A força de um banco de investimento é medida pela quantidade de negócios que consegue originar às empresas que o contratam, de aberturas de capital a M&As, passando por estruturas financeiras complexas. Na prática, quanto mais zeros depois de um número, melhor. É um sinal de que a instituição está trilhando o caminho certo e se destacando nesse universo cada vez mais competitivo e aquecido do mercado brasileiro.
Mas nem todas as empresas conseguem acessar esse universo, por conta necessidade de escala e de cifras altas. É nesse espaço, em que os bancos os bancos de investimentos, em geral, dão pouca atenção, que a Virgo quer atuar.
“Quero construir uma nova abordagem de banco de investimento na Faria Lima”, diz Daniel Magalhães, CEO da Virgo, que recebeu um investimento minoritário da XP em setembro deste ano. “É uma atividade de banco de investimento, mas pensada como um marketplace.”
O plano de Magalhães é atuar como um “banco de investimento” para empresas que faturem de R$ 100 milhões a R$ 700 milhões em operações que movimentem de R$ 5 milhões a R$ 50 milhões.
Segundo uma fonte da área disse ao NeoFeed, essa é uma faixa em que os principais bancos de investimento da Faria Lima torcem o nariz. “São operações que não mexem o ponteiro dessas instituições”, afirmou.
A jogada da Virgo é estruturar operações para médias empresas e unir investidores institucionais a esses negócios através de um marketplace, no qual eles escolhem as transações que querem participar.
De acordo com Magalhães, a plataforma da Virgo, que surgiu da Isec Participações, que prestava serviços de securitização, conta com mais de 135 investidores institucionais cadastrados.
Sem citar nomes, a lista inclui gestores, family offices, multifamily offices e algumas corretoras. “Eles têm acesso as operações escolhidas e selecionadas pela Virgo”, diz o empreendedor.
São operações como CRAs (Certificados de Recebimento do Agronegócio), CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários), debêntures, CCB (cédulas de crédito bancário) e notas promissórias comerciais.
Empresas como a sorveteria Bacio de Latte, a rede de fast food Taco Bell, escritórios de advocacia e algumas incorporadoras foram algumas das empresas que usaram o marketplace da Virgo para captar recursos.
“Há uma demanda muito grande para atender essas empresas”, afirma Rafael Durer, fundador da RD, consultoria especializada em varejo financeiro. “Essas companhias não são bem atendidas pelas instituições financeiras, que oferecem produtos amarrados e de prateleira.”
Até agora, a Virgo conta com 29 operações contratadas no marketplace, das quais 15 foram liquidadas. A meta é chegar a R$ 1 bilhão em captação neste ano. Nessas operações, a Virgo ganha um fee fixo, que pode variar de R$ 200 mil até R$ 700 mil. “Não fazemos spread, o que torna as operações mais competitivas”, diz Magalhães.
A Virgo conta com 29 operações contratadas no marketplace, das quais 15 foram liquidadas. A meta é chegar a R$ 1 bilhão em captação neste ano
Os próximos passos da Virgo são entrar em antecipação de recebíveis, capital de giro (já faz para o setor imobiliário e vai passar a oferecer a empresas do agronegócio e da indústria) e em equity para o setor imobiliário.
Nesse último item, a Virgo acaba de fazer um investimento minoritário, revelado com exclusividade ao NeoFeed, na Captal através da Virgo Ventures, um fundo de corporate venture capital, que está buscando startups que possam ajudar no desenvolvimento de sua plataforma
A Captal, que é o terceiro investimento da Virgo Ventures, desenvolveu algoritmos que ajudam uma incorporadora a escolher terrenos para construir. “Sabemos precificar e usamos dados privados e públicos para lastrear a decisão”, diz Leonardo Vianna, CEO e cofundador da Captal.
Mas, em vez de vender a solução ao mercado, a Captal faz parcerias com as incorporadoras e participa do negócio atraindo investidores, tornando-se sócia do empreendimento. Em 12 meses, participou de 11 operações de incorporações com R$ 400 milhões de VGV (valor geral de vendas).
Com o aporte, a Captal vai se plugar ao marketplace da Virgo para oferecer os empreendimentos aos investidores institucionais da plataforma. “É estratégico para os dois lados”, afirma Vianna. “Nós entramos com a oportunidade de investimentos em incorporação imobiliária e a Virgo com a capacidade de originação.”
A atuação da Virgo não se restringe a fazer conexões de empresas e investidores institucionais. Ela busca também ativamente as companhias que possam precisar de seus serviços. Mas a prospecção nunca é direta e sempre feita via parceiros.
Com o investimento da XP, por exemplo, ela fez uma parceria com os escritórios autônomos da empresa de Guilherme Benchimol para atender operações abaixo de R$ 50 milhões.
A empresa está também construindo sua própria rede, que conta atualmente com 150 parceiros. São, de acordo com Magalhães, ex-bancários, escritórios de advocacia e corretoras que entendem da demanda das empresas e trazem até a Virgo para estruturar operações.
A partir daí, a equipe da companhia, que conta com 72 funcionários, entra em campo para estudar a demanda e o risco através de uma análise detalhada dos principais indicadores da empresa e para propor o melhor modelo para captação. “Fazemos um assessment de risco”, diz Magalhães. “Mas quem toma risco são os investidores.”
Na prática, a Virgo funciona como as plataformas de crowdfunding, que selecionam startups e fazem processos de captação de recursos junto a investidores, numa espécie de oferta de ações. Por esse motivo, Magalhães diz que a companhia é rigorosa no processo de escolha.
“Todas as operações precisam passar por um comitê”, afirma Magalhães. Neste ano, foram analisadas 800 oportunidades de captação de recursos. Destas, 60 foram aprovadas. E apenas 30 foram efetuadas junto aos investidores.
Para atrair os investidores, a Virgo estrutura operações com um prêmio, em geral, um pouco mais alto do que o mercado. Algumas têm rentabilidade de IPCA + 6%. A maior do marketplace foi de IPCA + 11,5%. Esse é um sinal de que o risco pode ser alto. Assim como o retorno.
No acumulado de 2021, o saldo das operações de crédito para micro, pequenas e médias empresas chegou a R$ 780,9 bilhões em julho, alta de 28,5% em relação a um ano antes.
É um mercado que está se tornando cada vez mais disputado. Não só entre os bancos digitais que cresceram entre pessoas físicas e começaram também a tentar atrair a pessoa jurídica, como Nubank, Inter e C6, mas também com aqueles que já nasceram especializadas, como LetsBank, Linker e Conta Simples.