Aos 84 anos, Mark Mobius ostenta o status de lenda entre os investidores, especialmente quando o tema em pauta são os mercados emergentes. Há mais de 40 anos, esse é o foco não apenas dos investimentos do americano, mas também de seus livros, palestras e entrevistas.

Com longa passagem pela Franklin Templeton e hoje à frente da Mobius Capital Partners, empresa que ele fundou em 2018 e que tem como prioridade os países em desenvolvimento, o investidor voltou a falar sobre o assunto e aposta suas fichas no Brasil.

“O Brasil é o lugar que estamos focando”, afirmou Mobius à revista americana Barron’s. Ele destacou alguns dos investimentos da gestora na região. “Nós temos a varejista Lojas Americanas, que tem um parceiro digital, a B2W, que é o equivalente à Amazon”, afirmou.

Ele ressaltou ainda a Totvs e o Grupo Fleury. “Com os lockdowns, o diagnóstico a distância está se destacando”, disse. “Assim que essas empresas tiverem seus registros, elas poderão recomendar hospitais, médicos e medicamento. É uma questão de coleta de dados, o que é muito importante.”

Fã confesso do carnaval brasileiro, que costumava visitar nos anos pré-pandemia, Mobius tem um longo histórico de relacionamento com o País. Entre os seus primeiros investimentos no mercado local figuram as ações compradas da Telebras, em 1998, no processo de privatização da companhia.

Em um contexto mais amplo, Mobius também frisou que enxerga um cenário com boas perspectivas para os mercados emergentes em 2021, o que inclui a manutenção da “grande corrida” dos investidores internacionais em ações nesses países.

“Com a idade média nesses países mais baixa do que a dos mercados desenvolvidos, a recuperação será mais rápida”, afirmou, destacando ainda o avanço da adoção da tecnologia nos países que compõem o bloco. “Isso está impulsionando muito o movimento em direção a uma melhor qualidade de ativos.”

Outra questão abordada na conversa foram as tensões entre Estados Unidos e China, e seus possíveis impactos. Nessa seara, um dos tópicos comentados por Mobius foi a ofensiva dos reguladores do mercado de capitais americano contra as empresas chinesas.

Para ele, seria muito fácil para essas companhias cumprirem os padrões de contabilidade exigidos pelas autoridades americanas. Entretanto, o fato delas se negarem a atender essas requisições seria uma questão de orgulho do governo chinês.

“E veja o movimento dessas empresas na Bolsa de Valores de Nova York. Você acha que o mercado vai permitir que essas condições desapareçam? Eu duvido”, observou. “São necessários dois atores para dançar o tango: as autoridades dos Estados Unidos provavelmente irão ceder e os chineses ajustarão sua contabilidade com o tempo.”

Com seus investimentos cada vez mais orientados sob os preceitos da governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês), Mobius também falou sobre esse tema, tendo como ponto de partida os investimentos na China.

“Não olhamos para o nível macro nesse sentido”, afirmou. “Olhamos para cada empresa para determinar como ela está se saindo em relação às práticas de ESG. E é incrível como, desde que comecei a investir na China, vemos melhorias. O governo começou a impor certos padrões, o que é um sinal de que as políticas estão se movendo nessa direção.”

Mobius reservou tempo ainda para falar sobre a Índia, o país, entre os emergentes, que concentra a maior parte dos investimentos da Mobius Capital Partners. Nesse contexto, ele destacou empresas como a APL Apollo, que fabrica tubos de aço; a Persistent Systems, de software; e a Metropolis Healthcare, de testes médicos.

“A Índia acaba de anunciar seu orçamento e uma série de mudanças que terão um grande impacto no crescimento econômico do país”, disse. “Isso inclui a abertura do mercado de seguros para investidores estrangeiros e o aumento da privatização. É uma ótima história”, completou.

Nascido em Nova York, em 1936, Mobius tem um longo histórico de relacionamento com os mercados emergentes. Um dos principais elementos que reforçam a proximidade com o tema em sua biografia foi sua passagem de mais de 30 anos pela Franklin Templeton.

Quando chegou à gestora americana, em 1987, ele foi o responsável por desenvolver os primeiros fundos da companhia dedicados a esses países. Sob o seu comando, a empresa passou de US$ 100 milhões de ativos sob gestão, nessa frente, para US$ 50 bilhões, em cerca de 70 países, quando ele deixou a operação, em 2018.

No mesmo ano, ele fundou a Mobius Capital Partner, ao lado de Carlos von Hardenberg e de Greg Konieczny, seus pares na Franklin Templeton. Atualmente, a companhia tem cerca de US$ 220 milhões em ativos sob gestão em ativos de mercados emergentes.