CEO do BMG, Felix Cardamone cumpriu uma pequena “turnê” pelo Nordeste na semana passada. Em cinco dias, ele visitou parceiros da help!, rede de franquias do banco, no Recife, em Fortaleza e Maceió.
A curta passagem é mais uma etapa de uma jornada iniciada em abril de 2023. Na época, o executivo assumiu com o mandato de promover um “back to basics” do BMG, historicamente centrado no público 50+, de baixa renda. E que, nos últimos anos, vinha dando mais peso à sua tese de banco digital.
O banco já tem definidas algumas das próximas escalas dessa volta ao seu DNA: a expansão da sua rede física e o investimento em computação em nuvem e inteligência artificial. Além de uma novidade relacionada ao crédito consignado, outra área pela qual o banco fez sua fama.
“Ainda são apenas os dois primeiros anos, mas esse período já demostra que estamos no caminho correto”, diz Cardamone, ao NeoFeed. “Isso não quer dizer que o trabalho está feito. Brinco que estamos apertando os parafusos o tempo inteiro.”
Um dos principais motores dessa engrenagem, a help! está entre as etapas previstas para 2025. O plano é chegar a cerca de 900 unidades na rede composta atualmente por 825 pontos. Desse total, cerca de 100 unidades são próprias. As demais são tocados por franqueados, com um aporte inicial a partir de R$ 160 mil.
“São eles que identificam se precisamos de uma loja na Paraíba, em Madureira (RJ) ou no Largo 13 (em São Paulo)”, diz João Consiglio, vice-presidente de produtos e comercial do BMG. “Não temos como fazer isso 100% a partir da Juscelino Kubitschek [avenida onde fica a sede do banco, na capital paulista]”.
Já no portfólio, uma boa parcela da atenção está voltada para o novo consignado privado, previsto para ser lançado pelo governo federal em março. E que, entre outras questões, deve ser operacionalizado a partir da base de dados do eSocial.
“Essa modalidade ainda é pequena no Brasil e está concentrada apenas nos pagadores de folha”, diz Flávio Guimarães Neto, vice-presidente financeiro e de sustentação de negócios do BMG. “Ainda falta mais clareza, mas, a princípio, o novo modelo vai dar acesso a uma gama muito maior de bancos.”
Para se ter uma ideia do peso do consignado para o BMG, essa oferta, ao lado da antecipação de FGTS, respondeu por 68% da carteira de crédito total do banco no ano passado, que somou R$ 23,6 bilhões, alta de 10,5% sobre 2023. A inadimplência acima de 90 dias foi de 4,4%, contra 4,3%, um ano antes.
“Estamos otimistas, mas cautelosos para 2025, porque o mercado já está bem tomado de crédito e a inadimplência é sempre um ponto de atenção”, afirma Neto. “Mas temos uma carteira bem conservadora e protegida, que tende a ter um efeito mais anticíclico.”
Gap na nuvem
O BMG também está se movimentando atrás do balcão. Mais especificamente, em tecnologia. O banco está migrando parte de sua infraestrutura para a nuvem. A ideia é chegar a um índice de mais de 70% de suas aplicações nesse modelo, num prazo ainda não definido.
Alguns benefícios já foram capturados. Seu índice de disponibilidade tecnológica saiu de 96,5%, em 2023, para 99,3% no ano passado. E, apesar de largar atrasado nessa corrida, o BMG entende que tem uma vantagem. Se não comparado às fintechs, que já nasceram na nuvem, ao menos em relação a outros rivais.
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“Diferentemente dos grandes bancos, que têm um legado e uma complexidade gigantesca, somos um banco de nicho, com poucos produtos”, diz Cardamone. “Estamos fechando esse gap e já vamos colher bons frutos a partir do meio de 2025.”
Como parte dessa evolução, o BMG já tem cerca de dez projetos de inteligência artificial rodando em paralelo. Um deles envolve a aplicação do conceito para dar mais subsídios e agilizar a elaboração das teses das defesas contra as ações movidas por clientes.
Isso inclui desde a coleta dos registros de todas as interações com a instituição. É possível identificar, por exemplo, o dia, a hora e o canal – com a respectiva gravação – em que um cliente, que alega não ter contratado um cartão do BMG, pede para desbloquear o produto.
Antes de mirar essa lacuna, o BMG fechou a torneira para os investimentos em seu banco digital, que passou a ter outro papel. Ao invés da captação de clientes no mar aberto, sua atribuição agora é rentabilizar e aprimorar a relação com os correntistas que já estão dentro de casa.
“A operação de um banco digital é de alto risco de crédito e com um custo de aquisição de clientes muito elevado”, diz Cardamone. “E esse mercado de mostrou extremamente espremido e com concorrentes muito mais bem estruturados até do ponto de vista de capital.”
Correção de rota
Outras medidas marcaram essa correção de rota desde a chegada de Cardamone, um executivo com extensa bagagem no mercado financeiro e passagens por instituições como Santander e Banco Fibra.
Com a percepção de que era preciso reduzir drasticamente os custos, o banco promoveu cerca de 300 demissões - hoje, são cerca de 1.970 funcionários. E fez uma revisão de 100% dos contratos e de todos os seus investimentos.
Nessa última ponta, em maio de 2024, o banco vendeu a fatia de 50% na Granito para o Inter. Já em setembro, foi a vez de se desfazer da participação na BMG Seguros em uma transação com o Banco Daycoval. Os dois acordos renderam R$ 202,3 milhões aos cofres do BMG.
“Sobre a Granito, no momento, nosso foco maior é pessoa física. Não fazia sentido ter um adquirente”, diz Cardamone. “E a BMG Seguros era uma seguradora de grandes riscos, totalmente apartada do core do banco.”
O banco também identificou projetos que impactavam sua operação, especialmente no que diz respeito à inadimplência. E, nessa esteira, colocou um ponto final em cerca de dez parcerias que mantinha de cartões de créditos com varejistas como Le Biscuit e Novo Mundo.
Em contrapartida, o BMG revisitou toda sua esteira de crédito, cobrança e prevenção à fraude. E decidiu restringir sua oferta a algumas linhas. Além do crédito e do cartão consignado, essa relação incluiu cartão benefício, crédito pessoal, antecipação de FGTS, seguros e atacado.
“O nome do jogo aqui foi foco”, diz Cardamone. “E isso se materializa quando os resultados começam a aparecer. A equipe acaba comprando a estratégia, o conselho fica mais tranquilo e os investidores passam a ver com BMG com outros olhos.”
Outros dados do balanço divulgado na segunda-feira, 17 de fevereiro, trazem mais cor ao retrato atual da operação. Em 2024, o BMG teve um lucro líquido recorrente de R$ 441 milhões, alta de 115,1% sobre 2023.
O resultado operacional de 2024 foi de R$ 687 milhões, frente aos R$ 106 milhões reportados no ano anterior. Enquanto o retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) do ano ficou em 10,7%, ante 5,2% em 2023.
No ano, a margem financeira, após o custo de crédito, teve alta de 17,9%, para R$ 3,1 bilhões. No trimestre, o salto foi de 13,2%, para R$ 815 milhões. O índice de eficiência, que mensura o custo de um banco para gerar receita, teve uma melhora de 5,1 pontos percentuais, para 52,8%.
As despesas de pessoal, administrativas e operacionais tiveram um leve recuo de 0,3% em 2024. O volume de propostas processadas cresceu 29,4%, para 10,4 milhões.
Os papéis do BMG encerraram o pregão da terça-feira, 18 de fevereiro, cotados a R$ 3,88, queda de 2,51%. Em 2024, as ações acumulam uma valorização de 4%, dando ao banco um valor de mercado de R$ 2,25 bilhões.