"Ainda que eu seja a primeira mulher nesta posição, eu não serei a última", a frase mais impactante do primeiro discurso da vice-presidente eleita Kamala Harris depois das eleições está ecoando em Wall Street.

Adena Friedman, primeira mulher a comandar uma bolsa global, no caso a Nasdaq, quer reproduzir o conceito não com palavras, mas com ações.  

Sob seu comando, a bolsa mais "tecnológica" dos Estados Unidos encaminhou uma proposta ao Securities and Exchange Commission (SEC), órgão equivalente à Comissão de Valores Imobiliários no Brasil, que pode deslistar as empresas que não tenham pelo menos uma mulher e um representante de um grupo minoritário em seus conselhos.

Caso seja aprovada, a medida pode impactar as 3.249 companhias negociadas na bolsa. Uma a cada três delas não atendem aos requisitos propostos.

Por grupos minoritários, a Nasdaq explica que são aqueles que abrangem, além da população LGBTQI+, "indivíduos que se definem como uma ou mais das seguintes características: negro ou afro-americano, hispânico, latino, asiático, nativo americano, nativo alasquiano, nativo havaiano ou duas ou mais raças ou etnias". 

Isso significa que, para continuar com sua operação na bolsa, uma empresa teria de ter, por exemplo, uma mulher e um negro no seu conselho de administração. Caso não consigam cumprir essa decisão, as companhias podem seguir negociando suas ações na Nasdaq mediante uma explicação pública de seu conselho homogêneo. 

"Não estamos tentando dizer que essa é a composição ideal de um conselho, mas é o nível mínimo de diversidade que entendemos que todo conselho deve ter", disse Friedman ao jornal The New York Times, que primeiro publicou a informação. 

O pedido de autorização para cobrar esse requisito foi encaminhado ao SEC nesta terça-feira, 1 de dezembro, e a expectativa é que a proposta seja revisada nas próximas semanas. 

Uma vez aprovada pelas autoridades, a Nasdaq vai estabelecer o prazo de um ano para que as empresas listadas informem a demografia de seus conselhos, e um prazo de dois anos para que apliquem essa diversidade mínima exigida. Grandes companhias terão de ter pelo menos um representante de cada grupo minoritário em até quatro anos.

Embora reconheça que a medida seja "incomum", uma vez que as bolsas de valores nunca exigiram ou impuseram uma regra que não fosse prevista por lei, Friedman explica que a medida veio depois de um relatório estruturado pela Nasdaq nos últimos seis meses. O documento mostra que mais de 75% das empresas listadas na bolsa não têm conselhos diversos.

"A diversidade no conselho é um elemento importante para inspirar a confiança do investidor no futuro sustentável da companhia", explicou Friedman, citando ainda outra pesquisa feita pela Nasdaq para mostrar que empresas com diversidade têm relatórios financeiros mais qualitativos e enfrentam menos problemas com auditores.  

Além disso, a mudança proposta por Friedman e pela Nasdaq vem amparada por uma série de compromissos de natureza parecida. O Goldman Sachs, por exemplo, anunciou que apenas auxiliaria o IPO de empresas que tenham pelo menos um representante de um grupo minoritário em seu conselho.

A Califórnia aprovou também um projeto de lei que estabelece que todas as empresas com sede ali tenham um número mínimo de pessoas de grupos minoritários em posição de liderança. Isso sem falar nos fundos de investimentos e investidores privados que têm aplicado o ESG (Environmental, social and corporate governance) em suas escolhas e investimentos. 

Com esse novo passo dado pela Nasdaq, Friedman pode abrir precedentes para o poder das bolsas de valores de exigir certas cláusulas e apoiar causas relevantes, como a mudança climática. 

Os méritos da executiva, no entanto, não se resumem às suas ações sociais. Quando assumiu a Nasdaq, 75% da receita da casa vinha das negociações e das aberturas de capitais. Hoje essas atividades respondem por apenas 25% da receita da bolsa, enquanto outros 75% vêm de outros serviços, como pesquisas e análises de dados – duas oportunidades identificadas por Friedman.

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