Nesta semana, a B3 começou a registrar recebíveis de cartões em seus sistemas. Na prática, a bolsa de valores brasileira passou a operar como uma espécie de cartório digital, em que todos os registros de recebíveis ficam expostos.

A partir da plataforma, se uma empresa antecipa ou utiliza recebíveis como crédito para uma determinada operação, o valor deduzido será registrado na B3, impedindo que o saldo total seja ultrapassado.

O pontapé inicial nesse novo campo foi dado com a Marvin, fintech que facilita o uso do saldo de maquininhas de cartão para a geração de crédito.

Vale destacar que esses primeiros registros não foram relacionados à antecipação de recebíveis. Isso porque a Marvin opera com um modelo alternativo de antecipação.

Fundada em 2021, por Bernardo Vale, ex-BTG Pactual, Stone e Monkey Exchange, e por Henrique Echenique, ex-Itaú e Cerc, a fintech aposta em um modelo em que o crédito das maquininhas é repassado diretamente para as empresas. Focado no B2B, a ideia é diminuir o risco no fornecimento de crédito principalmente para pequenos empreendedores e franqueados de grandes empresas.

“É um modelo semelhante ao Barter. Mas neste caso é o saldo que vira moeda”, diz Vale, em entrevista ao NeoFeed. O Bartner é um modelo de crédito agrícola em que o agricultor dá a sua safra como garantia para a compra de defensivos para usar na lavoura.

Para ganhar dinheiro, a Marvin cobra um take rate em cima do saldo que será recebido pelas empresas. O percentual não foi revelado. “Houve uma revolução na jornada de pagamentos nos últimos anos no B2C, mas o B2B ainda opera, em geral, com o boleto”, diz Vale. “Funciona, mas não no ponto de vista de prover crédito.”

Bernardo Vale, CEO e cofundador da Marvin

Com um ano de operação, a Marvin projeta que entre 20 mil e 25 mil pontos de venda utilizarão o método de pagamento alternativo até o fim do ano. Por ora, a companhia o principal cliente da companhia é O Boticário.

A empresa já realizou duas rodadas de captação de investimentos de valor não revelado junto a nomes de peso do mercado, como Canary e Mauá Capital. Na última injeção de capital, a fintech foi avaliada em R$ 65 milhões.

O registro de recebíveis passou a ser obrigatório no País em 2021, quando uma circular do Banco Central entrou em vigor. Esse registro era feito pelas empresas TAG, do grupo Stone, pela CERC Central de Recebíveis e pela Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), sociedade civil sem fins lucrativos.

A entrada da B3 neste segmento deve trazer mais competição a esse mercado. A bolsa vai atuar num primeiro esforço junto a fintechs de crédito e bancos pequenos e médios. O foco está em potenciais financiadores de recebíveis de cartões.

“O objetivo é oferecer infraestrutura de alta qualidade com o intuito de viabilizar novos tipos de negócios”, afirma Fernando Bianchini, superintendente de Produtos da B3. “Existem muitas possibilidades de negócios já saindo do papel e que só são possíveis pelo registro de recebíveis.”

O mercado é gigantesco. De acordo com a Abecs, entidade que representa o setor de cartões no País, este setor movimentou R$ 2,65 trilhões no ano passado, cifra que deve aumentar para R$ 3,2 trilhões em 2022.