O ano de 2019 tinha tudo para ser histórico. Depois de muito tempo, algumas das mais estreladas startups do Vale do Silício tinham planos de ser tornarem públicas. A lista incluía Uber, Lyft, Pinterest, Slack, entre muitas outras que haviam anunciado seus planos de abrir o capital.

E, de fato, ao longo de 2019, essa previsão se concretizou. De acordo com levantamento da CB Insights, 22 companhias de tecnologia fizeram sua estreia na bolsa de valores nos EUA ao longo de 2019, contra 19 em 2018. A máxima histórica desse levantamento apontava para 2014, quando 33 startups começaram a vender suas ações nos Estados Unidos.

Mas os resultados foram decepcionantes. Ações das companhias que se tornaram públicas nos EUA no ano passado estão sendo negociadas, na média, 23% acima dos preços de seus IPOs, de acordo com a Dealogic. É um pouco menos do que avançou o índice S&P 500, o principal dos EUA, que valorizou aproximadamente 30%.

Os IPOs de empresas de tecnologia tiveram um desempenho pior. As ações dessas startups subiram, em média, 8%, bem abaixo do índice Nasdaq Composite, que avançou 38%.

Entre nove companhias que captaram mais de US$ 1 bilhão, os papéis dos aplicativos de transporte Uber e Lyft estão sendo negociados com uma desvalorização superior a 30%. As ações da SmileDirectClub, por exemplo, desabaram mais de 60% em relação ao preço do IPO.

Elas não são as únicas a terem desempenho decepcionante. Slack, Pinterest e Zoom Video também têm seus papéis negociados abaixo da cotação de quando abriram o capital. Vale lembrar do WeWork, um dos grandes fiascos de 2019, que tentou e não conseguir fazer o seu IPO.

O que explica esse resultado? Uma série de fatores, incluindo avaliações sobrevalorizadas, ausência de lucro e preocupações em relação à governança. Tudo isso colocou um freio no que poderia ser um ano recorde para a captação de recursos por meio de IPOs (sigla de “initial public offerings).

Em 2019, as empresas que se tornaram públicas captaram US$ 62,3 bilhões, bem abaixo da expectativa de que poderiam superar 1999, quando foi levantado aproximadamente US$ 108 bilhões.

Apesar disso, 2019 é o ano que mais recursos foram captados nas bolsas de valores dos EUA desde 2014, quando o site de comércio eletrônico chinês Alibaba abriu o capital na Bolsa de Nova York (Nyse) e levantou, só ele, US$ 25 bilhões.

Para o professor de finanças da Universidade de Indiana, Joseph Fitter, as startups estão preferindo ficar privadas por mais tempo antes de abrirem o capital. "É sempre mais interessante para uma companhia manter seu capital fechado, de forma que passa a ser natural, nesse boom de investimentos de empresas de venture capital, ocorrer um número menor de IPOs", disse Fitter, ao NeoFeed.

Uma consequência direta deste fenômeno, segundo Fitter, é que as companhias que acabam recorrendo à abertura de capital somente o façam quando suas avaliações já estejam elevadas. Isso explica porque 2019 foi o ano recorde para a estreia das empresa unicórnios, que valem mais de US$ 1 bilhão, na bolsa.

O que esperar de 2020?

Apesar da quantidade de IPOs de empresas de tecnologia em 2019, os resultados foram ruins, sinalizando que os investidores estão mais seletivos e cobrando resultados das companhias que decidem se tornarem públicas.

Com base nisso, a consultoria CB Insight, especializada em startups, listou as empresas que têm maior probabilidade de abrirem o capital em 2020. Segundo ela, 23 startups têm potencial de se tornarem públicas.

O nome mais aguardado é o do site de hospedagem Airbnb. Mas ele deve optar por uma listagem direta, como fizeram Spotify e Slack, na qual os custos são menores e não há intermediários, como os bancos de investimentos, para a formação do preço da ação.

Os demais nomes que saíram da seleção da CB Insights não são tão conhecidos do grande público, como eram Uber, Lyft e Pinterest. No topo do ranking está a GitLab, uma empresa de software que levantou US$ 436,2 milhões com investidores como Google Venture, Tiger Global Management e Y Combinator. Com produtos usados por mais de 100 mil empresas, a GitLab foi lançada em 2014, em São Francisco, onde ainda mantém seu escritório.

Os cofundadores do GitLab, Sid Sijbrandij (à esq.) e Dmitriy Zaporozhets

Na sequência da lista aparece a Snowflake, que é uma espécie de "galpão" para serviços em nuvem. Segundo o Crunchbase, a startup já levantou US$ 928,9 milhões desde a sua fundação, em 2012. Um dos investidores é o Sequoia, um dos principais fundos de venture capital do Vale do Silício.

Já a Tiger Global Management, maior investidora de unicórnios em 2019, aposta suas fichas na terceira colocada da lista: a Credit Karma, uma fintech de finanças pessoais. Na ativa desde 2007, a empresa usou parte dos US$ 369 milhões levantados com fundos de venture capital para concluir a compra de sete outras startups.

A primeira plataforma ao vivo de desenvolvimento 3D ocupa a quarta posição. Apoiada pela Sequoia e DFJ Growth, a Unity começou suas operações em 2014 e, desde lá, já levantou US$ 1,3 bilhão, de acordo com dados do Crunchbase.

Completa o ranking das cinco principais apostas da CB Insights para abrir o capital em 2020 a Procore, uma companhia de software para gerenciamento de construções, lançada em 2002. Junto a Tiger Global Management e fundos de venture capital, levantou US$ 304 milhões.

A lista da CB Insights inclui Asana, Squarespace, Roblox, Databricks, Freshworks, Wish, Blend, DoorDash, AvidXChange, Fanatics, ServiceTitan, StockX, InVision, Braze, Outreach, HashiCorp e Tanium.

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