É muito comum ouvir pessoas dizendo que adoram problemas. Ainda dizem que são especialistas em resolver problemas, que esta é uma das suas melhores qualidades. Toda vez que ouço isso eu faço uma cara bem séria, mas por dentro fico rindo.

Acredito que pessoas assim são muito importantes, talvez até essenciais. No Corpo de Bombeiros, por exemplo, pois é claro que apagar incêndios e salvar vidas requer alta capacidade de resolver problemas e crises. Mas na gestão de uma empresa privada, essas pessoas não deveriam ser tão valorizadas, embora muitas vezes sejam.

Muda a cena e sigo para outras conversas. Encontro pessoas que falam que seu maior diferencial é a arbitragem, que são fundamentais para os negócios. Entendendo que árbitro é aquele que decide a controvérsia, quando não há mais solução amigável, fico pensando o quão importante pode ser alguém assim nos negócios. Toda vez que ouço isso eu faço uma cara bem séria, mas por dentro eu fico sério, muito sério.

Pessoas assim realmente são fundamentais, atuando na justiça, sem dúvida. Mas não numa empresa. Não na carreira corporativa. Aí parece que temos uma distorção do objetivo da gestão.

E o filme continua. Há pessoas que falam que adoram brigas, que têm uma característica essencial na carreira e nos negócios, rodam a baiana! Atropelam, entregam objetivos a qualquer custo, missão dada, missão cumprida!

Acordam todo dia com sangue nos olhos e vão à guerra, ops, para a empresa. Toda vez que ouço isso eu faço uma cara bem risonha, mas por dentro eu fico sério, terrivelmente sério.

Para pessoas assim existem grandes oportunidades de carreira, com enormes chances de sucesso. Um exemplo ótimo é ser lutador de MMA. É lá que do choque dos meteoros nascem as estrelas. Absolutamente não se precisa de pessoas assim na gestão corporativa.

Aí aparecem profissionais que buscam evitar problemas, encaixar soluções, buscar alucinadamente o bom clima. Aqueles que tem seguidores pela causa, pelo propósito, que são honestos nas relações, às vezes até duros, mas na bola, dentro da regra do jogo.

Não apenas sabem jogar junto, bem acima disso, são pessoas que compõem e que complementam as diferenças. E toda vez que ouço pessoas assim eu faço uma cara bem risonha, mas por dentro explodo de alegria.

Esses sim são indispensáveis nas organizações. Mesmo no Corpo dos Bombeiros, na Justiça e no MMA. Imagine então na gestão, seja ela pública ou privada. No final o que importa é ter uma causa justa, ser a favor de algo nobre, não contra o mundo ou as pessoas.

Uma causa que inspire e faça as pessoas crescerem e os negócios se tornarem sustentáveis. Isso sim torna uma pessoa imprescindível e a transforma num gestor com força gravitacional, capaz de atrair mais e mais pessoas imprescindíveis.

Por fim uma dica pessoal. Se você quer ser mais poderoso do que um leão, mostre-se sábio. Não lute contra ele.

*Leonel Andrade é CEO da CVC Corp e foi CEO da Smiles, Credicard e Losango Financeira. Ele também é membro do Conselho de Administração da BR Distribuidora e da Lojas Marisa. Além disso, faz palestras sobre gestão de pessoas e negócios.

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