Poucas coisas são tão marcantes para os fãs de tecnologia como aquela música curta (tan-tan-tan-tã) que lembra a marca da fabricante de chips americana Intel em comerciais de tevê. Seu slogan, "Intel Inside", que indica que o computador tem seu microprocessador, também fez história.

Mas, nos últimos tempos, a Intel não tem muito a celebrar. No fim de junho, a Apple confirmou que não vai mais usar os chips da companhia em seus computadores. Isso pode custar até US$ 2,3 bilhões por ano aos seus cofres, segundo estimativa do analista Timothy Arcuri, do banco UBS.

Agora, a Intel assumiu publicamente que vai atrasar o seu tão esperado chip de 7 nanômetros. Ele estava previsto para chegar ao mercado neste fim de ano. A nova data é o fim de 2022 ou começo de 2023.

A revelação foi feita no último relatório financeiro da companhia, referente ao segundo trimestre de 2020, e acabou eclipsando até as boas notícias, como a receita de US$ 19,7 bilhões, resultado 20% maior do que o registrado no mesmo período de 2019.

No mercado, a reação não foi nada boa. As ações da Intel despencaram 16,24% na Nasdaq, um tombo que levou US$ 41,5 bilhões do valor de mercado da companhia, que fechou avaliada em US$ 214,2 bilhões.

"Depois do lançamento desastroso do processador 10 nanômetros, a Intel agora confirma que está um ano atrasada no cronograma do 7 nanômetros. A empresa tem tão pouca confiança em sua própria fábrica que está cogitando fazer seu próximo GPU (unidade de processamento gráfico) na TSMC", escreveu o o analista da agência de investimentos ARK Invest, James Wang, em seu Twitter. "Imagine a Tesla pedindo para a GM fabricar seus carros. É o que diz o relatório da Intel hoje."

O atraso de seu chip de 7 nanômetros pode prejudicar ainda mais a posição competitiva da Intel. A Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC), que produz chips para a AMD e para uma grande quantidade de outras empresas que competem com a Intel, deverá ter processadores com transistores ainda menores e mais eficientes quando a Intel lançar seus chips.

Nesta sexta-feira, 24 de julho, as ações da TSMC avançaram quase 10% por conta da notícia do atraso dos chips da Intel e sobre a possibilidade de a companhia contratá-la para a fabricação de seus processadores. Os papéis da AMD também aumentaram quase 10%.

A Intel ainda detém a hegemonia dos chips para computadores pessoais. Mas ela vem perdendo terreno. A AMD, por exemplo, viu sua participação de mercado subir para 17% no primeiro trimestre de 2020, mais do que dobrando em relação a cinco anos atrás, segundo a Mercury Research. A Intel detém quase toda a participação de mercado restante.

Se a Intel ainda reina na computação pessoal, ela não pode dizer o mesmo em outras áreas. Em especial em processadores para smartphone, onde ela perdeu espaço para outros concorrentes.

A Intel negligenciou a arquitetura ARM, adotada por empresas como a Qualcomm e que até hoje equipam os iPhones, da Apple.

Quando a Intel lançou sua ofensiva nessa área, o chip Atom, em 2008, já era tarde demais. A companhia encerrou as atividades da divisão de celulares em 2016 e alguns analistas calculam perdas da ordem de US$ 10 bilhões.

Em 2019, a empresa cancelou outro serviço – o do chip 5G. O anúncio dessa "desistência" foi feito em abril de 2019, no mesmo dia em que a Apple e Qualcomm encerraram uma batalha judicial de anos.

As gigantes disputavam nos tribunais direitos e cobranças de algumas patentes essenciais ao mercado de smartphone, mas um acordo entre as companhias pôs um fim nessa briga. Com isso, a Qualcomm voltou a ser a fornecedora da Apple.

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