Após estabelecer operações no México e na Colômbia, e recentemente investir US$ 150 milhões no Tyme Group, banco digital com operações na África do Sul e nas Filipinas, o Nubank começa a demonstrar que suas ambições internacionais vão muito além dos mercados emergentes.
Em entrevista à agência de notícias Reuters, David Vélez, cofundador e CEO do Nubank, disse que o banco considera mudar seu domicílio legal para o Reino Unido, embora uma decisão não tenha sido tomada, antes de iniciar uma nova fase de seu projeto de expansão global, que pode incluir os Estados Unidos.
Participando do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, Vélez destacou que a empresa não tem intenção de entrar em novos mercados nos próximos 18 a 24 meses, mas a internacionalização é um plano para os próximos dez anos.
Ao mesmo tempo, disse que o mercado americano está se mostrando atrativo após as indicações do presidente Donald Trump de que adotará regulações para estimular bancos digitais e criptoativos.
Se esse plano for de fato colocado em prática, a chegada do Nubank aos Estados Unidos e ao Reino Unido serviria a dois propósitos distintos.
A chegada à terra do rei Charles tem pouco a ver com a possibilidade de inaugurar operações no Reino Unido ou na Europa, onde possui um escritório em Berlim desde 2017. Conforme disse Vélez na entrevista, o Velho Continente não é prioridade do Nubank no mapa de expansão do Nubank, citando questões competitivas e de regulação.
A mudança do domicílio legal – o Nubank está incorporado nas Ilhas Cayman desde 2016 – serviria principalmente para atrair talento e, principalmente, aproveitar as iniciativas do governo do Reino Unido para conquistar empresas de tecnologia ao país, o que pode incluir incentivos fiscais, segundo relatório do Goldman Sachs.
Entre as medidas de fato anunciadas pela administração do primeiro-ministro Keir Steiner está a criação do chamado de Regulatory Innovation Office (Escritório de Inovação Regulatória). O novo órgão governamental foi projetado para simplificar as regulações do país na frente de tecnologia.
Esse tipo de iniciativa parece ter chamado a atenção do Nubank. Segundo apuração da Bloomberg, publicada em novembro, o banco digital trabalhou com o governo do Reino Unido na mudança de sua base legal durante a cúpula de líderes do G20, no Rio de Janeiro. A medida não foi anunciada porque ainda estava pendente de aprovação de órgãos regulatórios britânicos, diz a reportagem.
Já uma eventual ida aos Estados Unidos serviria para ampliar as operações do Nubank. Se for adiante, o banco entraria para disputar espaço num mercado cujo volume de pagamentos é sete vezes maior do que registra em todos os países que atua, somando US$ 12,3 trilhões. Mas sua vida não seria nada fácil.
“O lançamento de operações num mercado desenvolvido representaria um novo desafio para o Nubank, considerando a maior penetração bancária, a menor rentabilidade estrutural e a maior concorrência”, diz um trecho de um relatório do Goldman Sachs.
Além disso, os EUA seriam um mercado em que não conseguiria fazer a mesma disrupção do Brasil por conta da alta penetração de cartões de crédito na população. Enquanto o uso de dinheiro pode chegar a 55% em alguns países, como a Nigéria, nos Estados Unidos representa apenas 12% das transações.
Apesar disso, os analistas do Goldman Sachs avaliam que o modelo de baixo custo unitário e a gestão de riscos do Nubank pode ser uma vantagem competitiva se for replicável.
Outras regiões do mundo apresentam oportunidades de expansão para o Nubank, considerando seu modelo de negócios, segundo o Goldman Sachs.
Com base em critérios como economias com grande escala, baixa inclusão financeira e alta concentração de mercado, os analistas avaliam que o modelo de negócios do banco teria fit em Indonésia, Filipinas, Índia, Vietnã, Tailândia, África do Sul, Nigéria e Turquia.
“Estas geografias apresentam 1,7 bilhão de adultos, o que é cinco vezes maior que o atual mercado endereçável do Nubank, de 300 milhões de pessoas”, diz trecho do relatório.
Em nota ao NeoFeed, o Nubank informou que revisa continuamente sua estrutura jurídica corporativa para alinhá-la com a pegada de suas operações, mas, neste momento, não há qualquer decisão sobre a mudança de domicílio legal “ou de quaisquer outras entidades legais dentro do nosso grupo”.
Por volta das 17h14, as ações do Nubank subiam 5,75% em Nova York, a US$ 12,14. Em 12 meses, os papéis registram alta de 35,6%, levando o valor de mercado a US$ 58 bilhões.