O clube das empresas trilionárias voltou a ganhar um membro. Na segunda-feira, 6 de julho, um dia de euforia nos mercados, a Alphabet, holding que controla o Google, voltou a atingir um valor superior a US$ 1 trilhão.
A Apple, que vale US$ 1,6 trilhão, a Microsoft (US$ 1,59 trilhão) e a Amazon (US$ 1,52 trilhão) completam o quarteto. Juntas, elas valem US$ 5,71 trilhões, aproximadamente um quinto do valor de mercado das empresas que compõem o índice S&P 500, que reúne as maiores empresas dos Estados Unidos.
A última vez que essas quatro empresas ultrapassaram essa marca foi no fim de janeiro, antes de a pandemia do coronavírus paralisar a economia mundial e derrubar os mercados acionários ao redor do globo.
Os especialistas acreditavam que a pandemia poderia reduzir os lucros dessas gigantes. Mas, ao contrário, a Covid-19 apenas fortaleceu os serviços digitais. E, por consequência, acelerou a adoção dos produtos das chamadas big tech.
Diante desse cenário, os especialistas começam a se perguntar: qual delas será a primeira a alcançar o inacreditável valor de US$ 2 trilhões?
Não se trata de uma pergunta retórica. A Saudi Aramco, a maior petroleira do mundo, da Arábia Saudita, foi a primeira empresa de capital aberto a atingir esse valor, em dezembro do ano passado – hoje, ela vale US$ 1,9 trilhão.
Até agora, contudo, nenhuma empresa dos Estados Unidos chegou a esse patamar, mas as big tech parecem caminhar para atingir a marca. Há dois anos, os especialistas discutiam se os consumidores se revoltariam com o imenso poder dessas empresas e se um regulação poderia frear o avanço das big tech. Hoje, essa ameaça parece vazia.
Os reguladores discutem novas regras e os ativistas se preocupam com o direito à privacidade. Mas as ações desses gigantes movem-se ... para cima. Os investidores dão de ombro a essas preocupações.
Observe o exemplo do Facebook, que vale US$ 684,6 bilhões. A rede social fundada por Mark Zuckerberg sofre atualmente o boicote de mais de 600 anunciantes. No começo, as ações tiveram um imenso baque a partir de 22 de junho, com queda superior a 10%. Mas, nesta segunda-feira, retomaram ao patamar anterior à crise, valendo US$ 240,28.
"Essas empresas foram beneficiadas pelo novo coronavírus, porque nunca usamos tanto seus serviços e aparelhos”, diz Tarun Wadhwa, professor de ciência política na Universidade de Emory e autor do livro Author, Identified: The Digital Transformation of Who We Are (sem tradução para o português). “Muitos investidores têm agora avaliado o modelo de negócios do setor de tecnologia como 'mais seguros' do que outros."
A visão do mercado é de que as big tech têm ainda um potencial enorme para crescer – e, portanto, de gerar lucros. Elas estão, por exemplo, apenas começando a estender seus tentáculos para outras áreas, como o financeiro e de saúde.
Esse potencial de crescimento é que faz com que o valor de US$ 2 trilhões seja apenas uma questão de tempo. Mas quem poderá chegar lá primeiro?
Wadhwa acredita que Apple e Amazon tenham maiores chances, com uma ligeira vantagem para a empresa de Jeff Bezos. "As novidades e inovações apresentadas pela Apple não têm sido muito empolgantes, mas a marca continua fazendo produtos incrivelmente populares, com uma base de clientes fiel”, afirma. “Mas acredito que o futuro da Amazon é mais claro, porque ela tem espaço para crescer."
A favor da Apple há a sua transição de uma empresa de hardware para serviços, que podem agregar de US$ 60 bilhões a US$ 100 bilhões em receita nos próximos quatro anos nas áreas de wearables e de serviços, respectivamente. E o iPhone não deixará de ser um “cash cow” da noite para o dia, acreditam os analistas.
A Amazon, por sua vez, está se beneficiando da adoção do comércio eletrônico por conta da Covid-19. "Acreditamos que muitos que experimentam pela primeira vez o valor, a facilidade e a conveniência do serviço decidirão mantê-lo, aumentando assim o crescimento da Amazon" escreveu Brent Thill, analista do banco de investimento Jefferies. Para ele, só a AWS, braço de computação em nuvem, pode valer US$ 1 trilhão nos próximos anos.
A Microsoft, na visão de Rob Enderle, fundador e analista da consultoria especializada em tecnologia Enderle Group, é favorita para alcançar a marca de US$ 2 trilhões. Mas por um motivo político. "A companhia de Bill Gates é a única desse grupo que não está sob pressão de leis antitruste e acredito que as demais empresas sejam afetadas por isso antes de atingirem esse patamar mais alto", diz Enderle.
De fato, Apple, Amazon e Alphabet têm sofrido uma série de pressões de autoridades antitruste ao redor do globo. Mas até agora, esses processos, que em geral acarretam em multas milionárias, às vezes bilionárias, pouco afetaram o lucro dessas empresas ou impuseram barreiras para que mantenham seu domínio de mercado.
"É um tema sendo aquecido em fogo baixo, tão baixo que é difícil saber se vai surtir algum efeito", afirma Enderle, que defende ainda a lógica de que o mercado se encarregará de corrigir eventuais desvios de caminho.
A corrida já começou. A Alphabet, que voltou ao clube das trilionárias, parece ser a "azarona" nessa disputa. Mas nunca se deve desprezar uma empresa que controla o Google.
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