O governo chinês, que fechou o cerco às empresas de tecnologia e internet do país, agora elegeu um novo alvo: as celebridades e seus fãs.

Em um ataque à indústria de entretenimento, o governo chinês proibiu as celebridades de “exibir riqueza” ou “prazer extravagante” nas redes sociais.

As medidas atingem também os fãs clubes das celebridades, que devem seguir “a ordem pública e os bons costumes, aderir à orientação correta da opinião pública e aos valores, promover os valores centrais socialistas e manter um estilo e gosto saudáveis".

As plataformas online estão também impedidas de promover celebridades apanhadas em comportamentos ilegais e antiéticos. As regras foram anunciadas pela Cyberspace Administration of China nesta semana.

Elas proíbem ainda as celebridades de espalhar boatos, publicar informações falsas ou privadas, fazer grupos de fãs "atacarem verbalmente uns aos outros" e encorajar os fãs a participar de "arrecadação ilegal de fundos ou investimento irracional".

Especialistas acreditam que as autoridades chinesas estão preocupadas com a capacidade de organização e ação social dos fãs.

Além disso, a Associação Chinesa de Artes Cênicas divulgou uma lista de 88 “personas non gratas”, que estariam violando os códigos morais do país e não podem aparecer em plataformas online de transmissão ao vivo, uma forma popular para os artistas chineses acessarem seus públicos.

Entre os banidos estão Kris Wu, uma ex-estrela de K-pop que foi preso em julho em Pequim sob a acusação de estupro. Wu, um ex-membro da boy band sul-coreana EXO, não foi ouvido desde então para se defender.

Outra celebridade banida foi Zhang Zhehan, um ator e cantor que teve suas contas de mídia social apagadas depois que fotos dele visitando o Santuário Yasukuni no Japão se tornaram virais. As visitas ao santuário, dedicado aos mortos de guerra do Japão, são vistas na China como um endosso aos crimes de guerra japoneses.

Guo Laoshi, uma influenciadora do Douyin, a versão chinesa do TikTok, foi também punida porque posta vídeos dela mesma rejeitando as ideias convencionais da feminilidade chinesa. Guo regularmente se filmava fazendo coisas como cheirar os próprios pés.

As duras medidas repressivas do Partido Comunista Chinês são uma defesa do conceito “prosperidade comum”, promovido pelo presidente chinês Xi Jinping.

Em agosto deste ano, Jinping pediu “prosperidade comum na busca de um desenvolvimento de alta qualidade” na reunião do Comitê Central para Assuntos Econômicos e Financeiros. O encontro observou que “prosperidade comum se refere à riqueza compartilhada por todos, tanto em termos materiais como culturais.”

Em linha com essa ideologia, a riqueza acumulada por empresas de tecnologia, empresas de educação, celebridades chinesas e outros elementos da economia e da sociedade da China exige regulamentação.

As empresas de tecnologia da China já estavam sob intenso escrutínio do governo chinês, que fechou o cerco a Alibaba, Tencent e outros gigantes de tecnologia, acusados de atitudes monopolistas.

As ações dessas companhias perderam muito valor desde então. Neste ano, os papéis do Alibaba, que vale US$ 361,5 bilhões, caem 22,9%. A ação da Tencent, dona do popular aplicativo WeChat, desvalorizou-se 22,4% em 2021. A empresa vale US$ 574,7 bilhões.

Além disso, o governo chinês está querendo ter mais controle sobre os dados das empresas. De acordo com a agência Bloomberg, os reguladores chineses querem que a Didi, dona da 99 no Brasil, apresenta um plano para deixar o mercado de ações nos Estados Unidos.

Os reguladores chineses alegam que o fato de a empresa ser listada na Bolsa de Nova York oferece risco de que dados sensíveis sejam vazados.

Outra medida que mostra o grau de controle que Pequim quer ter sobre as empresas de tecnologia chinesa foi anunciada também essa semana.

O governo chinês está exigindo que a Tencent apresente quaisquer novos aplicativos ou atualizações dos atuais para inspeções antes de serem disponibilizados ao público. O motivo? O governo considerou que vários apps da empresa violam normas do país.