Nesta semana, o Instituto do Vinho do Douro e Porto (IVDP), que cuida da regulamentação e promoção do Vinho do Porto, autorizou as vinícolas a comercializarem o Portonic – drink à base de Vinho do Porto Branco com água tônica - na forma de coquetel pronto, em latas ou garrafas.

A medida pode ser considerada ousada, pois se trata da primeira denominação de origem no mundo, criada em 1756. E o IVDP costuma ser rigoroso quando o que está em jogo é a proteção do nome do Vinho do Porto e suas tradições.

Para efeito de comparação,  a última inovação que havia gerado polêmica nesse espaço aconteceu em 2008, com a criação do Vinho do Porto Rosé. Nos últimos cinco anos, a categoria teve, em 2018, o seu melhor desempenho, com vendas acumuladas de 862 mil litros ao exterior. O volume, porém, não chega a 1% do total das exportações do Vinho do Porto no período.

Um elemento, em particular, ajuda a explicar o novo passo. “Essa autorização visa criar novas formas de consumo que permitam conquistar relevância junto ao público jovem”, afirma Gilberto Iglesias, o atual presidente do IVDP.

Alguns números, no entanto, complementam o pano de fundo por trás da decisão. No comparativo entre 2019 e 2020, as vendas de Vinho do Porto caíram 7%, em volume, e 10%, em valor. No ano passado, o Brasil ocupou a 11ª posição no ranking dos maiores importadores.

Portugal foi o maior consumidor do Vinho do Porto no ano, com 37,3 milhões de litros. Na exportação, a França ocupou a primeira posição, com 17,6 milhões de litros, seguida por Inglaterra (10,8 milhões de litros) e Holanda (9,2 milhões de litros).

No centro da mais nova estratégia para para a recuperação das vendas, o Portonic é um coquetel que mistura o Vinho do Porto branco com água tônica, em uma proporção de 1/3 do vinho fortificado com 2/3 de água tônica. E a autorização dada pelo IVDP já está sendo acompanhada pela movimentação do setor.

Filipe Silva, gerente de exportação do grupo Symington, um dos produtores mais respeitados de Porto e proprietário de marcas como Graham’s, Dow’s e Warre’s, afirma que as bebidas alcoólicas RDT (ready to drink) representam a categoria que mais cresceu nos últimos anos entre as bebidas alcoólicas.

Segundo Silva, o Portonic em lata do grupo Symington deve ser lançado, inicialmente, com a marca Porto Cockburns.

Dados do IWSR reforçam as boas perspectivas para a categoria. Segundo o instituto britânico, o consumo de drinks RTD (ready to drink)  teve um salto global de 43% em 2020. A projeção é de que o crescimento médio nos próximos cinco anos fique na casa de 21,8%.

Outra referência entre os vinhos do Porto, a The Fladgate Partnershigp, proprietária de marcas como Taylor’s, Fonseca e Croft também está se mexendo. Segundo Fernando Seixas, gerente de exportação do grupo, a principal novidade nesse contexto é a mudança na ocasião de consumo do Vinho do Porto.

“Nosso Taylor’s Chip Dry & Tonic” chegará em lata e com teor alcoólico de 5,5%, indicando a versatilidade do drink, seja nas ocasiões de consumo ou atravessando as diversas gerações”, diz Seixas. Ele conta que a produção teve início exatamente nesta semana.

“O Brasil, ao lado de Portugal, Rússia, Canadá e Estados Unidos, será o foco principal para trabalhar nosso Portonic”, afirma. “Acredito que, em julho, as latinhas devem desembarcar no País”.

No comparativo entre 2019 e 2020, as vendas de Vinho do Porto caíram 7%, em volume, e 10%, em valor

A Taylor’s reinvidica o pioneirismo da Portonic moderno, pois o lançamento de seu porto branco Chip Dry, em 1934, uma versão mais seca de porto branco, reforçou a vocação fresca e de aperitivo do coquetel.

Além da Taylor’s e do grupo Symington, as casas Offley (Sogrape) e Quinta da Boeira já anunciaram o lançamento de seus Portonics na versão pronta para o consumo.

Vale ressaltar que o drink, por fazer menção e utilizar o Vinho do Porto, está sujeito à supervisão do IVDP. Por isso, a autorização do instituto era fundamental para produtores não caírem na ilegalidade com um produto não autorizado.

Segundo um comunicado do IVDP, o instituto será o responsável pela análise organoléptica, físico-química, de rotulagem e de embalagem dos Portonics, tal qual ocorre com o Vinho do Porto.

Também já foi determinado que a bebida deverá ser embalada dentro da região demarcada do Douro ou no entreposto de Vila Nova de Gaia.