O mercado de criptomoedas no Brasil, ainda dominado por plataformas especializadas de negociação, geralmente usadas por investidores mais experientes, está cada vez mais despertando o interesse de instituições financeiras voltadas para o público geral, sejam bancos tradicionais, bancos digitais ou fintechs.
Após o BTG Pactual se tornar o primeiro banco brasileiro a criar a própria plataforma de negociação, com o anúncio da Mynt em agosto, o Mercado Pago será a primeira instituição de pagamentos em larga escala do País a possibilitar que os usuários comprem e vendam criptomoedas dentro do aplicativo.
Em anúncio feito nesta quinta-feira, dia 2 de dezembro, a fintech de pagamentos do Mercado Livre informou que o serviço estará disponível, a partir deste mês, apenas para os clientes ativos do Brasil, que somam cerca de 20 milhões. Por enquanto, não há previsão para os demais mercados da América Latina.
"O Brasil é o mercado mais relevante para o Mercado Pago hoje e é o mercado com o ambiente fintech mais sofisticado da região", afirma o CEO da instituição, Osvaldo Gimenez, para justificar a escolha do país para a estreia, em apresentação.
O produto será viabilizado por meio de uma parceria com a Paxos, exchange americana que será a a estrutura de custódia das operações. A princípio, haverá a oferta de três criptomoedas, entre elas as duas mais populares, bitcoin e ethereum, e a USDP, uma stablecoin que replica a cotação do dólar e é emitida pela Paxos.
No aplicativo, o usuário poderá apenas comprar, vender e manter as criptomoedas em sua carteira. Em cada transação, a conversão será feita para reais. O mínimo a ser investido é R$ 1. O Mercado Pago cobrará uma taxa de 2% em cada operação.
Por enquanto, não será possível usar o saldo em criptomoedas para fazer compras no Mercado Livre nem transferir os recursos para outras plataformas. Se quiser fazer compras, por exemplo, o usuário terá, antes, de converter o saldo para reais.
"Mas, no futuro, com certeza vamos fazer a integração para que o usuário possa fazer compras e também transferir para outras instituições", promete Gimenez.
A ideia do Mercado Pago é atingir um público iniciante, que ainda está dando os primeiros passos para conhecer o mundo das criptomoedas e quer ter a opção de começar investindo com pouco.
“O Mercado Pago já é uma porta de entrada para milhões de brasileiros que acessam o sistema financeiro”, disse o vice-presidente da instituição, responsável pela operação no Brasil, Túlio Oliveira.
O movimento da fintech representa mais uma tentativa do setor financeiro de surfar um mercado que está cada vez mais popular no País, na esteira do maior interesse dos brasileiros por investimentos alternativos.
Em setembro, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou à Associação Brasileira de Criptomoedas (Abcripto) que, até então, cerca de R$ 25 bilhões haviam saído das instituições bancárias para as plataformas de criptomoedas em 2021.
No início de outubro, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, afirmou que os brasileiros acumulavam, à época, US$ 12 bilhões em investimentos em criptoativos, não muito distante do patamar de aplicações em ações americanas, de US$ 16 bilhões.
Ao permitir que os usuários do Mercado Pago façam as transações no próprio aplicativo, a fintech aposta em uma experiência simples, com o ambiente amigável de uma carteira digital, menos complexa que a de uma exchange.
Esse é o mesmo propósito da Coins, carteira digital da Finchain, uma holding de negócios relacionados a blockchain. Com sete criptomoedas à disposição no aplicativo e 25 mil clientes, a Coins quer chegar aos investidores que nunca operaram ativos digitais, mas que estão curiosos para explorar o mercado.
Embora funcionem como carteiras digitais e estejam de olho em um investidor iniciante, o Mercado Pago e a Coins também estarão competindo com plataformas já estabelecidas, como Mercado Bitcoin, Bitso, Foxbit e BlueBit.
No Mercado Pago, as criptomoedas serão a segunda alternativa de investimento disponível no aplicativo. Até então, os usuários só contavam com o saldo remunerado na carteira. A empresa ainda não tem uma expectativa de adesão pelos usuários.
No terceiro trimestre, o Mercado Pago, em toda a América Latina, registrou US$ 20,9 bilhões em volume transacionado, alta de 59% em relação a igual período do ano passado.
O Mercado Livre, por sua vez, teve uma receita líquida de US$ 1,9 bilhão no período entre julho e setembro, expansão de 72,9% em comparação a igual intervalo de 2020. A empresa argentina, avaliada em US$ 56 bilhões e negociada em Nasdaq, teve lucro líquido de US$ 95,2 milhões no terceiro trimestre, seis vezes mais que um ano antes.