A procura global por petróleo, gás natural e carvão tende a começar a cair até o fim desta década, abrindo caminho para uma transição energética com aumento de produção de energia solar, eólica e nuclear, com os carros elétricos (especialmente os chineses) dominando o mercado automotivo mundial.
A previsão de que o mundo está no “no princípio do fim” da era dos combustíveis fósseis foi feita pelo turco Fatih Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), organização intergovernamental independente.
“Estamos testemunhando o início do fim da era dos combustíveis fósseis e temos que nos preparar para a próxima era”, escreveu Birol, em artigo publicado nesta terça-feira, 12 de setembro, no jornal inglês Financial Times - no mesmo dia que o preço do barril do petróleo atingiu US$ 90, a maior alta em quase dez meses, numa mostra da queda de braço que virá pela frente.
A AIE, que é ligada à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), afirmou no ano passado que a procura agregada de combustíveis fósseis poderia atingir o pico por volta de 2030. Mas agora adiantou as suas projeções porque a implementação de tecnologias renováveis acelerou nos últimos 12 meses.
Os dados completos das projeções do órgão serão publicados no próximo mês, no Relatório Global de Energia da AIE.
Birol atribuiu o “ponto de virada histórico” principalmente ao “crescimento espetacular” da energia limpa, motivada pela transição acelerada da Europa para longe do gás após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Ele também destacou as mudanças estruturais na economia da China - migrando das indústrias pesadas com uso intensivo de energia para o setor de serviços -, além do domínio do país dos mercados globais de painéis solares e de veículos elétricos.
“Nos últimos 10 anos, a China foi responsável por cerca de um terço do crescimento da procura de gás natural a nível mundial e por dois terços do crescimento da procura de petróleo”, escreveu Birol. “As energias solar, eólica e nuclear irão consumir o crescimento potencial do carvão na China.”
Parte dessa transição está sendo acelerada com a rápida expansão dos carros elétricos chineses. No ano passado, as vendas de veículos elétricos na China totalizaram 6,9 milhões de unidades, um aumento de 93,4% em comparação com o ano anterior.
Além disso, as 40 montadoras de veículos elétricos (das 139 que operam na China) exportaram quase 350 mil unidades para nove países europeus no primeiro semestre do ano, mais do que exportaram em todo o ano de 2022.
"Riscos financeiros"
A própria AIE já havia detectado “o princípio do fim” da era dos combustíveis fósseis. De acordo com o relatório de investimento em energia mundial da agência, divulgado em março, cerca de US$ 2,8 trilhões devem ser investidos globalmente em energia até o final de 2023.
Desses, mais de US$ 1,7 trilhão devem ser destinados a tecnologias limpas – incluindo renováveis, veículos elétricos, a polêmica energia nuclear, redes, armazenamento, combustíveis de baixa emissão, melhorias de eficiência e bombas de calor. O restante, pouco mais de US$ 1 trilhão, vai para carvão, gás e petróleo.
“Novos projetos de combustíveis fósseis em grande escala acarretam não apenas grandes riscos climáticos, mas também grandes riscos financeiros”, alfinetou Birol no artigo.
Ele advertiu, no entanto, que a redução do uso de petróleo, carvão e gás natural não é suficientemente acentuada para colocar o mundo no caminho de limitar o aquecimento global a 1,5ºC.
“Isso exigirá uma ação política significativamente mais forte e mais rápida por parte dos governos”, acrescentou, sugerindo uma política governamental padrão de aumento dos investimentos em energias renováveis.
Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, alertou este mês que as políticas climáticas da União Europeia, com subsídios à energia limpa, correm o risco de levar os eleitores a votar em partidos populistas.
A questão econômica de fato é um fator de risco para essa transição. Enquanto o diretor da AIE decretava “o início do fim” da era dos combustíveis fósseis, os preços do petróleo tiveram nesta terça-feira uma alta de 2%, a maior em quase dez meses, devido a uma perspectiva de oferta mais restritiva.
O aumento ocorreu depois que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) manteve as suas previsões de um crescimento robusto da procura mundial de petróleo em 2023 e 2024, citando sinais de que as principais economias estão mais fortes do que o esperado.
O relatório mensal da Opep prevê que a procura mundial de petróleo aumentará 2,25 milhões de barris por dia em 2024.