Era para ser uma lua de mel em Orlando. Mas Heverton Cardoso, atual CEO do grupo Steel Home, foi tomado por um tipo diferente de encantamento na viagem ao ver como as casas eram construídas por lá. “Com estrutura de aço e tudo a seco, sem alvenaria”, lembra ele, com entusiasmo, ao NeoFeed.

Com estrutura de aço, é bom que se diga, ele já tinha familiaridade uma vez que trabalhava erguendo galpões industriais com o pai, em Suzano (SP). Daí seu interesse súbito em meio as férias românticas. Afinal, quem casa quer casa. “Era um método todo industrializado, limpo, rápido, sem desperdício.”

Ele trouxe o empreiteiro brasileiro que conheceu em Orlando e que trabalhava com o sistema para ensinar a técnica. “Montei e desmontei a primeira casa três vezes até começar o negócio”, lembra. A primeira obra com steel frame (painel com aço, ultrawall e placa cimentícia) foi na rua da empresa do pai, em 2013.

De lá para cá, Cardoso e a irmã e sócia Caroline Siqueira criaram um ecossistema verticalizado de construção a seco de alto padrão que deve faturar R$ 550 milhões, o dobro de 2022, mas “em carteira devemos chegar em R$800 milhões”, diz ele. Há um ano o empresário Roberto Justus entrou na sociedade, tem 30% do negócio, e hoje preside o conselho do grupo.

“Eu vislumbrei uma oportunidade num mercado ainda incipiente no Brasil, onde apenas 4% constrói a seco. Esse é o setor, o da construção civil, que menos avançou, continua como nos anos 60“, disse Justus ao NeoFeed. “Há um potencial enorme de crescimento para a construção industrializada quando se quebra a barreira de resistência de steel frame versus alvenaria.”

Casa do jogador de futsal Falcão, num condomínio em Sorocaba
Casa do jogador de futsal Falcão, num condomínio em Sorocaba

O Grupo Steel Home engloba construtora, duas fábricas de placas cimentícias (a Placlux) na Bahia, fábrica de esquadrias (Steel Glass), seis lojas Steel Home Store de materiais para construção a seco pelo país, empresa de logística (Steel log), laboratório químico, academia de formação profissional, frente de tecnologia com app para o cliente acompanhar a obra em tempo real e empresa de marcenaria e mobiliário.

Há ainda a fintech Steel Bank, que tem como objetivo “rentabilizar nossos investidores, com uma debênture que hoje paga em 1,5% ao mês, facilitar o pagamento para os clientes da construtora e antecipar recebíveis dos nossos lojistas. Hoje temos R$35 milhões em recursos em nosso ‘minibanco’”, conta Caroline.

Esse ano na área residencial, a Steel Home fechou a encomenda de 42 casas no condomínio de luxo Helvetia 5, em Indaiatuba (SP). “O projeto é do João Armentano e conseguimos reduzir o tempo da alvenaria de 20 meses para 11 meses de obra.” Há ainda entregas em outros “três condomínios que ainda não podemos anunciar. Com isso nosso resultado deve ficar meio a meio, entre residencial e corporativo”, diz ele.

Casa em Alphaville (Campinas): recorde de 360 m² em 90 dias
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Também está abrindo a primeira linha de montagem de casas de médio padrão, de forma seriada, em Santo André (SP), para atender grandes condomínios, com capacidade de produzir mil unidades por ano, o que vai permitir entrar em um novo segmento de mercado.

“Com escala, nosso m² de alto padrão em torno de R$ 6 mil pode cair para R$ 4 mil, e se torna mais acessível.” Nesse modelo, uma casa de 42 m², por exemplo, em um terreno já preparado, pode ficar pronta em dez dias.

O grupo ainda está finalizando o plano para uma expansão internacional na Flórida. “A gente identificou um gap numa região do estado que trabalha mais com wood frame (painéis de madeira). Estamos em conversa com um distribuidor local para podermos exportar nossos painéis para lá”, conta Cardoso.

No portfólio do grupo há casas de alto padrão em diversos condomínios de luxo no interior de São Paulo, como na Fazenda Boa Vista, até edificações corporativas como centros de distribuição e logísticos para a Amazon, Mercado Livre, Magazine Luiza, Renner. A empresa está á frente da reforma e expansão da casa de 4 mil m² da fazenda do próprio Justus, no interior de São Paulo.

A companhia entrou em crescimento acelerado com a pandemia, quando as pessoas resolveram erguer rapidamente suas casas no campo. E, pelo lado corporativo, a expansão do e-commerce fez a demanda por centros de distribuição se ampliar.

Arena MRV: 40 mil m² de painéis e construção dos camarotes
Arena MRV: 40 mil m² de painéis e construção dos camarotes

A Steel Home também é chamada para finalizar obras que têm prazo de entrega definido por contrato, como no caso do estádio MRV, do Atlético Mineiro, e até por construtoras como Vitacon, Racional e Método. No ano passado a Steel Home entregou 340 mil m² construídos.

Um dos atributos desse modelo de construção é a sustentabilidade. “Um metro quadrado de construção a seco consome 5 litros de água, contra 500 litros da alvenaria.” Por utilizar um material mais leve, também reduz o custo de fundação.

Por ser um método previamente planejado e modular, o tempo de construção encolhe para um terço do modelo tradicional. “Entregamos uma casa de 800 m², inclusive mobiliada, em seis meses. Usando menos mão de obra e não gerando resíduos”, diz Caroline.

Fazenda de Justus de 4 mil m² de área construída: revitalização e ampliação
Fazenda de Justus de 4 mil m² de área construída: revitalização e ampliação

“Não queremos substituir a alvenaria. Apenas que a construção a seco seja também incorporada como método construtivo, até porque há um imenso déficit habitacional no país e os métodos tradicionais são muito lentos”, completa ela.

Segundo Cardoso, a construção civil é o penúltimo setor em inovação no PIB brasileiro, só fica na frente da pesca. "Para atuar nesta área, tivemos que industrializar todo o processo, criar essa engrenagem que se retroalimenta.”

A decisão de montar a fábrica de “impressão de paredes” que “são muito mais resistentes que o dry wall”, em Anagé (BA), foi pelo clima que permite a secagem mais rápida. O painel estrutural da empresa “leva aço, placa cimentícia com fibra de vidro que só nós fazemos no Brasil, membrana para evitar umidade, lã de vidro para a acústica que isola até 32 decibéis contra 12 decibéis da alvenaria. Não é de papel como nos filmes de Hollywood”, explica Caroline.

O painel já sai da máquina exatamente como foi projetado com as aberturas para tubulação, instalação, elétrica, gás, automação, portas, janelas e até os furos para ser montados. Para viabilizar o transporte, a companhia criou uma empresa de logística que também atua para terceiros.

“A gente pode levar uma carga para a Ambev e trazer nossos painéis e isso zera nosso frete.” Por dia, carregam 9 das 22 carretas da frota própria com placas para vir para São Paulo.

A concorrência hoje, diz ele, se dá em etapas do processo. Só em construção um player nesta área é a Brasil ao Cubo. Em lojas de materiais especializados a disputa pode ser com Fas Drywall, por exemplo. “Mas ninguém é verticalizado como nós, o que nos permite cumprir todos os prazos.”