Era janeiro de 2020. O novo coronavírus ainda levaria dois meses para ganhar o status de pandemia. Mas o início da escalada de contaminações começava a ganhar espaço, na mesma proporção, no noticiário global. Foi quando Vinicius Pereira, em viagem de férias pela Escandinávia, percebeu que a Covid-19 chegaria com força no Brasil.

Assim que retornou ao País, o fundador e CEO da Eco Diagnóstica, empresa mineira especializada em testes rápidos, não hesitou. Em poucos dias, a companhia deu início à movimentação em sua fábrica instalada em Corinto (MG) para produzir testes capazes de identificar o vírus.

O diagnóstico feito por Pereira se confirmou nos meses seguintes, com os duros impactos trazidos pela Covid-19. Entretanto, o que ele dificilmente conseguiria prever era o reflexo das decisões tomadas à frente da Eco Diagnóstica no desempenho da empresa.

A companhia fechou 2020 com um faturamento de R$ 617 milhões. O montante representou um salto de nada mais, nada menos que 2.368% sobre o resultado apurado em 2019, de R$ 25 milhões. Em outro indicador, a Eco Diagnóstica cresceu mais de 24 vezes de um ano para outro.

“Esse é o maior faturamento da história de uma empresa nacional de diagnóstico in vitro”, diz Pereira, em entrevista ao NeoFeed. “Valores assim, só as multinacionais, como Abbott e Siemens. Nenhuma companhia local chegou nesse patamar.”

A participação dos testes do novo coronavírus nessa jornada foi decisiva. Sem esse expediente, o faturamento da Eco Diagnóstica no período teria sido de R$ 45 milhões. Um avanço substancial, de 80%, mas nem de longe comparável à performance impulsionada pelos negócios relacionados à pandemia.

O primeiro passo para chegar a esses números foi a busca pela certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na primeira relação divulgada pelo órgão, em março, três dos oito testes aprovados eram produzidos pela companhia. São eles Covid-19 IgG/IgM Eco Teste, Eco F Covid-19 Ag e Covid-19 Ag Eco Teste.

Obtida essa chancela, na sequência, foi preciso adequar a capacidade de produção. "Já tínhamos a estrutura física para dar conta da demanda. Quando construímos a fábrica, queríamos chegar a 100 mil unidades diárias”, diz Pereira. “Só não imaginamos que atingiríamos esse patamar tão rápido."

Em 30 dias, a Eco passou a usar todas as cinco salas de produção da unidade. Antes, apenas duas estavam em funcionamento. Para ampliar a capacidade, foi preciso comprar equipamentos importados que, por sorte, estavam disponíveis em estoque no fornecedor da empresa.

O investimento em maquinário foi de R$ 150 mil. Outros R$ 500 mil foram destinados à ampliação da equipe que, em pouco mais de um mês, passou de 70 para 270 profissionais. Dividido em dois turnos, hoje esse time produz 100 mil testes por dia.

Esse volume é distribuído a redes de laboratórios e hospitais pelo Brasil. Entre os clientes estão Albert Einstein, Hermes Pardini, Dasa, Fleury e Sabin. As unidades também são vendidas em redes de farmácias como Raia Drogasil (RD), Araújo, Pacheco e Panvel.

Vinicius Pereira, fundador e CEO da Eco Diagnóstica

Já o setor público responde por uma participação de cerca de 10% desse total. Desde o início da oferta, a companhia já comercializou mais de dez milhões de testes rápidos de Covid-19. Além da movimentação da empresa, outros fatores contribuíram para alcançar esse número.

Por alguns meses, a Eco foi a única a fornecer um tipo específico de diagnóstico. Lançado em junho, o teste para detecção de antígeno (Ag), indicado logo nos primeiros dias em que há sintomas, não teve concorrentes até o início de outubro, quando a farmacêutica americana Abbott passou a oferecer no País um produto semelhante.

"A Eco Diagnóstica conseguiu se posicionar como líder por vários motivos", diz Carlos Eduardo Gouvêa, presidente da Câmara Brasileira de Diagnósticos Laboratoriais (CBDL).

Para ele, a posição forte no setor de testes rápidos, os contratos já estabelecidos com fornecedores de ponta em outros países e a relação com as farmácias foram fatores determinantes. "Foi fundamental colocar o teste para Covid em mais lugares, entendendo onde o consumidor estava", afirma.

E as perspectivas para 2021 seguem positivas. “Já chegamos um faturamento de R$ 50 milhões no ano”, diz Pereira. Em fevereiro, a companhia vai colocar no mercado um novo teste de Covid-19, capaz de detectar anticorpos neutralizantes e identificar se a pessoa está, de fato, protegida com a vacina. O teste poderá ser realizado de 15 a 20 dias após a vacinação. “Estamos apostando muito nesse produto para esse ano”.

Desde o início da oferta, a companhia já comercializou mais de dez milhões de testes rápidos de Covid-19

À frente da operação de guerra implantada em 2020, Pereira já tinha uma boa bagagem no segmento de diagnósticos rápidos. Antes da companhia, ele criou a Bioeasy, que foi vendida, em 2011, para a Alere, comprada posteriormente pela Abbott. Para fundar a Eco, o empreendedor usou recursos próprios e contou com a ajuda de três sócios: duas farmacêuticas e um técnico em agronomia.

Em 2015, quando a fábrica de Corinto entrou em operação, a Eco faturou R$ 1,5 milhão. Três anos depois, a empresa foi pioneira nos testes para detectar o zika vírus. E, com a demanda pelo diagnóstico rápido nessa frente, viu seu faturamento dobrar na comparação com 2017, para R$ 10 milhões.

De olho na agropecuária

Hoje, o portfólio de soluções em testes rápidos da Eco para a área de saúde humana inclui ainda exames de dengue e HIV. Desde 2016, a Eco passou a oferecer também diagnósticos para animais. “Começamos com pequeno porte, como cães e gatos, mas logo depois passamos para os de maior porte”, explica Pereira.

A área de veterinária é responsável por 15% do faturamento da empresa. Com os novos recursos obtidos no ano atípico de 2020, a Eco vai alocar R$ 5 milhões no segmento, divididos em R$ 3 milhões para pets e outros R$ 2 milhões para a pecuária.

O montante pode parecer pequeno. Mas assim como aconteceu no início da pandemia com os testes de Covid-19, a empresa está praticamente sozinha na área de diagnósticos para a pecuária, especialmente no setor de produção de leite.

O potencial de mercado é enorme. O Brasil é um dos maiores produtores e consumidores de leite do mundo. A projeção do Ministério da Agricultura indica um valor bruto de produção de R$ 41,3 bilhões em 2020, alta de 12,5% em relação a 2019.

“Trabalhamos com o conceito de diagnóstico ao pé da vaca”, afirma Pereira. Os tipos de teste que a Eco realiza são disponibilizados por outros fornecedores, mas são feitos nos laticínios, não em campo. O que a empresa fez foi facilitar o acesso direto do produtor aos diagnósticos rápidos.

O mais conhecido pelos pecuaristas é o KetoVet, aparelho que faz o controle da cetose bovina, uma desordem no período entre o final da gestação e o início da lactação que pode dar origem a várias patologias. “Temos mais de 4 mil unidades funcionando em todo o Brasil”, diz José Artur Chaves, diretor comercial da Eco.

A área de veterinária é responsável por 15% do faturamento da empresa

A solução mais recente é o Milk Farm, um teste de resíduos de antibióticos no leite. No ano passado, o aparelho venceu o desafio de startups Ideas for Milk, promovido pela Embrapa, com foco na busca de soluções para a cadeia de produção do leite. O teste identifica oito tipos de resíduos em pouco tempo e envia os dados diretamente para o smartphone do produtor.

Como diversas outras soluções brasileiras, o equipamento é projetado para driblar os problemas de infraestrutura tecnológica no campo. Os dados ficam armazenados, mesmo offline, e são disparados para o celular assim que o dispositivo se conecta a uma rede. E a bateria funciona por dez horas.

O teste é comercializado em três formatos. O pecuarista pode comprar o aparelho - o valor é mais alto, mas os testes ficam mais baratos. Há um formato de aluguel com pagamento mensal e um preço reduzido para os testes.

A terceira opção é o comodato, com o acesso ao aparelho condicionado à aquisição de pacotes de testes a um valor um pouco maior. O equipamento pode custar pouco mais de R$ 6 mil, e o preço dos testes fica entre R$ 12 e R$ 14, dependendo do modelo escolhido.

A empresa já tem unidades do Milk Farm rodando em clientes como a Agrindus, no interior do estado de São Paulo. Considerada uma fazenda modelo, a empresa produz a linha de leite Letti. O objetivo para 2021 é ampliar a base de usuários da solução.

Há mais novidades no portfólio da área de veterinária para grandes animais. Um teste para identificação já está pronto e com unidades em estoque. Ao longo do ano, serão lançados testes de prenhez bovina e para a identificação da mastite, doença que reduz a produção do leite e pode causar a morte dos animais.

Olhando para o que a empresa conquistou em 2020, Vinicius Pereira diz que até hoje se surpreende. “É uma coisa surreal. Às vezes, a gente acorda e duvida do que está acontecendo. Essa história rende um filme”, diz.

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