Em seu primeiro passo para entrar em serviços financeiros e tentar reverter o mau humor do mercado com seus papéis, que caem mais de 60% desde o follow on em julho, a Méliuz está começando a cadastrar usuários interessados em seu cartão de crédito próprio, que será lançado em janeiro de 2022.

O cartão de crédito faz parte dos serviços financeiros que a Méliuz pretende lançar a partir de 2022 em carreira solo, sem a parceria que mantinha com o Banco Pan e que está chegando ao fim com a iniciativa própria.

A estratégia da Méliuz inclui também um “banco digital”, com uma conta digital completa com recursos como emissão de boletos, crédito, seguros, investimentos, PIX e a compra e venda de criptoativos.

“Esse é o primeiro capítulo da novela e um marco importante”, afirma Luciano Valle, diretor financeiro da Méliuz, ao NeoFeed. “É o primeiro atestado firme de que estamos seguindo a agenda prometida no IPO e no follow on.”

Os usuários que se cadastrarem para receber o cartão próprio da Méliuz com a bandeira Mastercard terão prioridade na análise do crédito. Não há garantia de que quem entrar na lista terá o cartão sem anuidade e com cashback.

O novo cartão da Méliuz poderá ser usado apenas na versão digital, se assim o consumidor quiser, e será todo administrado pelo aplicativo, que integrará as funcionalidades de shopping (a origem da Méliuz) com os serviços financeiros.

Detalhes sobre o percentual do cashback e outros recursos ainda estão guardados a sete chaves para o lançamento, assim como a meta de quantos usuários a Méliuz pretende conquistar neste primeiro momento.

Valle, no entanto, diz que a Méliuz começará devagar e que deve ser conservadora na conquista de clientes. “Não vamos acelerar demais e estamos cuidadosos de quanto queremos crescer para colocar um produto sustentável de longo prazo no mercado”, diz o diretor financeiro da Méliuz.

O funding para o crédito virá de uma parceria com a Captalys, através da estruturação de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) exclusivo. A Captalys fornecerá mais de 70% dos recursos. A Méliuz pouco mais de 20%.

A Méliuz já contava com uma parceria antiga com o Banco Pan, que anunciou a compra da Mosaico, dono dos sites Buscapé, Zoom e Bondfaro, em outubro deste ano. O rival terá também seu próprio cartão de crédito com cashback e garantia de menor preço em compras online de parceiros de seu marketplace.

No terceiro trimestre de 2021, a Méliuz divulgou que recebeu 1 milhão de solicitações do cartão co-branded com o Banco Pan, uma desaceleração que vem ocorrendo desde abril, quando a companhia parou de investir em marketing, preparando-se para ter sua própria operação financeira.

No total, o cartão com o Banco Pan já recebeu 7 milhões de solicitações e atingiu R$ 914 milhões de Volume Total de Pagamentos (TPV) no terceiro trimestre deste ano, um crescimento de 20% quando comparado ao trimestre anterior. Nos últimos 12 meses, o TPV foi de R$ 2,8 bilhões.

Não haverá mudanças para os clientes da Méliuz que usam o cartão co-branded. Valle diz que “respeita a escolha do consumidor, mas que o novo produto vai ser mais atrativo que o antigo”. E  acrescenta: “Espero que ocorra uma atração mais espontânea.” Em outras palavras, a Méliuz diz que não forçará a migração, mas acredita que ela acontecerá.

Para a Méliuz, a mudança é clara, pois passará a contar com a taxa cheia de interchange do cartão, sem ter de dividi-la com o Pan. “A partir de 2022, teremos capacidade de servir nossos usuários com excelente qualidade e, ao mesmo tempo, recebermos remuneração muito superior por isso”, escreveu Israel Salmen, cofundador e CEO da Méliuz, na mensagem aos acionistas, comentando o desempenho do terceiro trimestre, divulgado na terça-feira, 16 de novembro.

O início do cadastramento dos interessados a receber o cartão de crédito da Méliuz acontece um dia depois de a companhia divulgar seus dados do terceiro trimestre, com mais um prejuízo e Ebitda negativo.

Nos meses de julho, agosto e setembro, a Méliuz registrou prejuízo líquido consolidado de R$ 2,95 milhões, revertendo lucro de R$ 4,73 milhões no mesmo período do ano passado. No trimestre anterior, as perdas somaram R$ 6,69 milhões. O Ebitda, no terceiro trimestre, foi negativo em R$ 9 milhões.

O número de contas chegou a 20,8 milhões, um crescimento de 2 milhões, o que significa uma abertura média de 30 mil contas por dia útil. Os usuários ativos atingiram a 9,5 milhões, alta de 8% na comparação com o trimestre anterior.

“O resultado está em linha com o que estava planejado”, diz Valle. “Agora, o esforço é para crescer o time, desenvolver novas funcionalidades e reforçar a capacidade operacional para colher frutos nos próximos trimestres.”

A companhia aumentou os gastos de marketing e também com o pessoal. Na época do IPO, em novembro do ano passado, a Méliuz contava com 142 funcionários. Agora, são 838. Boa parte deles é fruto das cinco aquisições realizadas desde a abertura de capital, como a Picodi, Acesso Bank (que ainda precisa ser aprovada pelo Banco Central), Promobit, Melhor Plano e Alter.

De acordo com Valle, a Méliuz ainda conta com R$ 550 milhões em caixa, recursos advindos do IPO e do follow on, que ainda não foram gastos. Apesar da queda recente dos papéis, as ações da Méliuz acumulam alta de 114% desde a abertura de capital. A companhia vale R$ 2,8 bilhões.