"Há exatamente um ano, eu estava na fábrica chorando e tentando entender o que estava acontecendo”, conta a empresária e influenciadora Bianca Andrade, de 30 anos, ao NeoFeed. Seu sonho de ter uma marca própria de maquiagem começava a se transformar em pesadelo. Depois de muita pesquisa e mais de R$ 30 milhões em investimentos, a Boca Rosa estava pronta para estrear no mercado. Pelo menos, era o que Bianca imaginava.
Com mais de 19 milhões de seguidores nas redes sociais, ela anunciou a novidade em uma live de pré-lançamento para 1,1 milhão de pessoas. Em quatro horas, vendeu R$ 5 milhões em produtos, todos em bastão — um formato ainda pouco usual no Brasil.
O tormento começaria à medida em que os primeiros consumidores recebiam suas compras. Dos 64,4 mil itens vendidos, 3% apresentaram problemas, por causa, sobretudo, de embalagens que vieram com defeito. Como nada nas redes sociais passa impune, a questão virou uma bola de neve. E Bianca se viu alvo de uma saraivada de críticas, reclamações e ameaças de cancelamento.
“É engraçado que, no dia do lançamento, eu estava com um aperto no peito que não sabia explicar o motivo", lembra. "Nós tínhamos conseguido: desenvolvemos a maior cartela de cores de base do mercado, com 50 tonalidades, estávamos com fórmulas incríveis e a um preço acessível para nossas clientes. Mas algo não encaixava.”
A fábrica parceira não estava preparada para um volume de produtos tão grande em tão pouco tempo como a demanda da Boca Rosa. Em tese, aos poucos, com o aumento da experiência na produção daquele formato, essas questões seriam resolvidas. Porém, Bianca decidiu não esperar.
Ela escolheu se posicionar abertamente sobre a crise e aceitar as críticas da forma mais vulnerável possível, aceitando o sentimento de suas seguidoras em relação aos produtos.
“Eu criei uma expectativa gigante em toda a minha base de seguidores com esse lançamento e agora eu precisava aceitar que tinha uma consumidora machucada”, diz Bianca.
“A única forma de sair daquela situação era encantando novamente essa cliente e foi isso que nós fizemos: demos um tempo de quatro meses para resolver os problemas e lançamos os produtos, pouco a pouco, com embalagens novas e completamente funcionais”, complementa.
Essa estratégia fez com que o primeiro semestre de 2025 da Boca Rosa fosse marcado por um lançamento atrás de outro, já que todo o cronograma havia sido adiado — o que custou mais alguns milhões aos bolsos da empresária, que investe sozinha no negócio. O último produto da nova leva, o blush da marca chamado "stick cor" acaba de chegar ao mercado.
“Eu acho que só agora estou conseguindo assimilar todo o desgaste que vivi ao longo deste ano. Eu me cobro muito para fazer as coisas acontecerem e serem perfeitas, então foi um grande desafio pessoal e profissional passar por esse momento, que felizmente chegou ao fim”, conta a empresária.

Com a página virada, a Boca Rosa deve lançar produtos e acrescentar ainda mais cores no portfólio. Para a empresária, o foco é seguir levantando a bandeira da diversidade de cores e da praticidade. Hoje, os produtos Boca Rosa são comercializados no e-commerce e em varejistas como Sephora e C&A.
Do Complexo da Maré para o Brasil
Grande parte da resiliência de Bianca vem de sua criação. Nascida no Complexo da Maré, comunidade localizada na zona norte do Rio de Janeiro, ela sempre viu sua mãe, Mônica, batalhar para dar aos filhos alguma qualidade de vida. Esse exemplo fez com que a influenciadora, desde muito pequena, desenvolvesse seu lado empreendedor.
“Eu vendia coisas que fazia na escola. Pulseiras, lacinho de cabelo… então eu gosto de acreditar que nasci empreendedora, quase como algo que peguei da minha mãe. No DNA mesmo”, conta ela.
Sua trajetória na internet, porém, não tinha essa finalidade — pelo menos não no início. Aos 16 anos, ela começou a fazer sucesso com seu blog de dicas de maquiagem, que ela aprendeu sozinha. Em pouco tempo, o conteúdo se transformou em um canal no YouTube, na época em que a plataforma estava em seu auge. O nome, Boca Rosa, veio do batom que ela usava diariamente para ir à escola e virou sua marca registrada.
Aos poucos, sua base de seguidoras foi crescendo e sua influência no mercado de maquiagens também. Em 2018, ela foi convidada pela Payot Brasil para desenvolver sua própria linha de maquiagem e ocupar o cargo de diretora criativa. Em pouco tempo, a marca se tornou milionária, faturando algo próximo a R$ 170 milhões por ano.
Em paralelo, a marca pessoal de Bianca também se desenvolvia. Ela virou embaixadora de gigantes como Adidas e L’Occitane. A fama a levou para o reality show Big Brother Brasil.
A decisão de encerrar o contrato com a Payot foi tomada em 2023, acreditando no sonho de infância de ter algo realmente seu — que deu origem à Boca Rosa. Hoje, ela transita entre a vida de influenciadora, empresária, mulher e mãe do pequeno Cris, de quase quatro anos, o que, segundo ela, é altamente complexo e desafiador, mas muito gratificante.
“Eu fui treinada a ser estratégica pela minha realidade", revela. "Eu sempre precisei ser muito assertiva nas minhas decisões, já que aquela poderia ser a única oportunidade pra mim e eu levo isso para a vida."