Fundado em 2019, a Guru nasceu com a proposta de ser uma espécie de versão brasileira do Robinhood, o aplicativo americano que ganhou fama ao facilitar o acesso de milhões de usuários do varejo aos investimentos em ações. E que captou US$ 2 bilhões em seu IPO, em 2021, na Nasdaq.
O aplicativo brasileiro também já atraiu investidores, ao levantar R$ 12 milhões, em julho de 2021, em um aporte seed liderado pelo multifamily office Turim. Agora, a empresa está acrescentando alguns dígitos a esse cheque, com uma extensão da rodada no valor de US$ 750 mil (cerca de R$ 4 milhões).
A nova injeção de recursos tem a participação do Picus Capital, empresa alemã de venture capital criada por Alexander Samwer, um dos fundadores da Rocket Internet; o fundo chinês MSA Capital; e o americano Quona Capital, que já investiu em nomes como Creditas, Contabilizei e Neon, entre outras startups brasileiras.
“Essa extensão veio menos pelos recursos e muito mais pelo peso desses investidores, que vão nos ajudar em uma próxima rodada, aí sim, mais parruda”, diz Felipe Catão, cofundador e CEO da Guru, ao NeoFeed. “Ao mesmo tempo, ela acelera os nossos planos.”
Um desses planos é o lançamento de uma plataforma de negociação de criptomoedas. A Guru prevê rodar um MVP (Minimum Viable Product) até o fim deste trimestre e já está fechando um acordo com um parceiro de banking as a service para os sistemas de cash in e de cash out das operações.
“Não vamos criar uma exchange. Teremos também um grande provedor de liquidez que vai nos dar os preços de compra e venda”, diz Catão. “Do nosso lado, não vamos construir o negócio do zero. Já temos a interface e o sistema de negociação, que funciona seja pra cripto, ações, laranjas ou bananas.”
Com a projeção de abrir essa opção para toda a sua base no fim deste semestre, a Guru irá trabalhar, nessa largada, apenas com Bitcoin e Ethereum. A ideia é não cobrar taxas de corretagem e estipular, a princípio, R$ 10 como investimento mínimo.
“Cerca de 20% dos nossos clientes já têm investimentos em criptomoedas”, ressalta Catão. “E boa parte dos 80% restantes já está olhando para esses ativos.”
A Guru não é a única disposta a testar o apetite de investidores iniciantes por criptomoedas, a partir da crença de que esse perfil talvez encontre mais dificuldades para ingressar nesse mundo por meio de plataformas já estabelecidas, como Mercado Bitcoin e Bitso.
Em dezembro, o Mercado Pago escolheu o Brasil para lançar sua plataforma de criptoativos. Outro nome apostando nessa pegada é a Coins, carteira digital da Finchain, holding de negócios de blockchain. Em setembro de 2021, o BTG Pactual também anunciou sua plataforma própria, batizada de Mynt.
Outra novidade da Guru é uma parceria que acaba de ser firmada com a britânica Refinitiv para a oferta de dados de consenso de mercado, em tempo real, a partir de análises de bancos como Morgan Stanley, Credit Suisse e BTG Pactual.
“A grande dor desse investidor iniciante é saber qual ação comprar, quando comprar e quando vender”, diz Catão. “Como não somos uma casa de análises e não podemos dar recomendações, esse acordo com a Refinitiv é uma forma de dar um norte para esse usuário tomar essas decisões.”
O acordo integra a estratégia da Guru de começar a oferecer funcionalidades mais sofisticadas e cobrar por isso. Nesse caso, o valor da assinatura mensal será de R$ 9,90.
A parceria e a plataforma de criptoativos são algumas das cartas na manga da startup para consolidar uma plataforma intuitiva, simples e que mostre a esses “novatos” que investir não é um bicho de sete cabeças.
Essa trajetória teve início com o lançamento, em 2020, de um aplicativo com cotações, notícias e outros conteúdos de investimentos, que hoje tem mais de 300 mil usuários. Em paralelo, a empresa preparou sua plataforma de investimentos, com o apoio das licenças e da infraestrutura de broker as a service da Ideal, corretora digital que teve seu controle acionário comprado nesta semana pelo Itaú Unibanco.
Agora, o foco da Guru é escalar essa plataforma, que foi lançada oficialmente em julho de 2021 e permite, além de comprar e vender ações, investir em fundos imobiliários, BDRs e ETFs da B3. Hoje, são 5 mil contas, sendo 2,5 mil já ativas.
Nessa base, 80% dos usuários têm menos de 35 anos, 75% são homens e estão distribuídos em todo o País, com 70% dos portfólios abaixo de R$ 20 mil. “Queremos fechar o ano com 50 mil contas ativas”, afirma Catão.
Como próximos passos nesse percurso, a Guru planeja entrar com um pedido de licença junto ao Banco Central para atuar como uma corretora digital. E já projeta a captação de um aporte Série A.
“A ideia é começar esse processo a partir do segundo semestre”, diz Catão. “Temos recursos para tocar a operação nos próximos 18 meses, mas queremos aproveitar a janela de liquidez no mercado.”