% de todas as transações online no Brasil são tokenizadas. Há três anos, não chegava a 10%. Além disso, o indicador de aprovação aumentou 20% e as fraudes foram reduzidas em um quarto.