Na terça-feira, dia 28 de setembro, as ações do Banco Inter caíram mais de 11% com rumores de que o banco não estaria devidamente preparado para um possível aumento dos calotes, com níveis baixos de provisionamento e cobertura para devedores duvidosos.

Ainda que a empresa tenha negado, no mesmo dia, que houvesse qualquer fundamento para esse tipo de preocupação, o derretimento seguiu. De terça até quinta-feira, dia 30, o recuo acumulado é de 18%. Com isso, a unit do Inter encerrou setembro como o papel que mais se desvalorizou no período, com tombo de 31,18%, segundo levantamento do buscador de investimentos Yubb.

Para os analistas do Itaú BBA, porém, a história tem muito mais de ficção do que realidade e representa um bom momento para que investidores comprem as ações do banco a preços mais baixos e com alto potencial de valorização.

“Os índices de cobertura do banco estão bons e sua qualidade de crédito está se comportando conforme o esperado”, escrevem os analistas Pedro Leduc, Mateus Raffaelli, Marco Calvi, Vinicius Figueiredo e Karoline Correia, em relatório obtido em primeira mão pelo NeoFeed.

“Continuamos confiantes nas tendências de crédito do Inter e em nossas estimativas, que, como acontece com todos os bancos que cobrimos, incluem taxas de inadimplência mais altas e despesas de provisões para 2022”, acrescentam os analistas.

O Itaú BBA estima um preço-alvo de R$ 83 para as units do Inter, um potencial de valorização de 77% em relação ao fechamento do pregão de quinta, quando o papel encerrou o dia cotado a R$ 46,65.

No relatório, o banco de atacado do Itaú se propôs a fazer uma radiografia do crédito do Inter. Os analistas reconhecem que um índice de cobertura de cerca de 90% pode parecer baixo se comparado ao setor, que conta com resultados acima de 200%. No entanto, uma análise fragmentada da carteira mostra outro cenário.

“Grande parte (do índice de cobertura do Inter) se deve a uma taxa de 45% para a carteira de imóveis, um nível adequado, dado que o banco está totalmente garantido por um ativo imobiliário”, escrevem os analistas. Segundo eles, toda a parte garantida do banco, que inclui o crédito consignado, representa 53% da carteira total.

“E as taxas de cobertura para as linhas não garantidas são superiores a 1000% para empresas (onde a inadimplência é próxima de 0%) e 120% para cartões de crédito”, afirmam os analistas, que estimam que 15% dos 12 milhões de clientes do Inter têm cartão de crédito, enquanto, na indústria, a média é de 50%.

Em entrevista ao NeoFeed, o analista Pedro Leduc ressaltou que o Inter se mostra um banco "extremamente cauteloso" no negócio de cartão de crédito e que a instituição deve passar bem pela esperada alta da inadimplência para o mercado como um todo em 2022, em meio a um cenário de juros e inflação mais altos.

“Os próximo um a dois anos serão uma boa prova de fogo para os bancos digitais, uma vez que são histórias recentes que não passaram por ciclos de juros altos”, afirma. “Mas o Inter tem uma base de depósitos muito forte, o que diminui a pressão de custo de captação”.

Na visão do Itaú BBA, os rumores sobre o Inter acabaram ganhando força porque o mercado anda com baixo apetite para ações ligadas a histórias de crescimento. Em um cenário mais turbulento, a preferência tem sido por papéis menos voláteis e com maior geração de caixa próprio.

Além disso, afirma Leduc, o recente caso da Stone, que suspendeu a operação de crédito após ter tido problemas com maior inadimplência no novo sistema de recebíveis do Banco Central (BC), ajudou a alimentar o temor do mercado com o Inter, uma vez que a Stone se tornou acionista do banco em junho. “Não há, no Inter, nenhum tipo de risco relacionado ao crédito originado pela Stone”, diz o analista.

No segundo trimestre, o Inter registrou lucro líquido de R$ 18,2 milhões, quase sete vezes os R$ 2,7 milhões anotados em igual período do ano passado. A companhia é avaliada em R$ 42 bilhões. Nesta sexta-feira, dia 1, as units do Inter subiam 6,28%, por volta das 14h30, para R$ 49,50.