O sinal verde que Ricardo Olivieri tanto aguardava para acelerar a operação brasileira da InComm Payments veio no início de 2020. Foi quando a matriz americana da companhia de pagamentos aprovou a estratégia de buscar aquisições, de olho no mercado local de gift cards.

Com um ativo já mapeado, o executivo viu seus planos serem atrapalhados pela Covid-19. Há cerca de um mês, porém, ele restabeleceu a negociação e, como resultado dessas conversas, a InComm Payments anuncia nesta terça-feira, 24 de novembro, a compra da Todo Cartões, startup gaúcha que atua com gift cards e listas de presente no varejo. O valor do negócio não foi revelado.

“Nós temos o produto que eles oferecem nos Estados Unidos, mas não no Brasil”, diz Olivieri, country manager da InComm Payments no Brasil, com exclusividade ao NeoFeed. “E entre tropicalizar e uma aquisição já aderente ao mercado local, optamos pela segunda alternativa. Nossos negócios são 100% complementares.”

Alvo do primeiro acordo da InComm Payments desde que chegou ao Brasil, em 2012, a Todo Cartões foi fundada um ano antes. A empresa cria e gerencia os projetos multicanal de gift cards e de listas de presentes de varejistas em todo o País, o que inclui o processamento e a tecnologia por trás de todas as transações.

A Todo Cartões tem mais de 70 clientes, entre eles, nomes como Riachuelo, Centauro, Outback, RiHappy, Arezzo e Havaianas. E, desde a sua fundação, já gerou um volume bruto de mercadorias (GMV) de R$ 300 milhões.

“Essa capilaridade e nossa inteligência de processamento foram determinantes para chamar a atenção da InComm”, afirma João Espíndola, cofundador e CEO da Todo Cartões. “Ao mesmo tempo, com o acordo, nós vamos ter acesso à tecnologia de ponta e a uma equipe global de referência no setor.”

Com a aquisição, Espíndola e os outros dois fundadores da Todo Cartões, Gregório Rados e Filipe Fortes, passarão a integrar o quadro da InComm, assim como os 30 funcionários da startup. No País, a companhia americana conta com um time de cerca de 40 profissionais.

Gregório Rados (à esq), João Espíndola, Ricardo Olivieri e Filipe Fortes

Fundada em 1992 e com presença em 500 mil pontos de venda, de 34 países, a InComm, por sua vez, tem um portfólio de cartões e serviços de pagamentos em segmentos como pedágios, transporte público e saúde. No Brasil, porém, sua atuação está concentrada na distribuição de gift cards.

Uber, Netflix, Spotify, Google e Microsoft são algumas das companhias que oferecem acesso aos seus conteúdos, serviços e lojas de aplicativos por meio dos cartões e canais viabilizados pela InComm no mercado brasileiro.

A Todo Cartões tem mais de 70 clientes, entre eles, nomes como Riachuelo, Centauro, Outback, RiHappy, Arezzo e Havaianas

“O mercado teve um boom nos últimos anos com a adesão desses players”, observa Olivieri. Ele estima que os gift cards movimentem anualmente entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões no País. “Com os resultados que mostramos, o Brasil entrou no top 5 de prioridades de investimentos da InComm.”

Além da integração com cerca de 30 mil máquinas de POS, para recarga, na ponta do varejo, a empresa cobre cerca de 4,5 mil pontos de venda, por meio de redes como Pague Menos, Ipiranga e Fast Shop. Esses parceiros têm direito a uma comissão a cada cartão ativado ou vendido em suas unidades.

“No Brasil, a InComm ainda é pequena comparada à penetração que tem nos Estados Unidos”, diz Edson Santos, especialista em meios de pagamento, que aponta outro desafio. “Por aqui, os gift cards ainda enfrentam uma barreira cultural para engrenar de vez”, observa ele, sobre o mercado local, que conta ainda com a presença de empresas como as americanas ePay e Blackhawk.

Para ampliar a presença no varejo e, ao mesmo tempo, impulsionar o segmento de gift cards no País, o próximo passo da InComm Payments a partir da aquisição da Todo Cartões é explorar as oportunidades nas bases de clientes das duas companhias, já que não há sobreposição nessas carteiras.

“O foco inicial a partir do dia zero após a união dos dois times é somar os portfólios e levar essa oferta conjunta para o mercado”, afirma Espíndola. “Vamos usar também essa rede de distribuição e a força das marcas para alcançar novos varejistas.”

Olivieri ressalta que o foco, em 2021, será capturar essas sinergias. Ele não descarta, porém, trazer outras soluções do portfólio global para o Brasil, no médio prazo. “Temos algumas ideias, mas nada concreto ainda”, afirma. “Primeiro, vamos atacar o que está disponível e que já tem demanda reprimida no mercado.”

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