A expectativa com a ata do Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fed) travou os mercados mundo afora nesta quarta-feira, 17 de agosto. O documento não trouxe o alívio desejado, sinalizando desaceleração do ritmo de alta do juro nos Estados Unidos. Mas também não cravou que vem por aí mais um ajuste agressivo – o terceiro – de 0,75 ponto percentual.

Após a publicação do documento do banco central americano, os principais índices desaceleraram a trajetória de queda nas bolsas de valores do país – movimento que prevaleceu ao longo de toda a sessão.

O Fed volta a discutir a política monetária em 20 e 21 de setembro, e a ata deixou em aberto o ajuste que virá. Como o documento refere-se à reunião de 27 de julho, quando a taxa foi elevada em 0,75 ponto para 2,25% a 2,50%, os integrantes do comitê concordaram que o juro deveria seguir para um patamar restritivo para combater a inflação.

Desde o início do aperto monetário americano, em março, o Fed já elevou o juro em 225 pontos percentuais e, como sinalizou seu presidente Jerome Powell, o intervalo atual da taxa nominal está em nível neutro.

Sobre o futuro, a ata recorreu à clássica explicação dos bancos centrais: os indicadores econômicos serão monitorados para orientar a próxima decisão.

Não dá para dizer que esse posicionamento surpreendeu. Na manhã desta quarta-feira, o mercado futuro de juros nos EUA estava dividido: apontava 49,5% de probabilidade de o Fed aumentar sua taxa em mais 0,50 ponto percentual em setembro, e 50,5% em 0,75 ponto.

Essa divisão do mercado é coerente, inclusive, com o desempenho de indicadores recentes da economia, que são mistos.

Desde o fim de julho foram anunciados: retração do PIB no segundo trimestre; inflação ao consumidor em julho desacelerando de 9,1% para 8,5% em base anualizada; dados do mercado de trabalho com forte criação de vagas; produção industrial, também de julho, o dobro do esperado por analistas; queda nas construções de moradias superior a 9%; e vendas no varejo estagnadas.

Até por esse conjunto de dados sem tendência única de desaquecimento ou impulso persistente da atividade, os mercados devem voltar sua atenção – a partir de agora – para o simpósio de Jackson Hole, evento anual organizado pelo Fed de Kansas City, desde 1978, e que reúne dezenas de banqueiros centrais, ministros de finanças e acadêmicos do mundo inteiro para discutir política econômica.

O simpósio acontece no fim da semana que vem, entre os dias 25 e 27 de agosto, portanto, semanas antes da próxima decisão a ser tomada pelo Fed. Powell fará a abertura, que é considerada um sinalizador sobre as perspectivas da política monetária global.

Há um ano, em Jackson Hole, Powell acenou com a retirada de estímulos monetários à economia como consequência da redução do balanço do Fed.

Esse balanço é estimado em cerca de US$ 8 trilhões e cresceu nos últimos anos em função das compras de títulos do Tesouro americano e de títulos hipotecários pelo Fed que, em contrapartida, injetaram trilhões de dólares na economia.

Dólares que ajudaram a alavancar a demanda em meio a uma crise de oferta devido, entre outros fatores, à guerra na Ucrânia e à interrupção de cadeias produtivas por escassez de suprimentos

O enxugamento do balanço do Fed teve início em junho desse ano e o mercado segue atento à movimentação e sinalizações da instituição porque, ao deixar de comprar títulos mensalmente em mercado, como programado, o BC americano promove um aperto de liquidez que tem efeito equivalente a um aumento de taxa de juro.

Persiste, portanto, a expectativa de que o custo do dinheiro continuará subindo nos EUA e isso vale também para outras economias. Em relatório distribuído nesta quarta-feira, o Bank of America (BofA) afirma que, apesar do aperto da política monetária por todos os bancos centrais do G10 e do Banco do Japão, os juros reais continuam “profundamente negativos” nas maiores economias.

O BofA comenta que vários bancos centrais têm duplo mandato e podem não subir os juros o suficiente [para combater a inflação] se tiverem que lidar com a perspectiva de recessão.

Entretanto, como as previsões de crescimento econômico não estão correlacionadas com os juros reais, o BofA avalia que os BCs poderão ter que elevar ainda mais suas taxas além do que espera o mercado. E devem mantê-las elevadas por mais tempo.

O BofA lembra também que o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra são os que praticam atualmente as taxas reais mais negativas e, portanto, podem ser forçados a apertar ainda mais a política monetária.

Nada indica que o Banco da Inglaterra terá algum refresco na condução de sua política de juros, uma vez que a inflação divulgada nesta quarta-feira atingiu um marco histórico. O índice de preços ao consumidor britânico avançou 0,6% em julho e atingiu, em base anualizada, 10,1%. É a primeira vez que a taxa alcança dois dígitos desde 1982.