A Nude nasceu há menos de dois anos, após os empresários Giovanna Meneghel e Alexander Appel vislumbrarem na Alemanha o potencial do mercado de substitutos lácteos à base de aveia, matéria-prima que já fazia parte da história familiar do casal (o pai de Giovanna é dono da SL Alimentos, focada na produção de cereais de inverno).

Nesse curto espaço de tempo, a foodtech lançou cinco versões de leite vegetal e recebeu dois aportes financeiros: um inicial, de R$ 2 milhões, e outro em janeiro, de R$ 25 milhões durante uma rodada série A liderada pela Vox Capital.

A jogada, que ainda contou com a participação dos fundos Lever VC (de Singapura), Endeavor Scale-up Ventures, Ecoa Capital e Angel Ventures (do México), fez o valuation da empresa novata subir para R$ 125 milhões e os planos de crescimento acelerarem. “É um caminho sem volta. Isso está claro para a gente”, afirma Appel.

Esta semana o executivo aproveitou o evento anual da Apas (Associação Paulista de Supermercados) para antecipar ao varejo o lançamento de sua primeira bebida proteica pronta para beber. Segmento estimado em cerca de R$ 600 milhões ao ano, no Brasil, e hoje dominado pela Danone, com a linha de lácteos YoPro.

Com investimento de R$ 5 milhões para pesquisa e desenvolvimento, marketing, comunicação e capital de giro, o objetivo da empresa é conquistar 10% desse universo. “O mercado de suplementos é gigante, principalmente com os proteinados, que vêm substituindo os lanches tradicionais. Mas não existia por aqui nenhuma opção vegetal que trouxesse a conveniência do produto to go”, observa o executivo.

“Esse produto não estava nos nossos planos originais, mas vimos uma oportunidade grande de sair na frente de grandes players. Essa velocidade para lançar inovações e abrir portas é a vantagem de ser uma startup”, completa.

À base de aveia e ervilha, a nova bebida deverá chegar ao mercado só em julho em três sabores: caramelo com flor de sal, cacau e café com baunilha. Todos com 15g de proteína assegurados em cada embalagem de 250 ml. A expectativa é que o proteinado se torne uma importante porta de entrada para novos consumidores.

“Nosso grande desafio é convencer o público do leite de vaca a transicionar para o vegetal. Mas se você consegue que a entrada em uma categoria seja feita direto por um produto a base de planta fica muito mais fácil, porque não há comparação.”

Além ajudar a superar o preconceito gustativo, a bebida proteica também deverá auxiliar na quebra da barreira do preço, uma vez que a distância de valores se torna menor. Enquanto um litro de leite de vaca é vendido por R$ 5,40, graças ao volume e inúmeros subsídios, e o leite vegetal de aveia a R$ 20, a diferença nas bebidas proteicas será de R$ 8 para R$ 12. “O gap passa a ser menor e isso pode estimular a troca”, estima Appel.

Outra oportunidade de crescimento que chega com o produto é a abertura de novos canais de venda, como farmácias e lojas voltadas ao público fitness. Por enquanto, a presença em 500 a 600 lojas das redes Droga Raia e Drogasil, por exemplo, já está garantida. “Nunca imaginei que um dia o leite vegetal estaria no canal farma.”

Alexander Appel e Giovanna Meneghel vislumbraram na Alemanha o potencial do mercado de substitutos lácteos à base de aveia

Atualmente, o Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de suplementos alimentares depois dos Estados Unidos e Austrália, superando a casa dos R$ 2,6 bilhões, de acordo com estimativas da Associação Brasileira das Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri) e da Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos Para Fins Especiais (Brasnutri). Mundialmente, o mercado deve ultrapassar os US$ 252 bilhões em 2025, segundo estudos da Future Market Insights.

Junte a isso os prognósticos para o mercado global de alimentos à base de plantas que, de acordo com relatório da Bloomberg Intelligence deve crescer cinco vezes até 2030, chegando a US$ 162 bilhões. Movimento alavancado pelos intolerantes à lactose (doença que atinge 35% dos brasileiros), e o crescente número de vegetarianos (14% dos brasileiros), veganos e flexitarianos (grupo formado por aqueles que adotam a alimentação vegetariana no dia a dia, mas eventualmente comem carne, e que, segundo o Ibope já representavam 50% da população em 2020, frente 29% em 2018).

No mercado de laticínios vegetais, a Nude enfrenta a concorrência de startups como a Vida Veg, Naveia e a Nomoo que, por sinal, promete para os próximos meses o lançamento de um shake proteinado e achocolatado. Ampliando o portfólio planted-based, a disputa se dá também com a chilena NotCo, avaliada em US$1,5 bilhão depois de um aporte de US$ 235 da Tiger Global, e que tem o Brasil como principal mercado.

Em março, a Nude colocou definitivamente o pé no segmento culinário com o lançamento de seu creme de aveia – segunda categoria de alimentos plant based que mais cresce no mercado americano –, e já vê o resultado de vendas ultrapassar levemente a estimativa inicial de chegar aos 5% do faturamento total.

Apesar de saber que no mercado de laticínios o segmento de cremes representa menos de 5% e a penetração dos leites vegetais frente ao de vaca é de apenas 2% no Brasil (contra 15% nos EUA e 9% na Europa), o produto cremoso tem função estratégica. “Ele nos permite atingir cozinheiros que não necessariamente conhecem nossos leites vegetais, mas ao usá-lo nos preparos vão ajudar a formar e quebrar barreiras junto ao público em geral”, diz Appel.

Na próxima semana, a empresa dá início ao contrato de distribuição nacional recém-firmado com o grupo Pão de Açúcar. Com isso a Nude elevará para 2.500 o número de pontos de vendas da marca em todo País. Sem contar com as mais de 700 cafeterias, incluindo as 150 lojas da rede The Coffee, que garantem ao Barista – versão mais cremosa do leite de aveia padrão – o título de bestseller da empresa.

Com produção atual na casa dos 3 milhões de litros ao ano feitos no moinho paranaense, onde há capacidade instalada para até 10 milhões de litros de bebidas vegetais, o objetivo é romper a casa dos R$ 100 milhões de faturamento nos próximos doze meses. O montante atual é estimado na casa dos R$ 60 milhões.

“Ainda esse ano devemos lançar outras linhas menores de suporte à marca. Mas não nos vejo indo para análogos de carne. A inovação pode ir de sacos de flocos de aveia a queijos”, despista. Atualmente, 80% da produção é dedicada aos leites.

Sem esconder o desejo de tornar a Nude a "maior empresa de produtos inovadores a base de aveia da América Latina, "com possibilidade de abertura de capital em cinco a dez anos, Alexander Appel deu início em outubro de 2021 a um teste de internacionalização da marca, no Uruguai.

“Aproveitamos que nosso head de vendas é de lá e começamos a enviar produtos. Já estamos presentes em 40 cafés e cerca de 50 lojas de varejo”, conta. A projeção é que o mercado absorva 100 mil litros de leite de aveia nesse ano.

Como o crescimento acelerado, a ideia de abrir uma nova rodada de financiamento fica latente. “Por enquanto, conseguimos levantar o suficiente para passar pelas eleições com calma. Mas, sem dúvida, no próximo ano vamos precisar de mais investimento. Talvez a partir de outubro a gente comece a falar com o mercado”, adianta.