A vida da Apple não está nada fácil na China. Depois de uma série de ameaças, duas fabricantes de smartphones locais finalmente ultrapassaram a companhia em vendas, um grande baque para a companhia fundada por Steve Jobs (1955-2011), que sofre para levar sua tecnologia de inteligência artificial (IA) ao país.
Segundo uma pesquisa feita pela consultoria Canalys, as vendas de iPhones na China recuaram 17% em 2024, na comparação com 2023, para 42,9 milhões de unidades. O resultado foi uma perda de quatro pontos percentuais de market share, que passou para 15%.
A queda da Apple ocorreu num ano em que as vendas de smartphones cresceram 4% na China, para 284,6 milhões de unidades, uma recuperação depois de dois anos consecutivos de queda.
O ranking da Canalys mostra a marca chinesa Vivo em primeiro lugar, com a venda de 49,3 milhões de aparelhos no ano passado, alta de 10,8%. Em seguida, aparece a Huawei, que comercializou 46 milhões de unidades, avanço de 37,3%.
A perda de espaço na China não é nova e mostra a pressão competitiva que a Apple enfrenta no país, com marcas nacionais sofisticando cada vez mais seus produtos e promovendo promoções para impulsionar as vendas.
A Apple tem sentido dificuldades em trazer para a China suas principais novidades, como é o caso da Apple Intelligence, por conta da burocracia estatal. Desenvolvido em parceria com a OpenAI, o sistema traz uma versão atualizada da assistente pessoal Siri e programas de texto e edição turbinados pelos modelos de IA criados pela Apple, além de acesso gratuito ao ChatGPT.
A Huawei, que disputa o mesmo público com a Apple, conseguiu lançar no mercado modelos com IA embutidos, além de aparelhos dobráveis, o que estimulou os consumidores a fazerem upgrades dos aparelhos. A companhia também desenvolveu seus próprios microprocessadores, resolvendo um problema que desacelerou o desenvolvimento de seus smartphones.
“O crescimento do mercado em 2024 foi estruturalmente saudável, obtido através de produtos com valor agregado, inovação tecnológica, educação de mercado e recuperação da demanda”, diz Toby Zhu, analista sênior da Canalys, em nota.
A perda de espaço na China é preocupante para Apple, considerando a importância do gigante asiático na receita. O país, por si, representou 17% da receita da empresa no ano fiscal de 2024, encerrado em 28 de setembro – à exceção do Japão, os outros países estão agregados em grupos.
No período, a receita da Apple na China recuou 8%, para US$ 67 bilhões. A receita consolidada, por sua vez, cresceu 2%, para US$ 391 bilhões.
A companhia vem investindo para tentar recuperar o protagonismo na China. O CEO da Apple, Tim Cook, visitou o país três vezes no ano passado. Em uma delas, ele marcou presença em uma loja da companhia, onde gamers disputavam uma competição do jogo Honor of Kings.
A Apple trabalha para liberar sua plataforma de IA no iPhone 16, na esperança de reconquistar o encanto dos chineses pela marca. A questão é se o público está disposto a aceitar a empresa de volta.