Mountain View (Califórnia) – De gole em gole, Carlos Brito encheu o copo – e o bolso – de muita gente. Por 15 anos, o brasileiro foi CEO da AB InBev, a maior cervejaria do mundo, avaliada em US$ 110 bilhões e com mais de 160 mil funcionários mundo afora.
Esses números que "descem redondo" para qualquer acionista foram servidos com colarinho por Brito, que liderou, em 2016, uma das maiores operações financeiras do mundo. Foi nessa época que a então AB InBev, que é dona da Ambev no Brasil, desembolsou US$ 100 bilhões para a compra da SAB Miller.
Embora tenha deixado o posto de em julho de 2021, o ex-CEO da AB InBev continua obcecado por números e processos. Prova disso foi o papo que fez com Jeff Wilke, ex-CEO da Amazon Consumer, durante o Brazil at Silicon Valley, em Mountain View
No papel de entrevistador, Brito acabou respondendo a si próprio em algumas oportunidades, como quando questionou o colega, no fim da apresentação, sobre as três principais dicas para uma empresa crescer e ganhar escala. Wilke respondeu: comunicação, competência e coragem.
Ao longo da apresentação Brito fez várias considerações sobre esses 3Cs, ilustrando com o o período em que comandou a AB InBev. Confira:
Comunicação
"Ninguém lava um carro alugado e uma empresa bem-sucedida não quer e não pode ser, para o funcionário, um carro alugado. É importante que o grande sonho da companhia seja compartilhado a ponto de inspirar pessoas de diferentes países, das mais variadas culturas. Uma internacionalização bem-sucedida só acontece assim: com todo mundo engajado."
Coragem
"Tomar decisões é aceitar correr riscos e isso pede coragem. A liderança precisa ter essa valentia, abraçando as falhas como um aprendizado. Gosto de dizer que, assim como Copérnico mostrou que o centro do universo não era a Terra, mas sim o Sol, um líder tem de lembrar a todos que o centro do universo não é a empresa em si, mas o consumidor. E, às vezes, é preciso fazer escolhas que talvez não sejam as melhores para o negócio, mas são para os consumidores".
Competência
"Padrões e processos são necessários para crescer. Você pode ter uma empresa muito humanizada e tratar tudo com bastante informalidade, mas quando quer ganhar escala, é preciso ter protocolos que se traduzam para outras culturas e línguas. A competência de gerir um time multicultural está justamente nisso, em criar uma cultura que não têm atritos ao cruzar uma fronteira. Acho que, no nosso caso (da AB InBev), a nossa liderança era baseada no bom senso, o que tornava as coisas mais fáceis. Também contou para o nosso sucesso o fato de sermos uma empresa pública, mas controlada por um grupo privado. Esse controle nos deu, em muitos casos, a autonomia para ir contra a correnteza e fazer o que achávamos mais acertado a longo prazo".