Um par de tênis ou uma Porsche Cayenne zero km? Por incrível que pareça, muita gente opta pelo primeiro e, por isso, os tênis Paris Dunks, da Nike, valem mais que a SUV de luxo, sendo cotados em dezenas de milhares de dólares no site da casa de leilões Sotheby's.
O modelo é o mais requisitado da linha Dunk SB, e foi criado especialmente para o evento de arte White Dunk: Evolution Of An Icon, celebrado em Paris, em 2005. Apenas 202 modelos foram produzidos, e cada um traz um trabalho diferente do pintor francês Bernard Buffet (1928-1999).
É praticamente impossível identificar o destino de cada tênis da coleção. Mas, ao menos de um deles, se sabe o paradeiro: os pés do rapper Travis Scott, que arrematou o item na plataforma StockX, especializada na revenda de sneakers desejados, por US$ 20 mil.
Essa cifra elevada não é uma exceção. Muitos outros itens da moda também receberam preços estratosféricos com o bater do martelo. Entre eles, um agasalho da marca americana Supreme, de 2017, que foi leiloado por mais de US$ 6 mil em Nova York. Detalhe: seu preço de varejo era US$ 935.
Alguns componentes ajudam a traçar os caminhos que levam algumas peças de roupas e acessórios vendidos em lojas tradicionais aos leilões milionários mundo afora. "O preço reflete o desejo", resume ao NeoFeed Iskander Lemseffer, colecionador que já foi dono da maior galeria de street art dos Estados Unidos.
Para o especialista, a velha lei da oferta e da procura também se aplica ao mundo das artes e das peças colecionáveis. Mas outros elementos compõem essa equação. "Leva-se em consideração a estatura social da marca ou do artista, a trajetória da peça e, claro, o histórico de preço do item em questão", afirma Lemseffer. "Apesar de toda essa lógica, o valor de uma obra de arte ou artigo colecionável ainda é uma convenção."
Isso explica porque nem todos os produtos "únicos" de marcas famosas chegam ao status de item colecionáveis. Apesar de algumas opiniões irem na direção contrária, como destacou a designer Meg Randell, da casa de leilões londrina Bonhams.
Em entrevista ao The Wall Street Journal, Meg declarou que "até pouco tempo atrás, havia essa crença de que qualquer coisa com um logo da Supreme à venda, decolaria".
Da mesma forma, Nike, Adidas, New Balance e outras grifes lançam tênis todos os anos, mas poucos modelos se destacam a ponto de virar um item de colecionador, mostrando que não existe uma fórmula mágica.
Há, porém, algumas percepções interessantes acerca desse mercado. O administrador Rogelio Bahena, de 26 anos, fã da Supreme, disse ao The Wall Street Journal que as colaborações da Supreme “normalmente disparam” em valor, às vezes, logo no dia do lançamento.
Isso explica porque a bola de basquete Supreme Spalding, de 2016, foi vendida por US$ 10 mil em um leilão de 2018, e uma corda de pular Supreme Everlast, lançada em 2014, foi arrematada por US$ 1,2 mil, no mesmo ano.
Outra característica que ajuda a valorizar um produto é casar a parceria com a escassez e lançar itens com a associação de duas marcas em edição limitada. Essa foi a estratégia adotada pela Nike com Nike Dunks assinados pelo grafiteiro nova-yorkino Futuro. Em setembro, a Sotheby's anunciou a venda de 24 pares dessa linha e arrecadou US$ 63 mil.
Enquanto itens desse porte exigem muito dinheiro, uma alternativa é investir em modelos com grande potencial a ser explorado no longo prazo. Isso porque, quando uma marca apresenta designs mais novos de um determinado modelo, os designs mais antigos geralmente começam a decolar no mercado de leilões.
Para Lemseffer, a melhor estratégia é se concentrar nas peças que parecem destinadas a serem “memoráveis” num futuro próximo. "No fim das contas, acertar a mão nesse segmento é como garimpar ouro: é preciso bastante trabalho braçal de procura e um bom olho para identificar a real pedra preciosa".
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