O executivo Renato Franklin comanda a Movida, empresa de locação de automóveis avaliada em R$ 5,9 bilhões na B3. Agricio Neto trabalhou por quase duas décadas na operadora de tevê por assinatura Sky e foi CEO da Claro TV. O empresário Vittorio Danesi fundou e ainda está à frente da Simpress, hoje uma empresa da HP. A executiva Monica Herrero atua no conselho de administração da Stefanini. E Claudio Raupp é gerente-geral da HP.
Os cinco nomes citados acima fazem parte de um seleto grupo de executivos que resolveu se "aventurar" no mundo do venture capital. Eles são membros do BR Angels, um grupo de investidores-anjos que reúne 160 CEOs, empreendedores e executivos C-levels das principais empresas brasileiras que estão, desde 2019, investindo em startups.
Assim como a maioria dos grupos de investidores-anjos que existem no Brasil, o BR Angels segue um processo longo até que um investimento seja feito – ele envolve uma rigorosa seleção, diversos pitches dos empreendedores a membros do grupo e uma votação, com quórum qualificado de dois terços, para decidir por um aporte.
Mas o que diferencia esse grupo dos demais investidores-anjo do Brasil é o perfil de seus membros – a imensa maioria de altos executivos ainda em atividade em grandes empresas do Brasil. Outra diferença é a responsabilidade que assumem quando aceitam participar do BR Angels. “Todos os membros são obrigados, por estatuto, a dedicar quatro horas por mês de mentoria às nossas investidas”, diz Orlando Cintra, um ex-executivo com passagens em empresas de tecnologia como SAP, Informatica e HP/EDS e fundador e CEO do BR Angels.
A mais recente delas a fazer parte do grupo de investidas é a LandApp, uma plataforma de logística de materiais e resíduos sólidas da construção civil, que acaba de receber um cheque de R$ 1,7 milhão, revelado com exclusividade ao NeoFeed. O GVAngels, grupo de investidores-anjos composto por ex-alunos da Fundação Getulio Vargas, também participou do aporte.
“Conectamos caminhoneiros a grandes construtoras, que precisam transportar materiais e resíduos de sua obra de forma segura e confiável”, diz Matheus Protti, que fundou, em 2020, a LandApp com sua irmã Mayara e já conquistou clientes como as construtoras Tenda, Cyrela, Cury, Porto Ferraz, Trisul, Gafisa, entre outras.
Esse é o décimo investimento do BR Angels, que ainda não saiu de nenhuma startup em que apostou. Desde que iniciou suas atividades, o grupo já investiu na Mindminers, na Chiligum, na Nvoip, na Home Agent, na VUXX, na iRancho, na Dialog, na CustomerX e na Autoforce. Elas receberam cheques que começam em R$ 300 mil e podem chegar até R$ 3 milhões – no total, os aportes já somaram R$ 15 milhões.
O dinheiro para os investimentos são levantados em batches, como são chamadas a formação dos grupos de investidores. Três batches já foram realizados. Na prática, eles são o equivalente a uma captação de um fundo de venture capital tradicional. Nessas captações, o BR Angels conseguiu um “soft commitment” de seus membros de R$ 45 milhões.
Cintra se prepara agora para o quarto batch, no qual pretende atrair mais membros para o grupo de investidores, bem como captar aproximadamente R$ 15 milhões. “O interesse das pessoas em fazer investimento em venture capital cresceu muito. Temos mais de 50 pessoas interessadas nesse novo batch”, diz o CEO do BR Angels, que teve a ideia de criar o grupo em um jantar com amigos para discutir sobre incentivo ao empreendedorismo.
Em um momento de alta competição no mercado de venture capital, com os investimentos tendo atingido US$ 3,2 bilhões até maio deste ano (90% de tudo o que foi investido em 2020), por que as startups gostariam de receber um cheque do BR Angels?
A LandApp, que é uma espécie de Uber para transporte de resíduos de canteiros de obras, conta com 300 caminhoneiros autônomos na cidade de São Paulo e vai usar os recursos captados acelerar o lançamento de novos produtos para chegar à marca de mil caminhões ativos. Mas os fundadores da empresa esperam mais do BR Angels.
“O dinheiro é importante, mas o capital humano é o que mais queremos ter nessa jornada empreendedora”, diz Mayara Protti, da LandApp, que agora passara a contar não só com os recursos para acelerar sua startup, como também com a rede de executivos do BR Angels.
Pode parecer discurso de marketing – afinal, todos os fundos dizem que ajudam os empreendedores em sua jornada empreendedora (o que de, fato, é verdade). Mas, no caso do BR Angels, isso ganha uma escala exponencial por conta do número de conexões do grupo.
Um bom exemplo disso são as portas que podem ser abertas por esses executivos. São mais de 1,5 mil empresas em que os “investidores” do BR Angels podem ajudar a marcar uma reunião. “Quer apresentar o produto para alguém do Carrefour, do Pão de Açúcar ou da XP? Sempre tem alguém que conhece um C-level lá”, diz Agricio Neto, ex-CEO da Claro TV, um dos membros mais ativos do BR Angels.
Além disso, o BR Angels conta com grupos temáticos para ajudar as suas investidas em temas como vendas, clientes, planejamento e gestão, finanças e tecnologia, entre outros temas. “A maioria dos fundos investe e cobra resultados”, diz Agricio Neto, que participa de vários desses grupos. “Nós queremos ajudar as startups a dar certo quanto mais novas elas forem.”
Renato Franklin, o CEO da Movida, por exemplo, já ajudou de diversas formas, dando mentoria sobre growth, estrutura comercial, comércio eletrônico e abordagem sobre clientes corporativos. “Como executivo, traz um aprendizado e uma conexão com esse mundo das startups”, diz ele. “Eles falam que ensinamos, mas a gente aprende muito mais.”