Quando a pandemia chegou, em março do ano passado, o Itaú Unibanco se preparou para o pior. Preocupado com os atrasos no pagamento de empréstimos que iriam ocorrer, renegociou R$ 53 bilhões em dívidas de clientes e adicionou mais R$ 4,2 bilhões ao caixa do banco dedicado a cobrir possíveis calotes.

De lá para cá, a crise sanitária se agravou, com a segunda onda do covid-19 no início de 2021, mas o Itaú se surpreendeu com a resiliência da economia. O resultado? O banco não usou e nem acredita que vai usar todos os recursos que separou para se proteger dos calotes.

E já voltou a ganhar mais dinheiro. De abril a junho, a margem do banco com produtos financeiros alcançou R$ 16,8 bilhões, alta de 3,9% em relação ao trimestre anterior. É a primeira vez que o indicador sobe desde o início da pandemia, após cair nos três últimos trimestres de 2020 e ficar estável nos primeiros três meses de 2021.

“Vimos um sinal bastante positivo da atividade econômica, com indicadores bem resilientes, algumas carteiras performando muito bem e um custo de crédito bem confortável, abaixo do que vimos no pré-crise”, disse o CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, em entrevista a jornalistas, na manhã desta terça-feira, dia 3 de agosto.

O aumento da Selic em 2021, que saiu de 2% ao ano para 4,25%, tem também ajudado a margem, admite Maluhy Filho, mas ainda pouco. “Dos R$ 650 milhões que crescemos em margem, só cerca de R$ 50 milhões se devem à alta da taxa de juros”, diz.

Segundo o CEO do Itaú, a carteira de créditos flexibilizados também está menor, o que reduz os efeitos negativos sobre os números do banco. Dos R$ 53 bilhões renegociados desde o início da crise, R$ 13 bilhões já foram amortizados. O índice de inadimplência do banco, que está em 3,6%, cairia para 2,8% se não fossem as renegociações. “É um nível muito melhor do que a gente imaginava”, afirmou o executivo.

De qualquer forma, o banco espera que haja um ligeiro aumento nos atrasos para os empréstimos renegociados no segundo semestre, em razão da perspectiva de retirada do auxílio emergencial por parte do governo, mas ainda em níveis controlados. “Fizemos o aumento das provisões para a covid-19 no ano passado e não imaginamos consumi-la no curto prazo”, disse.

Com uma visão mais otimista, o banco decidiu revisar para cima as suas projeções para a carteira de crédito em 2021. Antes, esperava uma expansão de 8,5% a 12,5% no Brasil. Agora, projeta aumento de 12,5% para 15,5%. No encerramento do semestre, a carteira do banco ficou em R$ 909,1 bilhões, saldo 0,3% superior ao do fim do primeiro trimestre e 12% acima do nível de um ano antes.

De acordo com a instituição, a aceleração é puxada especialmente pelos empréstimos concedidos com garantia, como veículos, imóveis e crédito consignado - que contam com menor risco. Também tem havido um impulso do crédito para pequenas e médias empresas, disse Maluhy Filho.

“Basicamente, o mais importante é que estamos observando uma desaceleração da pandemia para o segundo semestre, o que motiva a diferença de perspectiva para o que estamos vendo agora”, afirmou o executivo. “Mas ainda temos a variante Delta como um risco e falta vacinar um porcentual da população.”

Apesar de ter elevado a projeção para a carteira de crédito, o Itaú manteve o intervalo de estimativas para a margem financeira com os clientes em 2021, com um avanço esperado entre 3% e 7%. “Mas estamos vendo que o resultado ficará mais próximo do topo das estimativas do que estava originalmente previsto”, disse Maluhy Filho.

No segundo trimestre, o Itaú Unibanco registrou lucro líquido recorrente de R$ 6,543 bilhões, alta de 55,6% em relação a igual período do ano passado e de 2,3% em comparação aos três meses anteriores.

Enquanto as receitas com serviços alcançaram R$ 9,98 bilhões, alta de 18,9% sobre o número de igual trimestre de 2020, as despesas gerais chegaram a R$ 14,44 bilhões, avanço de 5% no mesmo tipo de comparação.