Em agosto de 2021, quando captou R$ 580 milhões em uma rodada liderada pelo Softbank, a Omie, startup de sistemas de gestão na nuvem para pequenas e médias empresas, acionou sua máquina de M&As. De lá para cá, foram cinco acordos, o mais recente, no início deste mês, a compra da Ergoncredit.

Nesse pacote, o maior cheque, de R$ 120 milhões, foi assinado em dezembro, na compra do Linker, banco digital focado também em PMEs. Turbinado pelo apetite do novo “dono”, o neobank acelerou seus planos e projetos, ao ampliar sua equipe de 60 para 100 pessoas, distribuídas em 6 squads.

Seis meses depois de ajustar as engrenagens, o Linker começa a mostrar os primeiros frutos dessa associação. Além de novos serviços e de um primeiro passo na arena do Open Finance, a maior novidade é o lançamento do modelo de acesso aos seus produtos e serviços via planos de assinatura.

“Eu e o Marcelo (Lombardo, fundador e CEO da Omie) estamos na mesma página. A ideia é unir o crescimento exponencial dos serviços financeiros com a qualidade e a recorrência do software como serviço”, diz David Mourão, cofundador e CEO do Linker, ao NeoFeed.

“Não estamos inventando a roda, mas somos os primeiros a fazer isso no Brasil”, acrescenta ele, que cita como referências internacionais nessa abordagem uma relação de bancos digitais que inclui nomes como os britânicos Revolut e Tide, o alemão Penta e o francês Qonto.

Na versão “tropical” desse formato e dentro de um recorte de companhias com faturamento anual de até R$ 10 milhões, o Linker vai oferecer três planos à sua base de clientes, formada, atualmente, por cerca de 40 mil CNPJs, entre profissionais autônomos, micro, pequenas e médias empresas.

Mais voltada a negócios em estágio inicial e a quem está disposto a testar a plataforma, a primeira opção não envolve mensalidade. Na prática, é a oferta tradicional da companhia, rebatizada como Go, e que dá acesso a cartões sem anuidade e a emissões de boleto e Pix gratuitos. Nas demais transações, o cliente paga conforme o uso.

Com o valor mensal de R$ 34,90 e mais centrado em autônomos e microempreendedores individuais, o segundo plano leva o nome de One. Ao lado dos cartões e de todo o pacote de transações, ele inclui a emissão de notas fiscais de serviços, outra novidade que está sendo lançada pelo Linker.

Mais serviços serão incorporados, gradativamente, a essa plataforma, sem custos adicionais. Entre as ofertas que serão plugadas nesse plano está o acesso a um consultor contábil, uma espécie de “tira dúvidas”, que estará à disposição dos assinantes a partir de setembro.

A terceira opção é o plano Multi, com uma mensalidade de R$ 79,90 e foco em empresas cujas operações já têm mais fôlego e tração e que, por consequência, demandam ferramentas e uma gestão financeira mais sofisticada.

Aqui, juntamente com todas as ofertas incluídas nos outros planos, o cliente terá acesso a recursos como cartões adicionais, nos quais ele poderá estabelecer limites de gastos mensais para áreas específicas da empresa, além de criar perfis para contadores e outros usuários com diferentes níveis de acesso à conta.

Ao mesmo tempo, os assinantes do Multi também terão acesso à primeira incursão do Linker no conceito de Open Finance, por meio de uma ferramenta que irá consolidar os extratos de todas as contas bancárias mantidas pela empresa em questão, seja com o banco digital ou com outras instituições.

“Cerca de um terço da nossa base se encaixa mais no perfil do Multi, com faturamento anual acima de R$ 500 mil”, diz Mourão. Já os clientes na mira do One, que são o grosso da carteira do Linker, faturam entre R$ 100 mil e R$ 500 mil por ano.

A base atual de clientes do Linker é formada por cerca de 40 mil empresas

Para marcar o lançamento desses planos, o Linker vai oferecer 60 dias de acesso gratuito ao Multi a todos os CNPJs que integram a sua carteira. Mourão reconhece que há um desafio em convencer muitos desses clientes a migrar para o novo formato, mas ressalta que a empresa está disposta a correr esse risco.

“Estamos no caminho de consolidar muito mais como uma plataforma de gestão financeira do que apenas transacional”, explica. “E olhando um cliente que tem outra musculatura, que precisa de outras ferramentas e até pode entender esse valor como baixo, dado que está recebendo o transacional de graça.”

Em linha com essa visão, Mourão também destaca que o modelo tradicional, baseado em muitas das ofertas gratuitas, ajuda no crescimento exponencial da operação. “Mas, no longo prazo, acaba trazendo um custo que fica pesado para carregar, ainda mais quando se adiciona recursos e serviços na plataforma”, diz.

Questionado se o modelo não seria apenas uma nova roupagem para a cobrança de tarifas, assim como em muitos bancos tradicionais, ele aponta algumas diferenças: o fato de que não há limites para o volume de transações nem taxas por excedentes e, justamente, o foco na entrega de ferramentas e serviços atrelados.

Nessa última ponta, o Linker está partindo de ferramentas desenhadas pela Omie, que estão sendo desenvolvidas e adaptadas para a sua plataforma. “É como a Netflix, não vamos cobrar nada adicionalmente”, ressalta. “E os bancos não têm multicartões e ‘n’ recursos que nós entregamos. Estamos em caminhos opostos.”

Até o fim do ano, mais ofertas serão adicionadas a esse portfólio. O Linker já trabalha a quatro mãos com a Ergoncredit, também da Omie, para estruturar sua entrada no segmento de crédito. Essa estreia se dará, a princípio, pelas modalidades de empréstimos para capital de giro e antecipação de recebíveis. “Devemos começar devagar, com funding próprio, para depois ir a mercado captar recursos para financiar essas operações”, diz.

Outro lançamento previsto é a máquina de cartões do Linker, por meio de uma solução white label. “Além de nos dar mais alcance e de ser uma nova linha receita, há um racional de fidelização”, ressalta. “Hoje, muitos dos nossos clientes usam máquinas de terceiros e acabam ficando praticamente inativos na nossa base.”

Mourão prefere não estabelecer uma meta para o número de clientes que o Linker estima alcançar com o novo modelo. Mas revela que, em três anos, a empresa projeta acumular uma receita de cerca de R$ 200 milhões. Sem incluir, nessa conta, frentes como o crédito, a máquina de pagamentos e outros projetos em desenvolvimento na operação.

Nesse caminho, não faltam concorrentes para rivalizar com a empresa na disputa pela atenção e pelas contas das PMEs. Esse universo inclui desde players financeiros como BTG Pactual, Original, Inter, C6 e Itaú Unibanco até operações que transitam na convergência entre sistemas de gestão e finanças, em um modelo similar ao da Omie, como a Stone e a Totvs.

Há espaço, inclusive, para associações nessa corrida. Em abril deste ano, por exemplo, a Totvs e o Itaú Unibanco anunciaram a criação de uma joint venture para explorar essas ofertas. Antes, o banco também já havia costurado uma parceria com a própria Omie, dentro da plataforma Itaú Meu Negócio, lançada em junho de 2021 e centrada, justamente, em PMEs.