Prestes a se tornar corretora, a EQI Investimentos, com R$ 14,5 bilhões sob custódia e R$ 1,5 bilhão sob gestão em sua asset, dá hoje mais um passo para criar um ecossistema ao seu redor. A companhia, ex-XP e hoje sócia do BTG, acaba de comprar 49% da casa de análise Monett, que entrega relatórios, cursos e recomendações de investimentos por vídeo.

O valor do negócio não foi revelado, mas trata-se de uma preparação para a EQI, hoje um escritório de agentes autônomos, ampliar seu portfólio de serviços quando receber o aval final do Banco Central para virar corretora – algo que é esperado ainda neste semestre.

“Com esse negócio, juntamos a fome com a vontade de comer. Eu precisava de uma research que entregasse um conteúdo mais humanizado e eles aumentarão a base de assinantes com a nossa entrada”, diz Juliano Custódio, fundador e CEO da EQI ao NeoFeed.

Hoje, a Monett, lançada em outubro do ano passado, tem 3 mil assinantes e, com o negócio, os 55 mil clientes da EQI, aos poucos, receberão assinatura da casa de análise. “Vamos subsidiar a assinatura da Monett para os nossos clientes”, diz Custódio. Além de oferecer o conteúdo, será também uma chance a mais de monetizar.

Ao assistir os vídeos e as teses de investimentos, os assinantes vindos da EQI encontrarão um botão para que possam investir naquela determinada recomendação. Outra possibilidade estudada é a de criar um canal de conversa com o assessor de investimentos daquele determinado assinante.

Custódio diz que, no ano passado, viu muitos de seus clientes embarcarem em recomendações furadas vindas de influenciadores das redes sociais e perderam muito dinheiro. Esse teria sido também um dos gatilhos para que ele visse um grande valor na Monett.

“Muitos investidores se jogaram demais no mercado de ações comprando investimentos com base em análises de Instagram e Twitter”, diz Custódio. “Tenho muitos clientes que perderam dinheiro seguindo as recomendações desses artistas do Instagram.”

A ideia de entregar esse conteúdo de vídeo da Monett para os clientes é, de certa forma, uma espécie de proteção para a empresa. “Vamos oferecer um conteúdo bonito, como os dos caras que seduziram os meus clientes no Instagram, mas com conhecimento técnico elevado”.

Juliano Custódio, fundador e CEO da EQI Investimentos

As conversas entre a EQI e a Monett foram iniciadas no início deste ano. Como Custódio sentia a necessidade de criar uma área de research para encorpar seu ecossistema, pediu para que o CMO da EQI, Patrik Castilho, buscasse profissionais do setor para montar uma estrutura internamente.

Castilho, entretanto, voltou com uma proposta diferente. E se a EQI investisse em uma casa de análise inteira? Foi aí que Custódio iniciou as conversas com Alonso. E a conclusão do deal foi rápida. Em dois meses, o contrato estava assinado.

“Fizemos com a Monett algo que aconteceu comigo na venda do BTG. Não adianta comprar 100% da empresa porque, senão, perde a essência.” Alonso e os sócios-fundadores Helena Margarido, Rodrigo Carlini, Felipe Paletta, Luiz Cesta e Leonardo Pontes, trabalharam em algumas casas conhecidas, corretoras e bancos.

Alonso, por exemplo, esteve na Empiricus, ajudou a montar a Inversa, em 2017, onde foi CEO, até criar a Monett, no ano passado. E a ideia foi mastigar para o investidor os produtos que geram renda, mostrar o que eles podem comprar.

“Criamos a Monett para ser a Netflix dos investimentos”, diz ela. Todos os relatórios de research são programas de vídeos, consumidos por streaming. Tal qual uma Netflix, a empresa tem um catálogo formado por mais de 500 vídeos como longas-metragens, minisséries, cursos.”

Por uma assinatura de R$ 49,90 por mês, a empresa criou um modelo de personalização para cada usuário. Ao entrar na plataforma, automaticamente, o assinante responde a algumas perguntas como o conhecimento em investimentos; formatos que costuma usar; categorias de conteúdos como recomendações, filmes e séries.

Olivia Alonso, fundadora e CEO da Monett

Os ativos e estratégias de interesse também podem ser selecionados. Entre as opções estão ações, fundos de renda fixa, fundos imobiliários, criptomoedas, startups, multimercados e assim por diante. Em seguida, o usuário cadastra seus objetivos de retorno como imediato, curto, médio ou longo prazos. E, por fim, o risco versus o retorno.

Para se ter uma ideia, são mais de 100 horas de programação produzidas por nove produtoras de cinema parceiras da casa de análise. “Temos filmes de investimento de impacto, de investimento em startup, de análise de fundos quantitativos”, diz Alonso.

Em média, cada longa-metragem tem entre 60 minutos e 90 minutos, os filmes de recomendação têm entre 13 minutos e 15 minutos. As pílulas têm entre 1 minuto e 4 minutos. São vídeos como “Blockchain 2022: O destino das criptomoedas", "O que é liquidez?”, “Cannabis: O investimento do Bem", "Portfolio Monett", "Mais dividendos", entre outros.

Nas mãos dos concorrentes

“O jeito de se comunicar com as pessoas mudou, as pessoas passaram a ir atrás de casas de análise. E, quando a gente viu o que a Monett fazia, um research bem diferente, percebemos que a gente precisava deles”, diz Custódio.

Mas análises e cursos em vídeos, “esse jeito diferente de se comunicar”, não é uma exclusividade da Monett. A Inversa, onde Alonso trabalhou, já faz isso. Thiago Nigro, do Grupo Primo, também tem uma plataforma, a Finclass, que cobra R$ 39,90 pelo plano anual. A corretora Rico Investimentos também aposta em uma plataforma de "entretenimento" para o investidor.

https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=zSSRaOebDds&feature=youtu.be

Além da forma de se comunicar, há, evidentemente, outros motivos por trás da decisão da EQI de buscar uma casa de análise “prontinha”. Quase não há mais empresas de research independentes disponíveis no mercado. Nos últimos dois anos, esse setor passou por um grande processo de aquisições.

Com exceção da Nord Research, outras empresas, aos poucos, foram absorvidas por bancos e plataformas. O BTG Pactual, por exemplo, comprou a Empiricus, de Felipe Miranda. A XP, por sua vez, se tornou sócia da Levante, da Ohmresearch, da Suno e, por tabela, da Eleven, casa que foi comprada pelo banco Modal, adquirido recentemente pela empresa de Guilherme Benchimol.

“Nossa ideia é ser uma corretora diferente das outras e, para isso, precisamos falar com o cliente do jeito que ele quer.” O grosso do público, diz Custódio, gosta de vídeo. Mas isso não quer dizer que a EQI focará só em vídeos. A empresa terá uma equipe interna, batizada de EQI Research, que vai desenvolver relatórios tradicionais.

Esses movimentos acontecem ao mesmo tempo em que a companhia expande suas operações. Nascida em 2014, em Balneário Camburiú (SC), com três profissionais, hoje a EQI Investimentos conta com 1 mil funcionários, abre 4 mil contas e capta uma média de R$ 900 milhões por mês. Por conta desse ritmo, pretende contratar 1,3 mil pessoas nos próximos 18 meses.

A EQI Investimentos conta com 1 mil funcionários, abre 4 mil contas e capta uma média de R$ 900 milhões por mês

Hoje, 30% do time da EQI fica em Balneário Camburiú, 30% em Florianópolis, 30% em São Paulo e os 10% restantes espalhados pelo Brasil. “Devemos alcançar R$ 23 bilhões sob custódia até o fim do ano”, diz Custódio.

Virar corretora, diz ele, vai aumentar a capacidade de investimento da companhia porque passará de uma margem de 15% para 32%. Além disso, poderá criar uma experiência própria para os seus clientes.

“Tanto quando estávamos na XP e agora no BTG, a gente não conseguia mexer na experiência do cliente porque o sistema era deles”, afirma Custódio. Agora, a empresa já está desenvolvendo um app próprio que deverá ser lançado no primeiro trimestre do ano que vem.

“Estamos construindo um ecossistema inteiro. Estamos deixando de ser um agente autônomo para ser uma corretora para criar a nossa jornada. A gente não será obrigado a ter a jornada do parceiro”, diz Custódio. Alonso, da Monett, complementa. “Nesse contexto, ajudamos bastante, como uma peça importante nesse ecossistema.”