No início de agosto, Sergio Saraiva encerrou uma passagem de 19 meses à frente da Rappi no Brasil. Substituído por Tijana Jankovic, ele deixou o dia a dia, mas segue como sócio e advisor da operação. E já tem um novo destino para dividir seu tempo e atenção.

Nesta terça-feira, 7 de setembro, Saraiva foi nomeado oficialmente como o mais novo membro do board da healthtech brasileira Medpass, onde atuará como chairman de operações. Além do cargo, ele terá direito a uma fatia – não revelada – na startup, que estará atrelada à entrega de resultados.

“Foi uma transição suave, planejada e sem nenhum ruído”, diz Saraiva, ao NeoFeed, sobre a saída do cargo de CEO da Rappi no País. “Agora, tenho tempo para me dedicar a outros projetos, entre eles a Medpass, um negócio altamente escalável, como a própria Rappi.”

A aproximação com a Medpass teve início há quatro anos, no Cubo, hub de inovação instalado em São Paulo. Na época, Saraiva, que também atua como investidor, frequentava o local por conta de duas startups do seu portfólio e conheceu a healthtech, cujo projeto estava sendo gestado.

“Nós começamos, efetivamente, há três anos, com a ideia de desenvolver uma inteligência médica a partir de dados integrados”, afirma Hans Apostel, cofundador da Medpass. Desde então, a startup já recebeu cerca de US$ 20 milhões em aportes, entre recursos próprios e de investidores.

O modelo que atraiu esse montante e a atenção de Saraiva envolve uma plataforma de saúde baseada em serviços de telemedicina, mas que busca ir além desse formato, ao oferecer um atendimento personalizado a cada paciente.

“Não acreditamos em modelos baseados puramente em telemedicina. Nós também usamos esse recurso, mas como meio e não como fim”, explica Apostel. “Muitas plataformas desse tipo pipocaram durante a pandemia, mas poucas devem sobreviver.”

Para se diferenciar dessa massa, a Medpass coleta, gradativamente, uma série de informações do usuário, além de reunir todas as suas interações com o sistema. Esses dados, por sua vez, alimentam um arsenal de mais de 150 algoritmos, que ajudam a traçar o perfil e as necessidades de cada paciente.

A partir dessa base, a healthtech, por meio do assistente virtual Ben, faz alertas sobre medidas preventivas e eventuais consultas e tratamentos. Ao mesmo tempo, em cada atendimento, o time de cerca de 30 médicos da plataforma tem à disposição a todo histórico desse indivíduo.

“É como se fosse um prontuário eletrônico que vai seguindo toda a experiência e a jornada do usuário”, observa Saraiva. “E que vai sendo refinado a cada interação desse paciente com a plataforma.”

Essa proposta está dividida em segmentos como “médico da família”, “saúde mental” e “saúde da mulher”. E inclui ainda descontos de até 70% em medicamentos e exames. Hoje, a startup tem parcerias com redes e laboratórios como Pague Menos, DPSP, Fleury e Dasa.

Além de serviços de telemedicina personalizados, a Medpass oferece descontos em exames e medicamentos

Com assinaturas semestrais ou anuais, há duas maneiras de acessar a plataforma. A primeira, no segmento B2B, por meio das áreas de recursos humanos de empresas que oferecem a ferramenta como benefício aos seus funcionários. Essa carteira tem nomes como Accor, Edenred e Grupo Interbrok.

Em uma segunda abordagem, bastante centrada no conceito da “gig economy”, a Medpass fecha contratos com companhias cujos modelos de negócio incluem bases significativas de prestadores de serviços. A Rappi é um dos nomes que integram essa base.

Com um currículo que inclui uma carreira de mais de 20 anos na Ambev e na AB Inbev, além de passagens por empresas como Cielo e a própria Rappi, uma das atribuições de Saraiva será ajudar a atrair mais clientes e parceiros para a plataforma.

“Não estarei no dia a dia da operação”, explica Saraiva. “Mas como tenho experiência no digital, em operações, em ecossistema e tenho muitos contatos, a ideia é abrir portas e aproximar a empresa do mercado.”

Apostel acrescenta outras funções no escopo do novo sócio. “Ele vai monitorar contratações, o budget, a estratégia comercial e a integração das equipes de tecnologia da informação e de produto.”

Além da saúde

Em paralelo às suas ocupações no board da Medpass, Saraiva também vai dedicar parte de seus dias aos investimentos que mantém em um portfólio de nove startups, além do assento no Conselho de Administração da Stefanini, grupo brasileiro de tecnologia.

Além de centrar seus investimentos em empresas novatas que usam justamente a tecnologia para resolver problemas de um determinado setor, um fator, em particular, tem um grande peso na escolha dos projetos aos quais ele destina recursos: os empreendedores por trás das startups.

“Quando uma startup ainda tem todo um caminho pela frente, mais do que um bom projeto, o empreendedor tem que saber ouvir e entender que alguém pode ter uma opinião melhor que a dele”, afirma. “E, ao mesmo tempo, tem que ser capaz de pivotar quando preciso.”

Dentro do seu portfólio, um dos exemplos é a Somei, startup fundada em 2019. A empresa tinha como proposta inicial oferecer uma plataforma para auxiliar microempreendedores individuais a turbinarem suas vendas em canais digitais.

Com a entrada de Saraiva como um de seus investidores, há cerca de um ano e meio, a startup acrescentou outros elementos a esse modelo. Hoje, na prática, a empresa reúne grandes bases de MEIs para negociar descontos em uma série de serviços de interesse desse público.

“Hoje, esses empreendedores pagam mais caro ao comprar diretamente e individualmente um serviço”, afirma Saraiva. “A ideia é usar os benefícios da escala para reduzir esse custo.”

Sob essa abordagem, atualmente, a Somei já tem parcerias nesses moldes com empresas como a Cora, de conta digital para PMEs, e o Mercado Pago, fintech do Mercado Livre. “Podemos seguir nesse modelo em diferentes segmentos, como seguros, e em parcerias com empresas como a própria Medpass.”