Os últimos trimestres têm sido desafiadores para a companhia de massas e biscoitos M. Dias Branco, dona de 20 marcas, como Piraquê, Adria, Vitarella e Jasmine.
No terceiro trimestre do ano passado, a empresa entregou números aquém das expectativas dos analistas. No balanço do quarto trimestre e do ano de 2024, houve queda na receita e no lucro da companhia. E no primeiro trimestre de 2025 a receita se repete.
A M. Dias Branco registrou receita líquida de R$ 2,2 bilhões no primeiro trimestre de 2025, alta de 3,2% sobre o mesmo período do ano passado - o consenso da Bloomberg indicava R$ 2,3 bilhões. Esse crescimento, porém, não foi motivado pelo aumento das vendas e sim pela elevação de preços, o que, para a companhia, não é o cenário ideal.
Entre janeiro e março, o volume vendido dos produtos da companhia foi 0,7% inferior ao registrado no primeiro trimestre do ano passado. Foram comercializadas 394,2 mil toneladas de janeiro a março de 2025, ante 397,1 mil toneladas do mesmo período de 2024. Já o preço médio saltou 3,7%.
“Gostaríamos de ter crescido no volume. Isso é um ponto de atenção importante para a companhia. Nossa prioridade é reverter essa tendência”, diz Fabio Cefaly, diretor de novos negócios e relações com investidores da M. Dias Branco, ao NeoFeed.
O lucro líquido da M. Dias Branco nos primeiros três meses do ano também caiu. A empresa alcançou R$ 69,4 milhões, redução de 55,2% sobre o mesmo período de 2024. A diferença é que, ao contrário do volume, a redução do lucro foi motivada por questões externas que elevaram os custos e reduziram as margens.
Em janeiro do ano passado, o dólar estava cotado a R$ 4,90. E, no primeiro mês de 2025, a moeda americana estava valendo R$ 6. Esse aumento de pouco mais de um dólar impacta diretamente os custos da M. Dias Branco, já que os preços das commodities são dolarizados.
No caso do trigo, usado na fabricação de massas, farinhas e pães, o valor subiu 4% sobre o primeiro trimestre de 2024, e, o óleo de palma, utilizado principalmente nas bolachas recheadas e margarinas, registrou alta de 24% no período.
“Quando a gente transforma tudo isso em custos variáveis, o aumento por unidade no primeiro trimestre chegou a 15%. E o preço não cresceu na mesma intensidade. Por isso que o lucro caiu”, diz Cefaly.
No Ebitda, a queda foi de 42%. A margem bruta da empresa caiu de 36,6%, no primeiro trimestre de 2024, para 30,9% nos primeiros três meses de 2025.
A tendência, na avaliação do diretor da M. Dias Branco é que, caso o câmbio permaneça no patamar atual de cerca de R$ 5,60, esse custo relacionado aos principais insumos também caia.
Por outro lado, a companhia registrou uma posição sólida de caixa, acima da dívida da empresa. “Isso mostra que o nosso balanço está extremamente saudável. Em um cenário de Selic a 15% até o fim do ano, estamos com uma boa posição, com ritmo de investimentos mantido”, afirma Cefaly.
O caixa bruto reportado pela empresa foi de R$ 2,29 bilhões, enquanto o montante da dívida chegou a R$ 2,16 bilhões (valor alcançado pelo endividamento total de R$ 2,3 bilhões com a redução de R$ 148,6 milhões de derivativos a receber). A equação gerou um caixa líquido de R$ 132 milhões no primeiro trimestre de 2025.
Dessa forma, a M. Dias Branco apresenta uma alavancagem negativa, já que a empresa não precisa do volume de Ebitda para pagar a dívida. O próprio caixa paga os recursos referentes ao endividamento. Em relação à geração de caixa operacional, a companhia fechou o primeiro trimestre com R$ 280,4 milhões, alta de 103,2% sobre o primeiro trimestre de 2024.
Lição de casa
No fim do ano, a empresa iniciou um processo de reformulação na área comercial da companhia, centralizando a força de vendas em uma única diretoria. Até então, eram duas frentes: uma com olhar para Norte e Nordeste e outra responsável por cuidar das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Em reformulação, o modelo ainda não alcançou a sinergia esperada.
“Temos uma importante lição de casa a fazer. Precisamos reforçar nossa presença nos pontos de vendas, mais pontos extras, executar bem os lançamentos e diminuir o nível de ruptura (falta de produtos nos pontos). Não há uma bala de prata, mas sim um conjunto de ações dirigida à melhoria da execução. A consequência será o aumento do volume”, afirma Cefaly.
A recuperação desse terreno, no entanto, será de forma gradual, segundo o executivo. “O curto prazo pode ter volatilidades não esperadas. Excluindo qualquer surpresa externa, a nossa expectativa é que essa retomada aconteça ao longo do ano”, diz ele. “A gente quer ganhar o jogo com o nosso time mais presente nos pontos.”
Uma das ações, nesse sentido, é aumentar a presença das marcas da M. Dias Branco no Sudeste, que tem participação perto de 20%. No Nordeste, a presença de mercado da empresa ultrapassa 50%.
No acumulado de 2025, as ações MDIA3 na B3 registram valorização de 29,8%. A M. Dias Branco está avaliada em R$ 8,6 bilhões.